Certa vez ministrei uma palestra em uma instituição que estudei. Ao final, quando as aulas terminaram, revi alguns professores. Foi uma boa experiência. Porém, como há sempre um porém, eu perguntei a um professor como estava a universidade e ele disse, resignado:

“- Os alunos estão cada vez piores.”

Movido por uma justa ira, algo que tanto Paulo Freire quanto Rui Barbosa dissertaram , eu falei:

- E os senhores, estão melhores? Nós, alunos e ex-alunos, somos reflexos dos professores.

A minha resposta saiu sem eu pensar. Eu não pensei se havia desrespeitado o mestre ou não, apenas me coloquei no lugar dos alunos (que um dia eu fui) e argumentei. A reação do professor foi de espanto e nobreza:

“- Você está certo. Você me pegou no contrapé.”

A fala do meu antigo professor não é um dito isolado. Reclamações acerca dos alunos são frequentes no magistério. Na verdade, como o público do professor é o aluno, soa até natural reclamações recíprocas. Em quaisquer ambientes de trabalho as reclamações são recíprocas. Vendedores reclamam dos gerentes, de outros vendedores e dos clientes e assim por diante. Todavia, quando foi a vez do meu antigo professor criticar os alunos eu entrei em choque e não sabia se eu era um professor ou um aluno diante do docente. Optei pelo lado mais fraco? Manifestei meu ressentimento? Tudo é possível, e também a justa ira que defenderam Paulo Freire e Rui Barbosa.

Paulo Freire. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2008. 

Rui Barbosa. Oração aos moços. São Paulo: Hedra, 2009.