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Sétima Arte: Cidade Perdida


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 28/04/2022
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Recentemente vi uma pessoa jovem se questionar: “como é possível que eu esteja farto dos anos 1980 e 1990 se eu nasci nos anos 2000?” O questionamento me fez refletir a respeito. De fato, estamos vivendo, e isso já faz um tempo, uma overdose de décadas passadas. Com a alta do conceito “vintage”, tudo o que está relacionado às décadas do final do século passado ganharam uma conotação de algo descolado. Ciente disso, o popular mundo do entretenimento tem explorado esse filão à exaustão. São séries, músicas, roupas e filmes que rememoram, revisitam, copiam ou se inspiram de maneira infinita nas obras desse período. Por isso é tão compreensível o sentimento dos mais jovens sobre a ideia de estarem presos numa bolha temporal dos anos 1980 e 1990. Por outro lado, aqueles que viveram o período adoram isso e não se envergonham de consumir tudo o que o dinheiro pode comprar em busca da sensação boa de nostalgia.

Esse sentimento, a nostalgia, talvez seja algo que defina bem o filme que comentarei essa semana. Isso porque, seguindo a tendência citada acima, ele é uma cópia fiel de um filme extremamente popular e que preencheu as tardes de muita gente na segunda metade dos anos 1980 e por boa parte dos 1990. Cidade Perdida, em cartaz nos cinemas, segue à risca a fórmula de sucesso do clássico Tudo Por Uma Esmeralda, de 1984.

Claro que ele traz problemas, pois sua inspiração descarada tende a descaracterizar muito do que é comum nos filmes de agora, mas, por outro lado, isso acaba concedendo à obra um charme todo especial. Bem por isso, o primeiro ponto a considerar é que ele não tem um gênero definido. Deveria ser aventura, mas tem muito de comédia romântica (aquela típica dos anos 1990) e altas doses de comédia. Essa indefinição poderia ser um grande problema, mas na verdade não é. Arrisco-me a dizer que justamente isso poderá tornar a obra uma boa candidata a filme favorito dos brasileiros antes da estreia do novo filme do Doutor Estranho.

Para essa afirmação tomo por base as preferências em geral do público do nosso país. Não há quem não goste de aventura, se tiver comédia, melhor ainda o público masculino adora , como cereja no bolo temos o romance que, desenvolvido ao longo da trama, faz um aceno para o público feminino. Mas eis que, mesmo diante de tudo isso, temos um problema. Cidade Perdida revisita os anos 1980 e 1990 em quase tudo, na história simplista, na comédia pastelão, no casal improvável que se apaixona, na trama aventuresca e pouco plausível, mas atualiza seu discurso num ponto importante, o girl power. O filme resgata a ideia de mocinha em perigo que precisa ser salva, mas, sempre que possível, inverte os papeis, gerando uma crítica bem-humorada e ótima reflexão. Algo que acontece de maneira escrachada, mas muito bem contextualizada, pois para conferir mais espaço, poder e importância para a protagonista, satiriza a masculinidade estereotipada de seu possível par romântico. A mim, isso não ofende em nada, pois a sátira é um dos princípios básicos da comédia, mas sempre tem um ou outro marmanjo mal resolvido de plantão que pode se ofender com isso. Fazer o quê? A arte por si só é subversão.

De qualquer forma, o filme acerta muito mais em ser comédia do que aventura. A direção, que ficou a cargo dos irmãos Adam e Aaron Nee, soube se inspirar muito bem em filmes famosos que têm a mesma pegada, por isso, muitas cenas são verdadeiras homenagens a clássicos da aventura/comedia/romance, como por exemplo a franquia A Múmia, que teve início no final dos anos 1990. O roteiro contou com a participação dos diretores e ficou a cargo de Oren Uziel e Dana Fox, que fizeram dele um verdadeiro deleite. Recheado de clichês e chavões, consegue apresentar uma história envolvente enquanto destila piadas muito bem construídas em momentos memoráveis. Há críticos que não se renderam à cafonice dos diálogos, principalmente entre o casal principal, mas a meu ver, eles acabam sendo um bom diferencial.

o elenco é a joia da coroa! Das várias musas das comédias românticas dos anos 1990 e 2000 a única que ainda está plenamente na ativa é Sandra Bullock, por isso, nada mais justo do que ela encabeçar essa empreitada que é uma verdadeira homenagem ao subgênero. Com ela estão Channing Tatum, Daniel Radcliffe e, pasmem, Brad Pitt, que faz uma ponta para lá de especial. Bullock brilha em cena e tem uma química perfeita com seu par, interpretado por Channing Tatum, que aliás, demonstra toda a sua aptidão para a comédia. Já Daniel Radcliffe comprova que está cada vez mais longe da figura mítica de Harry Potter ao interpretar um vilão maldoso, charmoso, ricaço e ressentido. Vamos à trama!

A brilhante e reclusa autora Loretta Sage escreve romances populares de aventura, cujas capas são estreladas pelo modelo Alan. Durante a turnê de promoção de seu novo livro, Loretta é raptada por um bilionário que deseja que ela o guie para o tesouro da suposta cidade perdida de seu último livro. Na busca por se firmar como um herói na vida real, Alan parte para resgatá-la. Dessa forma, o par, que aparentemente não possui nada em comum, viverá uma aventura épica na selva ao se verem obrigados a trabalharem juntos para sobreviverem.

Por que ver esse filme? Mesmo ostentando uma fórmula já conhecida, o filme surpreende e encanta na medida certa. De qualquer forma, pode-se afirmar que seu maior trunfo está no elenco. Interpretações competentes e inspiradas fazem o diferencial nessa obra. Cidade Perdida é aquele tipo de filme que não vai entrar para história e não se tornará memorável. Foi feito para ser leve, algo que para muitos pode ser sinônimo de raso. Mas não se engane, em tempo, pode ser compreendido e consumido como boa diversão. Aquela diversão do melhor tipo sessão da tarde. Por isso, pode agradar tanto os mais velhos, quanto os mais jovens que, com certeza, ainda aguentam uma dose a mais de nostalgia. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


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