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As traições que cometemos dia a dia


Por: R. S. Borja
Data: 30/09/2025
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Conheço uma senhora que sempre trabalhou na área de educação. Sempre afável, atenciosa e bondosa com as demais colegas e com as crianças. Tinha por hábito escrever seu dia a dia em diários, em álbuns de fotografias e recortes de jornais, eternizando viagens, momentos com familiares e amigos, façanhas dos filhos. Contudo, com o tempo, as fotos, recortes e conteúdos escritos deixaram de ter significado para ela, pois seu cérebro deixou de ser fiel às memórias, deixou de ser leal às suas lembranças. No fim, ela foi traída pelo cérebro.

A etimologia de "traição" reflete a ideia de "entregar" ou "passar algo para outra pessoa" com o objetivo de prejudicar o terceiro, ainda que este não venha a ter conhecimento. Esse ato é visto como uma quebra da lealdade ou fidelidade devido a um compromisso previamente estabelecido. Resumindo, a traição está vinculada a quebra da confiança e da lealdade, sendo um ato inesperado.

A história da Humanidade está repleta de casos de traição, desde as mais singelas, como delatar as peraltices do irmão aos pais, espalhar segredo contados por um amigo, passando pela infidelidade conjugal, pelas puxadas de tapete profissionais até as mais grandiosas, que mudaram o destino de pessoas, países e impérios, sendo a mais famosa traição foi a praticada por Judas em relação a Jesus.

Existem aquelas traições silenciosas, íntima, as mais dolorosas. São aquelas que cometemos contra nós mesmos diariamente. Aquelas que ocorrem quando deixamos de realizar as tarefas para as quais nos propusemos, fazer atividade física, ler um livro,

Quando deixamos de ser nós mesmos, abandonando sonhos, pessoas e lugares por conta de um conforto material, uma comodidade ou simplesmente em busca de fama.

Quando queremos ser a nossa melhor versão, mas desrespeitamos o próximo, agimos com preconceito e avareza. Quando colocamos os olhos nos escritos sagrados mas desviamos os olhos daqueles que estão vulneráveis, não reconhecemos o valor de cada um.

E há tantas outras.

Inúmeras traições cometemos diariamente contra nós mesmos. Talvez a pior seja quando deixamos de cumprir o papel para o qual nascemos, perdendo nossa essência por medo dos outros, por busca por riqueza e fama ou simplesmente por não querer pagar o preço.

E nesses momentos nos tornamos depressivos, ansiosos, frustrados, apáticos ou violentos e passamos a buscar fugas em vícios que, longe de ser uma solução, aprofundam mais os sintomas.

Não há uma receita para deixarmos de nos trair. Talvez buscar se conhecer ao máximo, diminuindo a distância entre o que pensamos, sentimos e fazemos, seja um primeiro passo.

Que aprendamos a lidar com a traição alheia, mas, sobretudo, a não sermos nossos próprios algozes — porque perder-se de si mesmo é a mais cruel de todas as traições.

Que saibamos o que somos e do que gostamos, sabendo que fazemos parte de algo maior. Como a senhora que resolveu eternizar exteriormente as suas memórias. Talvez sabendo que elas não permaneceriam dentro de si.


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