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Barbie


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 27/07/2023
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Como prometido na última semana, nessa edição comentarei um pouco sobre o filme da Barbie. A iniciativa de esperar passar a onda de frisson da semana de estrea do filme se mostrou muito acertada, haja vista que ao longo do último fim de semana tivemos de tudo, desde as tradicionais e saudosas filas intermináveis para entrar nas salas de exibição (algo que estava em falta desde o final da pandemia) até as críticas infundadas da extrema direita sobre uma obra de entretenimento. Sobre o filme da Barbie você saberá tudo isso e muito mais na Coluna Sétima Arte dessa semana.

Vamos começar falando sobre o sucesso. Isso sim é algo incontestável em relação ao filme da Barbie. Se considerarmos o atual cenário do cinema mundial  que vem perdendo cada vez mais espaço em relação ao streaming —, levar uma multidão de gente ao cinema no fim de semana de estreia a ponto de gerar imensas filas é um grande feito. Reflexo tanto de uma campanha de marketing bem-feita quanto de um sentimento nostálgico latente. Sobre esse clima de nostalgia é preciso lembrar que a boneca foi lançada em 1959, fazendo parte da infância de gerações. Esse brinquedo revolucionou o jeito de brincar entre as meninas, algo que é muito bem explorado na sequência inicial do filme fazendo uma releitura do clássico 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. O que, de certa forma, explicaria a “febre pink” que tomou conta do mundo e fez com que milhares de pessoas, homens e mulheres fossem vestidos de cor-de-rosa ao cinema (teve ex-ministra que pirou nesse filme! risos).

Considerando isso, é preciso reconhecer que Barbie se tornou um fenômeno real e mais que isso, ganhou espaço suficiente para influenciar as pessoas muito mais do que era possível imaginar. Somando esse fato ao teor altamente crítico do filme, sobretudo em relação ao sexismo (compreenda por sexismo o ato de discriminação e objetificação sexual, que reduz alguém ou um grupo apenas pelo gênero ou orientação sexual), o que se tem é uma poderosa arma pronta para fazer muita gente parar e refletir. Pronto, bastou isso para que a galera reacionária de plantão caísse matando. E isso não foi só no Brasillugar que adora flertar com o retrogrado, outros lugares do mundo também tiveram reações parecidas, como, por exemplo, a China ou o Vietnã. De qualquer forma, vale a pena citar que o burburinho causado por aqui, sobretudo pelos representantes da extrema direita e dos conservadores, em relação ao filme, afirmando que ele promovia uma inversão de valores, serviu apenas para alavancar ainda mais a popularidade de um filme que já estava nas alturas.

E a rentabilidade? De forma superficial, se levarmos em consideração os números, a estreia de Barbie foi muito mais rentável do que Oppenheimer, isso porque por mais que o filme de Christopher Nolan estivesse com suas sessões esgotadas nos cinemas, ele contava com um número muito menor de salas de exibição. Já o filme da boneca da Matell estava em um número bem maior e por isso arrecadou muito mais em bilheteria do que Oppenheimer. Para além das bilheterias, o filme se tornou rentável para um sem-número de negócios online, físicos, nacionais e locais, que pegaram carona na “febre pink” e venderam muito embalados pelo filme da Barbie. Bobo de quem não aproveitou o momento.

Agora, vamos falar sobre a obra em si e para isso é importante começar destacando o que é relevante a respeito da diretora. Greta Gerwig se destacou no mundo do cinema como roteirista e diretora. Ela conquistou a aclamação da crítica e do público com filmes como Frances Ha, de 2012, em que foi roteirista, e Lady Bird, de 2017, filme pelo qual ela recebeu incríveis cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção. Sobre essa indicação de Melhor Direção é preciso destacar que foi um feito e tanto para a época, já que isso a tornou a quinta mulher na história do cinema a receber uma indicação nessa categoria.

Greta Gerwig é conhecida por trazer à tona histórias envolventes, autênticas e com personagens femininas complexas, o que contribuiu para sua relevância na indústria cinematográfica dos tempos atuais. Além de seu trabalho no cinema, Gerwig também tem envolvimento em outras áreas artísticas, inclusive como atriz e no teatro. Sua presença no mundo do entretenimento e suas obras tem inspirado muitas pessoas, sobretudo o público feminino, e contribuído para uma maior representatividade feminina na indústria do cinema.

Dito isso, não haveria melhor diretora do que Greta Gerwig para realizar uma obra tão ousada e complexa quanto Barbie. Ela ficou responsável juntamente com o marido, Noah Baumbach, pela construção do roteiro e fez isso focando numa história com ares de aventura de amadurecimento. Esse caminho escolhido pela dupla se encaixou perfeitamente no possível perfil da boneca, já que ele contrasta a inocência e ingenuidade de Barbie e Ken, em sua Barbielândia, com a crueza do mundo real.

Partindo disso, o roteiro abre espaço para uma série de críticas veladas à sociedade e embala isso num embrulho agradável repleto de piadas ácidas. De maneira muito direta o filme acaba abordando desde a ideia de perfeição extrema imposta às mulheres, passando pela crise existencialista, conceito de mortalidade e culminando no sexismo estrutural da sociedade. Tudo de forma altamente orgânica. Dessa maneira, o primeiro e segundo ato do filme são um verdadeiro deleite.

Repleto de referências, sejam elas para o próprio universo da Barbie ou para outras grandes obras do cinema, é um filme que desperta logo de cara a empatia do público. A década de 2.000, que aos poucos vem conquistando o mundo do entretenimento com seu ar de “novo vintage”, também está presente em vários momentos. Além, é claro, das cores vibrantes.

Inteligente, o roteiro questiona de forma acessível o espaço estabelecido entre homens e mulheres ao longo do tempo, problematizando a forma como esses papéis sociais são compreendidos e as mudanças que estes papéis estão sofrendo paulatinamente. Mas peca terrivelmente a partir do terceiro ato. A impressão que ficou no final é de que, após conceber de forma magistral o desenvolvimento da trama, os roteiristas não conseguiram criar um clímax à altura e um desfecho plausível. Uma pena, já que a guerra entre os Kens e o interminável diálogo final deixam um gosto agridoce após os créditos do filme. A trama é simples. Ao manifestar defeito, uma Barbie genérica precisa deixar a perfeição da Barbielândia para encontrar uma solução no mundo real, lugar onde se depara com uma realidade completamente diferente da sua e que, de uma forma ou de outra, irá afetar o mundo cor-de-rosa ao qual estava acostumada a viver.

Por que ver o filme da Barbie?  Por mais que o desfecho final, a meu ver, não esteja à altura da importância da obra, o filme deve ser visto porque construiu para a boneca mais famosa do mundo uma história esperta, agradável e bastante humanizada. Além do mais, o filme é muito divertido e cativa bastante com seu humor ácido. Tão ácido que vale a pena ressaltar que esse não é um filme para crianças, já que a classificação etária é para 12 anos. Errou quem levou crianças menores para assisti-lo! Do mais, é bom vê-lo no cinema, pois ao que tudo indica o filme já entrou para a história da Sétima Arte e sempre vale a pena testemunhar a história sendo feita. Boa sessão!

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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