A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


O Antigo Testamento: uma introdução aos seus livros, personagens e temas


Por: Fernando Razente
Data: 19/05/2025
  • Compartilhar:



Por Prof. Fernando Razente[1]

 

“Era necessário  que se cumprisse tudo o que estava escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” – Jesus, Evangelho de Lucas, 24.44

 

Esta nova série de artigos leva o título de “Conhecimentos gerais da Bíblia”, série que precede outro tema que pretendo abordar, isto é, sobre os “Símbolos de Fé da IPB”. Nesta nova série, a primeira pergunta que precisamos fazer é: O que significa a palavra Bíblia? Estudiosos localizam o termo Bíblia como tendo origem no termo grego biblos, designação dada ao revestimento externo do junco de papiro no Egito durante o século 11 a.C.[2] Foi apenas por volta do século 2 d.C. que os cristãos começaram a usar esse termo para referir-se ao conjunto de textos inspirados por Deus.

Historicamente, esse conjunto de textos inspirados por Deus foi dividido em duas partes denominadas Testamentos. Os assim chamados Antigo Testamento e o Novo Testamento. Hoje de maneira geral – e de forma mais detida por alguns dias – iremos nos concentrar no primeiro conjunto de textos inspirados por Deus ou o primeiro Testamento, também conhecido como o Antigo Testamento, tratando de seus livros, personagens e seus temas principais.

 

Os livros

O termo hebraico para Testamento é berith, cujo significado é “aliança, contrato, acordo entre duas partes.” O Antigo Testamento foi chamado primeiramente de “a aliança” nos dias de Moisés, conforme lemos em Êxodo 24.8, e a divisão mais antiga da Aliança, por assim dizer, era dupla: a Lei e os Profetas. Essa é a distinção que se encontra nos costumes de muitos rabinos e nos Manuscritos do Mar Morto.

Posteriormente, encontramos uma divisão diferente, estruturada não em duas, mas em três seções, que juntas somavam 24 livros. Na seção da Lei estavam contidos os livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Na seção dos Profetas ou Nevi’im, estavam os Profetas Anteriores (Josué, Juízes, Samuel, Reis) e os Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os Doze). Na última seção chamada de Escritos ou Kethuvim estavam os Livros Poéticos (Salmos, Jó e Provérbios), os Cinco Rolos ou Megilloth (Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações e Ester) e, por fim, os Livros Históricos (Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas).

Tal divisão – embora diferente da divisão veterotestamentária que conhecemos – carrega o mesmo conteúdo. O nome que foi dado a essa divisão é Tanakh, sigla formada pelas iniciais dos três grupos ou seções da Aliança: Torá (T), Nevi’im (N) e Kethuvim (K). Assim era formado o que conhecemos hoje por Antigo Testamento ou Bíblia Hebraica.

As Escrituras Hebraicas foram traduzidas para o grego em Alexandria, no Egito, por volta de 250-150 a.C. Essa versão ficou conhecida como Septuaginta (LXX), pois foi produzida por um grupo de 72 (ou 70) sábios judeus, que foram enviados por Ptolomeu II Filadelfo (308-246 a.C.), rei do Egito, para traduzir o Antigo Testamento do hebraico para o grego.

Nessa tradução, o Antigo Testamento foi organizado de acordo com o assunto (que é a base da classificação atual): cinco livros da Lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), doze livros históricos (Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester), cinco livros poéticos (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares) e 17 livros proféticos (maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel e menores: Oseias, Amós, Joel, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias). Ao todo 39 livros.

 

Os personagens

Quanto aos personagens principais do Antigo Testamento, podemos identificar em ordem, conforme a divisão mais tradicional, de Gênesis a Malaquias. Em Gênesis: Adão e Eva, Noé, Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, Jacó e Raquel e José.

De Êxodo a Josué: Moisés, Arão, Miriã, Faraó, Josué, Calebe, Raabe. De Juízes a Ester: Débora, Gideão, Sansão, Jefté, Rute, Noemi, Boaz, Samuel, Saul, Davi, Ana (mãe de Samuel), Natã, Absalão, Bate-Seba, Joabe, Salomão, Jeroboão, Elias, Acabe, Jezabel, Eliseu, Ezequias, Josias, Naamã, Jeú, Asafe, os levitas, Salomão, Roboão, Asa, Ezequias, Josias, Esdras, Zorobabel, Jesua Neemias, Tobias, Sambalate, Ester, Mardoqueu, Assuero e Hamã.

De Jó a Cantares: Jó, Elifaz, Bildade, Zofar, Eliú, filhos de Corá e Sulamita. E de Isaías a Malaquias: Isaías, Ezequias, Senaqueribe, Jeremias, Baruque, Zedequias, Passur, Ezequiel (filho de Buzi), Daniel, Hananias, Misael, Azarias, Nabucodonosor, Oséias, Gômer (sua esposa), Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zorobabel, Josué (sumo sacerdote), Zacarias e Malaquias.

 

Seus temas

O Antigo Testamento gira em torno do relacionamento de Deus, o Criador, com suas criaturas, caídas em pecado, e na demonstração de seu juízo, mas também de sua graça através de alianças sucessivas, que fazem parte uma supra-aliança, chamada, teologicamente, de Aliança da Graça. Essas alianças sucessivas – dentro de uma supra-aliança – formam uma linha teológica contínua. Logo, a Aliança da Graça deve ser vista como estrutura geral da revelação especial de Deus.

Onde começa a Aliança da Graça? Primeiro, em Gênesis, Deus entrou em um pacto ou Aliança de obras com Adão, do qual o próprio Adão não foi capaz de cumprir com as exigências de tal aliança: “Mas eles, como Adão, quebraram a aliança e ali me traíram.” (Oséias 6.7).

Em seguida, ainda em Gênesis, Deus então estabelece um pacto ou Aliança de Graça com Adão, prometendo livremente a ele e a Eva que da descendência da mulher viria aquele que esmagaria a cabeça da serpente, destruindo as obras de satanás e trazendo redenção. Deus, então, veste Adão e Eva com pele de animal, cobrindo suas vergonhas e culpas (prefigurando um sacrifício, que seria definitivamente realizado em Cristo, o Cordeiro imolado que cobre nossas culpas com seu sangue e justiça).

Esse pacto da graça com Adão é estendido para sua posteridade, sendo administrado por Deus de formas diferentes ao longo da história veterotestamentária, culminando numa nova e mais profunda administração desta mesma Aliança da graça em Cristo Jesus, no Novo Testamento, chamado de Nova Aliança.

 Tais administrações ou intra-alianças são as seguintes alianças: com Noé (Gênesis 9), com Abraão, Isaque e Jacó (Gênesis 15 a 50), com Moisés e seu povo no Sinai (Êxodo 19–24), com Daví e sua descendência (2 Samuel 7). Em Jeremias 31.31, uma Nova forma de administração da Aliança da Graça é antecipada, a Nova Aliança em Jesus Cristo, com novos sacramentos, novo povo e um sacríficio novo e definitivo, não bodes e carneiros, mas o próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus, da descendência de Davi, estabelecendo o Reino de Deus.

Em suma, vemos que as alianças não são desconectadas, mas desenvolvem um mesmo propósito redentor. Aquilo que os profetas anunciaram no Antigo Testamento é que uma nova aliança seria estabelecida, cumprindo as prefigurações e sombras das antigas formas de administração da Aliança da Graça, sendo superior, escrita no coração e selada pelo Espírito — uma antecipação clara da Nova Aliança em Jesus Cristo. Ou seja, o tema central e principal do Antigo Testamento é a Aliança da Graça firmada na pessoa e obras do Filho de Deus, Jesus Cristo!

No próximo texto, iremos tratar de forma elementar alguns dos personagens do Antigo Testamento, como: Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés, Gideão, Sansão, Samuel, Davi, Salomão, Jó, Daniel, Esdras e Neemias.

Uma longa jornada de estudos e conhecimentos gerais da Bíblia nos aguarda!

Que Deus nos abençoe.



[1]Professor de Ciências Sociais e diácono ordenado da Igreja Presbiteriana do Brasil em Nova Esperança.

[2]GEISLER, Norman L.; NIX, William E. Introdução Geral à Bíblia: uma análise abrangente da inspiração, canonização, transmissão e tradução. São Paulo: Vida Nova, 2021. p.21.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.