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Rivais


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 09/05/2024
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Em 2017, Me Chame Pelo Seu Nome elevou o nome do diretor italiano Luca Guadagnino às alturas. No estilo “ame ou odeie”, o filme conquistou sucesso por sua habilidade única de capturar a essência da descoberta do amor e da sexualidade de uma maneira autêntica e tocante. Entretanto, não foi apenas esse aspecto que chamou a atenção, mas sim a capacidade do diretor de transformar situações extremamente banais e cotidianas em momentos de extrema tensão, fazendo com que o público acreditasse que cada gesto, cada olhar, cada movimento, fosse uma insinuação de algo que ele não deveria estar vendo. O extraordinário trabalho de direção permitiu que o público mergulhasse profundamente na jornada emocional dos personagens, indo além dos estereótipos de gênero, e compreendesse uma relação que se construiu de forma orgânica e muito humana. O resultado foi um sucesso imediato e um Oscar na premiação de 2018, não na categoria de Melhor Direção, mas de Roteiro Adaptado.

A partir disso, o mundo do cinema voltou seus olhos para Luca Guadagnino e toda vez que ele lança algo novo, isso sempre chama atenção de muita gente, sejam os fãs ou os críticos. Dessa vez, o diretor está de volta à tela grande com seu recente longa: Rivais. Outra obra que tem como base forte, justamente seu roteiro, escrito por Justin Kuritzkes.  Em Rivais, Guadagnino presenteia seus fãs com uma experiência cinematográfica muito interessante, que os faz imergir profundamente nos intricados relacionamentos de três personagens principais, todos entrelaçados pelo mundo do tênis.

O filme leva o expectador para dentro da mente dos atletas, capturando não apenas a intensidade física do esporte, mas também a complexidade psicológica que o acompanha. O diretor extrai de forma única a eletricidade dos relacionamentos humanos e a injeta diretamente nas veias da narrativa. É como se cada olhar, cada grito na quadra, cada momento de tensão fosse palpável, criando uma experiência visceral, tal qual ele fazia na aclamada obra Me Chame Pelo seu Nome.

O filme ostenta um talentoso elenco, liderado pela magnética Zendaya, sem dúvida umas das mais competentes e versáteis atrizes de sua geração. Após arrebatar a todos em sua atuação espetacular em Duna: Parte 2, ela retorna com toda a sua potência para interpretar Tashi, que é o fio condutor da trama. Vale ressaltar o envolvimento de Zendaya para além da atuação nesse filme, pois ela também é uma de suas produtoras principais. Sobre sua atuação como uma das protagonistas, é evidente o cuidado e dedicação que ela trouxe para o papel, mergulhando no mundo do tênis e entregando uma performance repleta de graça, vulnerabilidade e intensidade.

No elenco, ao lado dela, brilham Mike Faist e Josh O'Connor, que entregam performances igualmente impressionantes como Art e Patrick, respectivamente. Faist transmite a insegurança e a resignação de Art com maestria, enquanto O'Connor incorpora perfeitamente o charme e a complexidade de Patrick. Juntos, o trio central domina a tela, criando uma química palpável e uma dinâmica fascinante entre seus personagens.

Mais uma vez, seguindo o que aconteceu no filme de 2017, cujo o exemplo abre essa crítica, o que mais interessa ao expectador nessa relação é o que não está explícito. A todo momento o público é induzido a compreender a relação de amizade entre Art e Patríck como algo mais, como se fossem um casal. Nesse sentido, a intrusa que destrói a harmonia do que estava posto é Tashi, que se deleita em cada cena ao ser o objeto de desejo e disputa entre os dois.

Bem por causa dessa complexidade, o roteiro de Kuritzkes é uma obra-prima de construção narrativa, explorando temas profundos como amizade, rivalidade e desejo. A relação entre Art e Patrick é especialmente explorada, retratando a maneira como ela foi abalada pela competição e pelo desejo compartilhado por Tashi. É uma dinâmica que ressoa com autenticidade, capturando os altos e baixos emocionais de seus personagens de forma envolvente e extremamente humana, sem idealismos.

Guadagnino, por sua vez, eleva o material ainda mais com sua habilidade de bom diretor que é. Ele navega habilmente entre momentos de intensidade dramática e momentos de leveza cômica, criando uma experiência cinematográfica bastante multifacetada. A montagem frenética e a trilha sonora pulsante adicionam camadas adicionais à narrativa, aumentando ainda mais a constante tensão e o ritmo do filme.

Por fim, vale ressaltar o apelo visual da obra. Guadagnino apresenta cada partida de tênis como uma obra de arte em movimento, capturando a energia e a emoção do esporte de uma forma que é tanto emocionante quanto visualmente deslumbrante. Mesmo quem, como eu, não entende nada de tênis, vai se encantar em cada partida e suas sequências. Isso porque cada cena é cuidadosamente elaborada, desde os jogos vibrantes até os momentos mais íntimos entre os personagens.

Por que ver esse filme? Com sua direção habilidosa, roteiro envolvente e performances excepcionais, Rivais é uma experiência interessante porque conta uma história instigante e cheia de estilo. Já que o texto trilhou um caminho de comparação entre Rivais e Me Chame pelo Seu Nome, vale a pena destacar que o primeiro é muito mais fácil de degustar que o segundo, já que seu ritmo é muito mais acelerado e com um tom levemente mais inclinado ao cinema comercial do que o cinema arte. Um filme que agrada em cheio os fãs de dramas esportivos e também aqueles que apreciam narrativas ricas em complexidade e emoção. Frenético e avassalador, Rivais é um filme que merece ser visto por todos os amantes do cinema. Um drama envolvente em movimento, que deixará o público sem fôlego do início ao fim. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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