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Não amáveis, porém amados


Por: Fernando Razente
Data: 26/09/2022
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Romanos 1.7 (a): “A todos os amados de Deus que estais em Roma”

Na semana passada vimos Paulo declarar sua crença no chamado genuíno dos seus destinatários (Rm 1.6b). Hoje, veremos a partir do início do versículo 7, Paulo reforçando — como que dilatando ainda mais seu coração pelos romanos — sua crença de que ele escreve para irmãos na fé, pois ele se dirige “A todos os amados de Deus que estais em Roma” (Rm 1.7a)

Surge diante de nós uma declaração interessantíssima aqui: os romanos são “amados de Deus”. Afinal, por que os cristãos romanos são chamados de “amados de Deus” por Paulo? O que faz com que Deus os ame? E mais, o que faz com que Deus nos ame? A resposta, caro leitor, pode lhe surpreender, pois o amor de Deus — embora seja a nossa maior necessidade — nos é dado da forma como geralmente não queremos e não esperamos recebê-lo.

Para desenvolver essa ideia, gostaria de levá-lo a pensar sobre a natureza do amor de Deus a partir de um dos melhores livros que já li sobre o tema. O escritor e antigo professor de Oxford e Cambridge, C. S. Lewis (1898-1963), na sua obra Os quatro amores [1960] — um clássico de filosofia moral — procurou explorar a natureza do amor na perspectiva cristã, elaborando uma teoria dos amores como afeição, amizade, eros e finalmente, o amor divino, a caridade ou ágape.

Como observa Lewis, a principal característica do ágape (ou caritas no latim) é ser ele completamente incondicional, isto é, independente das condições do seu alvo. É um amor que se doa graciosamente; e esse, caro leitor, é especificamente o amor de Deus. Agora, por quê esse seria um tipo de amor que não desejaríamos naturalmente, embora seja a nossa maior necessidade?

Lewis responderia isso nos lembrando que faz parte da nossa natureza desejarmos sermos amados por causa de alguma coisa em nós. Gostamos de pensar que somos amáveis, que temos virtudes que atraem. Ele escreveu: “Desejamos ser amados por nossa inteligência, beleza, generosidade, justiça, utilidade.” Mas, o ágape é um balde de água fria necessário a uma alma adormecida pelo autoengano da virtude própria e dignidade.

Lewis continua: “O primeiro indício de que alguém nos oferece o amor mais elevado de todos [ágape] é um choque terrível.” (p. 176). Afinal, o que esse amor faz é nos dizer — explicitamente — que por causa de nossos pecados, não somos e não temos nada daquilo que atrairia a atenção e o cuidado paternal de Deus. Todavia, ainda assim, Ele escolhe nos amar com um amor fiel e incondicional. É um amor que, simultaneamente, destrói e constrói nossa imagem. Destrói nossa autoimagem distorcida (seres amáveis e dignos), e constrói nossa verdadeira imagem diante de Deus (não amáveis, mas amados por graça).

Por isso, os cristãos — os romanos, todos os que já existiram, existem e vão se tornar — desse modo, “[...] não são amados porque são amáveis”, diz Lewis, ou seja, porque possuem virtudes, qualidades e caráter suficiente para cativar os pensamentos de Deus. Na verdade, todos os cristãos reconhecem que não possuem nenhum direito, vantagem ou excepcionalidade diante de Deus.

Eles abandonam suas armas de autojustiça (Fl 3.9) e esperam, confiam dependem de uma só coisa para experimentarem a comunhão com o Deus de puro amor: a maravilhosa graça que está em Jesus Cristo. Por isso, a resposta do porquê os cristãos são chamados de “amados de Deus” é simples e maravilhosamente “[...] porque o Amor de Deus está naqueles que os amam.” (p. 178).

Essa é a lógica da graça: os “amados de Deus” nunca foram amados por serem seres naturalmente amáveis ou dignos do amor divino. Na lógica do evangelho de Cristo, “Deus prova o seu amor para conosco, pelo fato de que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Foi nesse estado de total impotência, perdição e incapacidade espiritual que o ágape de Deus foi posto sobre nós pela mediação de Cristo e nos transformou através da perfeita e suficiente obra de redenção de seu Filho. Não somos amáveis, mas somos amados.

Na semana que vem, se Deus quiser, veremos as bênçãos apostólicas advindas desse evangelho de amor.

Até a próxima.

Que Deus te abençoe!

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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