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Aos meus alunos que cedo se foram... e que em mim ficaram


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 08/07/2021
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Sou professor há mais de 10 anos e sempre digo que só existe educação onde há amor. Sem amor, segundo Edgar Morin (2003, p. 102), a docência se empobrece. Sem amor, conforme afirma Daniel Pennac (2008, p. 234), o ensino perde o sentido. É a partir desse sentimento que escreverei este texto, para homenagear três alunos que perdi em 31 de março de 2020, 24 de janeiro de 2021 e 05 de julho de 2021.

1º Igor Lopes. Fui professor dele no Colégio Nobel de Paranavaí e nos aproximamos de imediato. Na época, entre 2011 e 2013, eu era professor de Filosofia e ele era um curioso aluno que não desprezava nenhuma disciplina. Por vezes nossas conversas não pararam no colégio e se estenderam pelas ruas de Paranavaí e pelas redes sociais. A última delas foi em 31 de dezembro de 2019, 6 anos após eu não ser mais formalmente seu professor.

2º Gabriel Albertin. Meu querido aluno do curso de Química no IFPR. Um dia ele me disse, mesmo estando no segundo ano da graduação: “Quero que o senhor me oriente no TCC.” Eu ri e aceitei. Ele era o tipo de pessoa que alegrava o ambiente, o que não é um discurso da boca para fora (tenho testemunhas: seus professores e colegas de turma). Ele me prometeu dar um Yorkshire de presente, o que só não foi possível porque os filhotes morreram no parto. Uma pena. Mas o que me dói mesmo é saber que a educação perdeu alguém tão cheio de vida. Pennac (2008, p. 45) recomenda a docência aos seus “amigos e alunos mais vivos”. O Gabriel era alguém cheio de vida.

3º Sérgio Lopes. A imagem que ficará deste aluno era a de um homem (ele tinha 45 anos) que gostava de estar no IFPR, no curso de Química. Ele era alguém discreto, simpático e bem educado que só me chamava de “professor” e de “senhor”. Às vezes, na hora do intervalo, nós conversávamos em algum canto do Instituto, pois ele gostava de ficar em algum canto sossegado.

Quando falece um aluno a dor para o professor é grande, pois o estudante é um filho gerado pelo espírito. No dia a dia acabamos por ver e por estar mais em contato com os nossos alunos do que com os nossos familiares, e aula após aula formamos e somos formados. Como não amar esse tipo de relação? Ai de quem fizer da educação uma mera informação e um vai e vem. A luz dos meus alunos não se apagou, mas continua a brilhar sobre o meu modo de ser professor, e que assim continue até que uma luz se encontre com a outra.

 

Daniel Pennac. Diário de Escola. Trad. de Leny Werneck. Rio de Janeiro: Rocco, 2008

Edgar Morin. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Trad. de Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

 

 

 

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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