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Não! Não Olhe!


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/08/2022
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Jordan Peele está de volta e mais uma vez dando o que falar no mundo do cinema. Não foi à toa que ele se tornou um dos mais renomados e influentes diretores de Hollywood na atualidade. Poucos profissionais dessa área podem se dar ao luxo de ostentar um filme de estreia que arrebatou público e crítica, sendo premiado até mesmo com um Oscar e gerando grande discussão e reflexão sobre temas extremamente pertinentes. Seu filme de estreia, Corra, fez tudo isso e muito mais. Depois foi a vez de Nós, tão aclamado quanto seu antecessor e agora temos a grande estreia dessa semana, o aguardadíssimo Não! Não Olhe!

O terceiro longa de Peele é uma obra que reflete toda a maturidade que seu diretor alcançou nos últimos anos. Seu filme é capaz de despertar no expectador fortes emoções a partir de um suspense com ares de terror, embalado por um humor bem refinado e toques de sci-fi. Jordan Peele claramente foi beber na fonte de grandes nomes do cinema, tais como Spielberg, Hitchcock e Shyamalan, para a construção de seu filme. Um expectador mais atento será capaz de perceber as semelhanças de Não! Não Olhe! com filmes como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Sinais, ou os grandes suspenses de Hitchcock (verdadeiros blockbusters de sua época). 

Como de costume, o diretor, que também assina o roteiro, traz como pano de fundo para seu filme questões sociais profundas, que aproximam o público dos protagonistas. Além disso, é interessante perceber como existe ao longo da trama um resgate da contribuição dos afrodescendentes, tanto na conquista do Oeste americano, quanto na história do próprio cinema. A própria atitude de olhar para o alto ao longo do filme pode ser interpretada como uma crítica a tudo que fascina o ser humano (nesse caso a possibilidade da crítica é infinita e vai desde a religião até chegar nas relações de consumo, passando pela política), a mensagem é clara, enquanto você se distrai olhando para o alto, absorto em busca de esperança, a sua vida se vai.

Para mais, é importante ressaltar que o roteiro é fluído e por isso funciona bem, o expectador fica perdido em meio aos acontecimentos a maior parte do tempo, questionando-se a respeito do que está acontecendo e tentando decifrar os mistérios. Seu ritmo impõe um tipo de suspense muito envolvente e a câmera, que eventualmente apresenta o ponto de vista dos personagens, colabora para aguçar a curiosidade do público. Nesse sentido, se há um conselho que eu posso lhe dar antes de que você veja o filme é: evite assistir aos trailers. Essa sensação de curiosidade, aos poucos evolui para o sentimento de medo e para isso é importante que você não tenha nenhum spoiler, já que o trailer, infelizmente, traz mais do que deveria e pode fazer com que você descubra algumas coisas antes da hora.

Visualmente bonito, o filme eleva o grau do terror fazendo com que a sensação de medo não se reduza apenas às cenas noturnas, mas faz com que a qualquer momento, inclusive naqueles mais ensolarados, algo de ruim possa acontecer. Esse algo ruim e amedrontador, no caso, são os alienígenas, de tal forma que eu sou suspeito para criticar filmes de terror com essa premissa. Um dos meus preferidos desse gênero é Sinais, de M. Night Shyamalan. Vê-lo no cinema no longínquo ano de 2002 (meu Deus, lá se foram vinte anos) aguçou os meus sentidos por meio do seu suspense profundo e fez com que eu passasse a olhar filmes com essa premissa com outros olhos. Certamente que temos muito de Sinais no novo filme de Peele e isso é ótimo, pois não há dúvidas de que o terror sci-fi tem sido um dos gêneros menos explorados na atualidade.

Sobre o elenco, como de costume, escolhido a dedo por Jordan Peele não deixa nada a desejar. Os personagens de Daniel Kaluuya (de volta à uma obra de Peele) e Keke Palme são complementares, há muita química, seriedade e carisma em suas interpretações. Mesmo sendo completamente opostos um do outro, eles apresentam entre si uma cumplicidade que agrega muito à suas interpretações. Outro que brilha forte nesse filme é Steven Yeun, ele já havia iniciado o seu processo de desvinculação de The Walking Dead com o interessante Minari, agora, com Não! Não Olhe!, ele dá um passo a mais para se firmar como o grande ator que é. Pena que seu arco tão interessante iniciado no ataque do chimpanzé não tem o espaço merecido ao longo da trama. Falando em trama, vamos à ela.

Quando uma chuva de objetos aleatórios resulta na morte de seu pai, os irmãos OJ e Emerald Haywood, famosos adestradores de cavalos, encontram-se a bancarrota. Na tentativa de colocar a vida financeira novamente nos trilhos, eles passam a buscar nos céus evidências em vídeo de um OVNI, que aparentemente está atormentando a fazenda, e que poderá render algum dinheiro na mídia.

Por que ver esse filme? Porque esse é de longe o filme mais controverso de Jordan Peele, mas, na mesma medida, também é o mais ambicioso. Agora que ele já está sacramentado como grande nome do cinema, pode ser dar ao luxo de fazer um filme que não precise agradar a todos e bem por isso Não! Não Olhe! acaba sendo seu filme mais interessante. Digo isso porque muita gente vai adorar e outros, certamente, irão odiar. A meu ver, a maior qualidade desse filme é a sua capacidade de gerar discussão pós-créditos. Isso porque várias pessoas terão pontos de vista variados ao final e muita gente não terá nenhum porque sairá com aquela sensação clássica de que não entendeu nada. Um grande filme, que precisa realmente ser apreciado no cinema. Boa sessão!

Assista ao trailer:

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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