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Aftersun


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 23/02/2023
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A Coluna dessa semana traz uma dica de ouro para quem gosta de um filme fora dos padrões enlatados e busca algo mais artístico. Um dos concorrentes desse ano que está disponível nos cinemas é Aftersun, um filme discreto, mas completamente impactante! Em tempos de blockbusters em cartaz, como é o caso de Homem-Formiga e Vespa: Quantumania, saber que é possível assistir a algo tão intimista quanto Aftersun chega a ser uma brisa de esperança. Por isso, a Coluna dessa semana se dedica a essa história repleta de drama e amadurecimento.

Esse é um filme de estreantes, tanto a diretora quanto uma das protagonistas estão debutando no cinema e, mesmo assim, fazem isso em grande estilo, ao entregar ao público uma história simples, mas repleta de camadas que vai surpreender de maneira muito positiva o expectador.

Falar sobre Aftersun é como pisar em ovos, isso porque falar pouco é desmerecer a obra e falar muito é correr o risco de dar spoilers e estragar a experiência final do expectador. De qualquer forma, é preciso considerar que tecnicamente a diretora Charlotte Wells dá uma aula de fazer cinema. Ao assinar, além da direção, também o roteiro dessa história, ela imprime um tom muito particular à obra, de forma que ela mesma atribui ao filme um ar de autobiografia. Esse ato de transferir para a tela grande as experiências vivenciadas enriquece muito a forma de contar a história e torna Aftersun capaz de se conectar aos dramas cotidianos e particulares de pessoas de muitas idades.

Ao reproduzir na tela a relação fragmentada entre pai e filha e desgastada pelo distanciamento das gerações, a diretora acaba contando um pouquinho da história de muitas pessoas e da forma como a vida naturalmente afasta pais e filhos a partir da adolescência. Uma trama que, ao final, desperta no público mais sensível um profundo juízo de valor ao se questionar sobre a forma como se reconectou com seus pais após o período da adolescência ou não.

A história se desenrola a partir da busca da protagonista por memórias de uma viagem de verão realizada a mais de vinte anos. Entre filmagens e recordações o público se esforça para tentar paulatinamente se conectar a um personagem que ele não conhece e que, devido à forma da narrativa, irá conhecer aos pouquinhos, em pedaços, como num quebra-cabeças.  Essa dinâmica de reconstrução é um ato conjunto, pois o público reconstrói a imagem desse personagem juntamente com a protagonista.

Para isso, a obra lançou mão de um trabalho técnico excepcional, seja pelo brilhante trabalho de fotografia caracterizado principalmente pelos tons dourados, seja pela composição de cena, que define muito bem o conceito estético escolhido pela diretora, fazendo com que cada cena venha repleta de subjetividade, ou seja, pelo trabalho de montagem que, diga-se de passagem, não foi nada fácil.

Sobre o elenco a estreante Frankie Corio rouba a cena muitas vezes, isso porque muito do que se vê na trama é sob o prisma de seu olhar. Sua forma de interpretar é muito natural e permite compreender aos poucos quem é seu pai, interpretado por Paul Mescal. Esse sim é o grande nome do filme e digno da indicação ao Oscar. Seu papel nessa obra é desafiador e ele o enfrenta de forma muito competente. Ciente de que depende dele fazer com que o público se conecte com seu personagem mesmo sem conhecê-lo, ele lança mão de todo o seu carisma para realizar a tarefa. Na mão de qualquer outro ator famoso e canastrão de Hollywood a interpretação de Callum, o pai de Sophie, teria sido um desastre, mas nas mãos de Paul Mescal ela é pura arte.

Vamos à trama! A história do filme gira em torno do esforço de Sophie em construir uma imagem coerente do pai, Callum, tendo apenas o que se lembra e buscando decifrar o que está para além disso, como forma de preencher as lacunas. Para isso ela precisará revisitar suas lembranças da vigem que realizou com ele no final dos anos 1990 para a Turquia. Em meio a essas recordações fica evidente que uma profunda melancolia e muito mistério são inerentes ao comportamento do pai durante esse tempo que passaram juntos. Ao reviver cada momento, motivação e sensação ela precisará definir o que realmente sabe sobre seu pai.

Por que ver esse filme? Esse é aquele tipo de filme que passou batido numa estreia que aconteceu num momento ruim e que agora ressurge como uma das melhores opções de entretenimento às portas do Oscar. Aftersun estreou em alguns cinemas brasileiros no início de dezembro. Com uma campanha de marketing discreta, não chamou muita atenção. Mas agora, após sua exposição depois da indicação ao Oscar de Melhor Ator para Paul Mescal, ele passou a ser uma excelente pedida, já que voltou aos cinemas. O filme deve ser visto principalmente por não ser uma obra descartável, Aftersun é aquele tipo de filme que você termina de assistir e continuará lembrando dele e do que ele fez você sentir e refletir mesmo depois de sair do cinema. Boa sessão!

 

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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