As graduações: História, Pedagogia e Direito
Entre 2005 e 2006 eu fui seminarista católico e me apaixonei ainda mais pela filosofia. Antes desse período eu já havia lido alguns textos filosóficos, mas nada aprofundado. Foi só no seminário que conheci pessoas formadas nessa área e pude me aprofundar. Essa disciplina foi ministrada superficialmente no meu ensino médio, só uma aula por semana e somente no primeiro ano. Entretanto, o gosto pelos filósofos ficou e eu decidi que cursaria Filosofia.
Uma vez que eu estava no seminário, era certo cursar a almejada graduação, porém, em 2006 eu saí e então certas situações ficaram confusas. Como em Paranavaí não tinha Filosofia, apenas em Maringá, e não era possível eu me mudar de cidade, prestei vestibular para História, curso que era o mais próximo daquele que eu sonhava. História foi um acaso, não uma escolha premeditada. Na época, 2006, eu disse para mim mesmo: “o mestrado farei em Filosofia”.
Em 2007, quando iniciei a graduação, o primeiro ano foi interessante. Conheci pessoas de várias cidades e pude aprender um pouco do que era o ambiente acadêmico. Aprendi o que eram fichamentos, metodologias, projetos e grupos de pesquisa e ao final daquele ano me tornei bolsista de um projeto de extensão sobre cultura e história afro-brasileira. Por causa dessa pesquisa, coordenada pela professora Luciana Pomari, pude viajar bastante e me dedicar por três anos apenas à graduação.
Entre fevereiro e outubro de 2007 tive a experiência do primeiro trabalho: um estágio na Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). Ainda que o estágio nada tivesse a ver com o curso de História, aproveitei o dinheiro para três destinos: 1º comprei vários livros; 2º iniciei um curso de inglês e 3º fiz um curso de história e cinema na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mas, diante da primeira oportunidade, saí do estágio e fui ser bolsista.
História, conforme dito, foi interessante e eu pude conhecer muito do universo acadêmico e fazer boas amizades, que valem a pena ser citadas porque elas fizeram parte da minha história: Carlos Narduci, Victor Pascoal, Renato Carvalho, Alexandre da Silva e Ronaldo Frutuozo.
Eu tinha uma vida dupla: de um lado eu estudava conteúdos históricos e de outro eu me dedicava à filosofia. Não deixei de lado o meu sonho, ainda que ele não tivesse se concretizado em forma de educação superior.
Depois que acabou a fase de calouro e chegaram o segundo, o terceiro e o quarto anos, o desânimo e o cansaço chegaram juntos. Muitas vezes pensei em desistir, mas então eu me questionava: “se eu sair irei atrás do que quero?”. Como a resposta era não, eu continuava História. Ainda bem que eu tinha amigos, senão o peso teria sido impossível.
Quando eu estava no quarto ano eu já tinha antipatia por estudos históricos e comecei a imaginar uma outra profissão. Foi então que surgiu a ideia de fazer Pedagogia. Esse novo curso ficou ainda mais claro quando, no final de 2010, eu fui aprovado no mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Um adendo: entre as experiências marcantes ao longo de 2007 e 2010 estão as organizações de eventos e, em especial, o “Simpósio de Humanidades”, em 2010, com professores do Rio de Janeiro; e também as várias idas a terreiros de umbanda e candomblé em decorrência do projeto de extensão. É preciso estimular sempre a atividade dos alunos e isso para que a criatividade também se desenvolva.
Concluí a graduação e consegui dois empregos: um na Fundação Bradesco e outro no Colégio Nobel. No primeiro eu lecionava História e Sociologia e no segundo Filosofia e Sociologia. Quanto à História, eu chegava a lecionar quase trinta horas semanais e isso era insuportável. Quanto às outras matérias, eu gostava – e muito. Por causa da incompatibilidade de horários entre o mestrado e a Fundação, bem como eu não gostar de ensinar História, eu pedi demissão desse emprego.
Em 2011, até agosto, eu fiquei apenas no Nobel e no mestrado, então surgiu a oportunidade de cursar Pedagogia no Centro Universitário Internacional (UNINTER), com cinquenta por cento de desconto. O desconto se dava porque a UNINTER era no Nobel e quem trabalhava no polo tinha aquele desconto. Aproveitei. Eu seria pedagogo.
No entanto, ao contrário da primeira graduação, a segunda seria a distância. A promessa era “estude onde e quando puder” e que só teria aula no polo uma vez por semana. Logo descobri que o discurso “onde e quando” era um engano. Quem quiser se formar em curso a distância precisa estudar tanto quanto no presencial. Quanto a isso, 2020 e a pandemia da covid-19 deu provas cabais.
A minha turma de Pedagogia começou com 30 alunos, mas logo eles começaram a desistir. A título de contextualização: na metade da graduação tinha menos de quinze alunos e em 2015, ano da colação, só era eu. Formei-me sozinho, e isso porque é comum ouvir que cursos a distância são fáceis.
Gostei de fazer Pedagogia. Os livros das disciplinas eram excelentes e eu pude estagiar em vários lugares, de asilos à educação de jovens e adultos, da educação infantil à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Porém, em 2013, na metade do curso, por falta de colegas e por eu ter iniciado o doutorado, eu me cansei e desisti. Eram muitos trabalhos a serem feitos (mal e vício da educação a distância) e pouco contato entre pessoas. Nunca conversei com nenhum professor. Tudo isso incomodou e pesou. Fiquei três meses longe do curso, mas depois voltei sob o seguinte argumento: “eu já estou na metade do curso e gosto dessa profissão”. Voltei e concluí.
Antes de continuar o caminho das graduações, vale a pena fazer um recuo ao ano de 2011.
Em 2011 eu tinha acabado de colar grau e tinha dois empregos. Eu saí da Fundação, dentre outros motivos, porque eu lecionava História. A experiência com a primeira graduação não tinha sido positiva e eu queria, de todas as formas, mudar de área. Mas, naquele mesmo ano surgiu um concurso para o IFPR da minha cidade, Paranavaí, para a área de História, e eu resolvi fazer, afinal, era um concurso. Para a minha felicidade – e angústia – fui aprovado. Então veio a angústia, sentimento que segundo Lacan nunca mente: “E agora? O que farei? Serei um professor concursado de História que não gosta do que ministra? E meus alunos?”
Em 2012 comecei a lecionar no IFPR e foi ao longo das aulas, dos meses e de alguns anos que a minha resistência foi quebrada. Comecei a amar o que fazia. E quanto à Pedagogia e à mudança de área? Isso não passava mais pelos meus pensamentos, até porque no próprio IFPR comecei a lecionar uma série de disciplinas pedagógicas, a começar em 2014 por Políticas Públicas e Fundamentos Educacionais, em 2015 também surgiu Didática, depois se somaram Psicologia da Educação, Fundamentos da Educação Especial e Inclusiva, e Educação em Direitos Humanos. Enfim, quando em 2014 comecei a viajar e em 2016 conheci outros países, a paixão pela história ficou enorme.
Em 2015, quando terminei Pedagogia, abriu Filosofia a distância na Universidade Paranaense (UNIPAR). Minha mãe e eu fizemos inscrição e fomos aprovados. Porém, no dia seguinte cancelamos a matrícula, pois eu não queria iniciar uma nova graduação. Duas eram suficientes. Todavia, no final de 2015, comecei a lembrar que um dia gostei de Direito e que, uma vez que eu tinha algum tempo livre após concluir Pedagogia e o doutorado, seria possível ir para a área jurídica, algo diferente das licenciaturas. E assim foi. Prestei o vestibular, fui aprovado e em 2016 comecei a terceira graduação.
O que é interessante é que iniciei Direito sem pretensões de seguir alguma carreira jurídica, ao contrário de todos os colegas de sala. Meu interesse era conhecer o ordenamento jurídico. Só isso – e tudo isso.
Não pude me dedicar ao Direito por alguns fatores em especial, e esses fatores acabaram pesando, de alguma forma, na dedicação ao novo curso. Primeiro: eu trabalhava em regime de dedicação exclusiva. Segundo: como eu gostava do que fazia, lia e escrevia bastante a respeito. Apesar desses dois fatores, notas nunca foram um problema e eu pude desenvolver bons contatos com os professores, que ensinavam bem e sabiam o que faziam.
Outro adendo: em 2019, quando eu estava no quarto ano, aconteceu algo trágico com um amigo de sala, Rodrigo Dal Ponte. Rodrigo e eu logo no início do curso nos aproximamos, porque também ele estava na terceira graduação. Vários trabalhos fizemos juntos. Porém, em 26 de outubro daquele ano, ele teve um acidente de moto e faleceu no local. Uma tristeza ver um amigo de anos ir embora em apenas um segundo. Quando ele faleceu eu estava em Boa Vista, em trabalho de campo com os refugiados venezuelanos, mas pude chegar a tempo do velório.
Ao olhar em retrospectiva, é possível perceber o quanto dos meus interesses originais, de 2005 e 2006, se alteraram. Da filosofia pela filosofia passei a ler textos das mais diversas áreas, ora por inciativa própria, ora por compromissos das graduações. Deus não deixou que eu fizesse aquilo que inicialmente sonhei, mas, nem por isso meus sonhos se tornaram pesadelos, pelo contrário.