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Venom: Tempo de Carnificina


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 07/10/2021
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Para comentar sobre o filme dessa semana, precisamos antes nos ater a um importante dilema: o cinema é feito para o público ou para os críticos?

Ao longo dos seus mais de 125 anos de existência, o cinema passou a ter essa questão como central, isso porque os críticos se tornaram o termômetro do público. Desde que eu me vejo por gente o sucesso de qualquer filme é medido pelo fato dele ter sido aclamado pelo público e pela crítica. Nesse ponto, chegamos ao filme dessa semana, Venom: Tempo de Carnificina. O primeiro filme do famoso anti-herói do universo do Homem-Aranha tinha tudo para dar errado, mas deu muito certo. E isso só aconteceu porque o público, contrariando a todos os críticos lotou as salas de cinema em 2018 e fez a bilheteria desse filme, de baixo orçamento, quase alcançar a incrível cifra de 1 bilhão de dólares (faltou muito pouco, só 100 milhões – risos).

É claro que, empolgados com tamanho sucesso e faturamento, a história de Venom não iria parar por aí e desde então a Sony Pictures, que cedeu por meio de um acordo inédito seu precioso Homem-Aranha para o todo-poderosa Marvel, encontrou a possibilidade de continuar lucrando com esse outro personagem do mesmo universo.

O primeiro filme de Venom tinha tudo o que não precisava ter, um roteiro fraco, gráficos horrorosos e muitos efeitos (talvez, defeitos) visuais, tanto que parecia que estávamos de volta aos anos 1990 e, nesse caso, não foi um elogio. Por outro lado, dois tons superaram todos os defeitos: Tom Hardy e o tom cômico (risos). Eu sou fã de Hardy muito tempo e nunca duvidei da capacidade dele de fazer uma obra, considerada pela crítica como medíocre, um grande sucesso. Como ator multifacetado ele tem excelente timing para a comédia e, mesmo assim, consegue impor muita profundidade em seu personagem, transparecendo o humano que está por trás da situação absurda a qual foi submetido. Ele deu um show! Já o tom cômico tirou da obra todo aquele ar de seriedade que os filmes de herói ganharam nos últimos tempos e, no melhor estilo Deadpool, permitiu a Venom rir de si mesmo.

Nesse caso, rir de si mesmo é o grande segredo desse tipo de obra. Venom é fruto de um período complexo vivenciado pelas HQs nos anos 1990, quando foi concebido para ser basicamente um Homem-Aranha do mal. Essa era uma época em que as editoras de quadrinhos tentavam tornar seus heróis mais atrativos para os adultos e, para isso, resolveram abusar da violência. Nesse período, não importava quão absurda ou sem sentido seria a trama, se tivesse armas, mortes e violência estava valendo. Superada a maluquice das HQs dos anos 1990, o personagem cresceu e passou a ser mais do que apenas um antagonista do teioso, ele passou a ser um anti-herói, com trejeitos e dificuldades. Por isso, para funcionar era necessário fazer com que todo esse tom de loucura ensandecida das HQs estivesse presente no filme. Isso aconteceu e deu super certo.

Agora, a continuação de Venom, de 2018, chega aos cinemas com a promessa de ser melhor do que o primeiro, mas mantendo tudo aquilo que deu certo em seu antecessor. Então, eu já adianto, não espere roteiro clean, complexo e mega coerente, isso o filme não tem. Não espere cenas bem coreografadas de luta e locações incríveis, isso não tem também! Então, o que ele tem de bom? Ele tem Tom Hardy, Andy Serkis e Woody Harrelson, só isso já basta.

Vamos falar primeiro sobre Hardy, como já adiantei antes ele é muito talentoso e nessa obra resolveu trabalhar também por trás das câmeras, como roteirista e produtor. Ou seja, por mais que os críticos digam que o filme é ruim, ele comprou tão bem a ideia que resolveu trabalhar em outras áreas para além do que já está acostumado, tudo isso para conferir sua marca nessa história. Na minha opinião, dificilmente ele iria colocar em jogo o status quo de grande estrela se não acreditasse no valor que essa história tem.

Agora, sobre Andy Serkys, o diretor. Você pode não se lembrar do nome, mas, com certeza, conhece os trabalhos dele. Ele é um dos mestres da computação gráfica. Como ator ele deu vida a Gollum, de O Senhor dos Anéis, e a Caesar, da nova versão de Planeta dos Macacos. Fora os inúmeros outros papéis interpretados por ele com a ajuda do CG. Mas como ele passou de ator a diretor? O diretor do primeiro filme de Venom era Ruben Fleischer, mas ele não poderia assumir a sequência porque estava enrolado com a sequência de Zumbilândia, o divertido Zumbilândia : Atire Duas Vezes. Diante disso, vários diretores foram sondados pela Sony Pictures, mas quem ficou com o cargo foi Serkys, que se encaixou como uma luva.

Por último, Woody Harrelson, um dos grandes nomes do cinema. Ele pode não ser tão badalado quanto outras estrelas, mas, sem dúvida alguma, é tão competente quanto qualquer uma delas. Fleischer convidou Harrelson para aparecer na cena pós-créditos do primeiro filme, fez isso porque reconhecia nele a melhor pessoa para interpretar o vilanesco Carnificina/Cletus Kasady. Carnificina é outro simbionte do universo do Homem-Aranha que, diferente de Venom, é um psicopata completo e alucinado. Harrelson já havia mostrado seu talento para esse perfil em Assassinos por Natureza, de 1994, e que foi dirigido por Oliver Stone. Bem por isso, Harrelson seria a melhor opção para o papel.

Com essa trinca de ouro Tempo de Carnificina chega ao cinema, trazendo uma obra um pouco melhor que primeira em termos técnicos, mas dando um show no tom de sátira e na trama de seus personagens. Mais do que um filme de anti-herói contra vilão, esse é um filme sobre relacionamentos, no caso, de Eddie Brock com o próprio Venom. Tendo isso por base, eu diria que boa parte do filme funciona muito bem como Comédia Romântica e isso é mais do que uma constatação, é um elogio .

É muito divertido ver Eddie em constante DR (discussão de relacionamento) com Venom, em certos momentos eles até manifestam o sentimento de amor que sentem um pelo outro, uma jogada genial. Esse relacionamento típico de casal que existe entre os dois está implícito na trama, não foi feito para ser central, mas com certeza é ele que mais chama atenção e mais diverte no fim das contas.

Sobre as questões técnicas, os cenários ainda são Computação Gráfica na cara dura, mas agora eles têm um pouco mais de requinte, as cenas da boate ou da igreja são bem feitas e, por mais que não sejam surpreendentes, são aceitáveis. Vamos à trama!

Em Venom - Tempo de Carnificina, depois de um ano dos acontecimentos do primeiro filme, Eddie Brock está com problemas para se acostumar na vida com o simbionte Venom. Eddie tenta se restabelecer como jornalista ao entrevistar o serial killer Cletus Kasady, também portador um simbionte, que mais tarde acaba escapando da prisão e dando muito trabalho para Eddie/Venom.

Por que ver esse filme? Pelo mesmo motivo que você foi ver o primeiro Venom, porque ele é completamente diferente dos filmes de heróis como os quais nos acostumamos nos últimos tempos. Ele segue fora do trilho em todos os sentidos, é divertido sem ser uma comédia rasgada, tem um herói que poderia muito bem ser um vilão e tem uma trama que não precisa ser seguida à risca para que seja interessante. A meu ver, esse é aquele tipo de filme no melhor estilo B, produzido para um público muito especifico. Os fãs irão amar a obra que, no fim das contas, será hostilizada sem dó pela crítica.

Respondendo à questão do início do texto, a meu ver, o cinema é feito, antes de tudo, para entreter e não para satisfazer aos críticos. Se você gostou do primeiro Venom, veja Tempo de Carnificina e se divirta. Um último aviso, a cena pós créditos é imperdível, fique até o final e crie as suas próprias teorias a respeito (ah, o multiverso!). Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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