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O que é a vida senão o dia a dia


Por: R. S. Borja
Data: 20/06/2024
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Ser e estar...

 

“A vida é uma constante luta entre a ânsia de ter e o tédio de possuir” (SCHOPENHAUER)

A compreensão de adaptação hedônica tem base no conceito do bem-estar subjetivo. Os psicólogos Brickman e Campbell escreveram sobre esta concepção na década de 1970 como uma esteira hedônica na qual o ser humano se ajusta às atuais circunstâncias da vida e que todas as reações tendem a retornar ao estado anterior. Na teoria de origem os autores propuseram que as pessoas reagissem a eventos bons e ruins, mas em pouco tempo, se percebeu que retornavam ao estado de neutralidade.

A tendência ao assumir um comportamento como se estivesse em uma esteira, faz com que o ser humano fique numa busca incessante por uma felicidade pautada muitas vezes na aquisição de bens materiais e por dinheiro. Isso dá a impressão que nunca estamos satisfeitos com o que temos”.

Conceitos filosóficos. Conceitos psicológicos. Conceitos científicos. Conceitos que, infelizmente, se aplicam diariamente às nossas vidas.

Infelizmente porque deveriam definir a relação do ser humano com os objetos materiais objeto de desejo e conquista vêm se estendendo cada vez mais à relação ser humano – ser humano.

E os exemplos se multiplicam diariamente. Lembra daquela pessoa que passou meses para adquirir aquele veículo? Dois meses, vendeu o carro e comprou outro melhor, que depois trocou por uma moto. Lembra daquela pessoa que passou meses tentando conquistar a outra? Um mês depois terminou o relacionamento e começou a namorar outra pessoa. E aquela outra que planejou durante anos mudar para uma cidade grande. Quinze dias depois já está reclamando e querendo ir para outro lugar. E como não recordar daquele que durante anos rastejou, se humilhou, fez o que pode ou não podia para ter uma chance e quando recebeu passou a maltratar, a agir com indiferença, a flertar com outras pessoas. E há inúmeras outras situações semelhantes.

Quem de nós nunca enlouqueceu por uma camisa, blusa, calça, bolsa, sapato ou tênis e logo após conseguir comprar já voltou os olhos a um novo objeto de desejo ou, ainda, pouco tempo depois já deixou guardado no fundo do guarda roupa.

Quem de nós não viveu, presenciou ou soube de casais extremamente apaixonados, com milhões de planos para o futuro e tudo o mais, passados alguns meses, deixar visível o tédio, a falta de admiração, atenção, respeito um pelo outro ou manifestarem interesse por outras pessoas. E pior, romperem o relacionamento e reviver a mesma situação com outra ou outras pessoas.

O desejo de conquistar nos torna predadores; a tristeza de possuir nos transforma em presas. E vivemos esse looping infinito, buscar, conquistar, enjoar, descartar, buscar, conquistar, enjoar, descartar.

Esses dias comemoramos o Dia dos Namorados, que foi antecedido pelo Dia das Mães e que precede o Dia dos Pais, que é anterior ao Dia das Crianças.

Diversas datas comemorativas nas quais, segundo as regras sociais, marketing publicitário, dados divulgados por shopping centers, lojas é a troca ou entrega de presentes, objetos materiais.

E a consequência é tão óbvia. Os homenageados aguardam o presente, que deve ser mais valioso do que dado no ano anterior. E quem homenageia se preocupa em dar algo que não deve ser menos interessante do que deu anteriormente. E no meio de tudo isso, a presença não se mostra necessária, seja nas palavras (pode ser substituída por mensagens, vídeos) ou contato físico (pode ser substituído pela mensagem e pela remessa do presente).

E o que pouco ou não ouvimos é que nessas datas o mais importante é ser e estar. Ser pai, ser mãe, ser filho, ser namorado, ser criança. Estar presente, estar ali, estar no lugar.

E podemos concluir que somente podemos sair daquele looping infinito quando mudarmos a prioridade dos verbos que devem nortear nossa vida. Trocar a ordem de TER, DAR, NÃO ESTAR E NÃO SER por SER, ESTAR E ter/dar. Seria um bom reinício.

R. S. Borja


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