A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Desprezo e ignorância


Por: Fernando Razente
Data: 26/02/2024
  • Compartilhar:

Romanos 2.4 (ARA): Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?”

Romanos 2.4 (Nestlé 1904): “? το? πλο?του τ?ς χρηστ?τητος α?το?, κα? τ?ς ?νοχ?ς, κα? τ?ς μακροθυμ?ας καταφρονε?ς, ?γνο?ν ?τι τ? χρηστ?ν το? Θεο? ε?ς μετ?νοι?ν σε ?γει?”

Depois de demonstrar a indesculpabilidade do judeu devido ao seu juízo hipócrita (Rm 2.1-2), o apóstolo Paulo, nos versos 3 e 4, trata de duas situações: incoerência (v.3) e heterodoxia (v.4). O judeu moralista é confrontado nessas duas formas de escape de sua culpa.

Vimos na semana passada que no versículo 3, o judeu moralista é levado a reconhecer que o juízo de Deus é implacável e imparcial e que, com base no critério de Sua Santa Lei, ele também não estará impune.

Agora, no versículo 4, o judeu moralista é levado a perceber que suas aspirações de ser tratado por Deus de maneira especial – ainda que faça o mesmo que condena nos outros – não possui base teológica sólida; não é uma visão ortodoxa das Escrituras, mas heterodoxa!

Em outras palavras, o que Paulo está tratando aqui é de uma tentativa do moralista em se refugiar em um argumento teológico mal elaborado e aplicado. Que argumento é este? Atualmente nós conhecemos mais pela frase “Deus é um Deus de amor”.

Trata-se de um argumento que apela para o caráter de Deus de maneira parcial; que distorce as riquezas de Sua bondade, tolerância e paciência. O judeu moralista – contra a acusação de Paulo de que ele não poderia se ver livre do juízo de Deus – poderia argumentar em sua consciência que isso não é verdade. Por quê? E o judeu responderia: “Porque Deus é bom, demasiadamente longânimo, e muito amoroso para castigar os filhos de Abraão.”

É bem possível que esse judeu moralista até estivesse pensando em algum texto bíblico, como o Salmo 103.8: “O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno.” Mas esse tipo de raciocínio é o que o comentarista anglicano John Stott chama de “teologismo manipulador” que, ao invés de honrar o amor e a misericórdia de Deus, denota profundo desprezo (καταφρονε?ς; lit. um insulto, uma leviandade)!

Quem argumenta que, por Deus ser misericordioso, Ele não punirá os pecados não abandonados pelo arrependimento, é alguém que despreza a mesma misericórdia, além de ser profundamente ignorante (?γνο?ν; lit. não saber, desconhecer) da doutrina da salvação. Pois qual a razão de existir a bondade, tolerância e longanimidade de Deus senão para proporcionar “(...) um espaço no qual possamos nos arrepender, não para dar-nos uma desculpa para pecarmos” (STOTT, 2007, p. 91)?

O judeu moralista olhava para a bondade de Deus como uma licença para pecar e não como um chamado ao arrependimento! Mas como lemos Paulo declarando no versículo 4, isso é desprezar a Deus e ignorar o verdadeiro propósito do amor tolerante de Deus. E qual é, então, o propósito correto?

 Paulo diz: “(...) a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento (μετ?νοι?ν)”. O teólogo francês João Calvino argumenta que o objetivo de Deus aqui “(...) é suavizar sua (do moralista) perversidade com Sua bondade; ele (...) os convida ao arrependimento.” O puritano inglês Matthew Henry diz que “(...) o desígnio dela (bondade de Deus) é te levar ao arrependimento.”

Logo, tenhamos por certo que o alvo de Deus em demonstrar sua bondade não é produzir soberba ou libertinagem espiritual, mas arrependimento salvador, que consiste em uma mudança de mente, no homem interior, que gera uma mudança de vida exterior.

É curioso perceber também que aquilo que o judeu usava para disfarçar sua imoralidade interior com hipocrisia (a bondade de Deus) era exatamente o que Deus havia intencionado usar para transformar seu interior. Isso nos ensina que uma teologia (visão de Deus) errada, produz um comportamento errado! Por não compreender ortodoxamente o propósito da bondade de Deus (conduzir ao arrependimento), o judeu a usava como pretexto para continuar na hipocrisia. Tal é a escuridão do coração longe de Deus que faz mal uso da tolerância divina piorando sua situação!

Daí a necessidade de uma boa teologia para lidar com os nossos pecados. A boa teologia é aquele que faz o pecador nutrir uma verdadeira “(...) consideração da bondade de Deus, da sua bondade comum para com todos (a bondade da sua providência, da sua paciência e das suas ofertas)” e, que tal consideração “(...) deve ser eficaz para levar todos nós ao arrependimento; e a razão pela qual tantos continuam na impenitência é porque não sabem e não consideram isso.”, declara Henry.

Portanto, aprendamos com Paulo a não sermos pessoas que utilizam a doutrina da tolerância amorosa de Deus como um pretexto para esconder nossos pecados e viver hipocritamente, pois isso é desprezar a Deus e ignorar a finalidade de sua bondade e tolerância. Olhemos sempre para os testemunhos de Sua maravilhosa paciência como um convite ao arrependimento diário.

Caro leitor, ore a Deus comigo agora:

Deus onipotente e Pai celestial…

Confessamos a Ti que, por muitas vezes, desprezamos e insultamos seu caráter bondoso, tolerante, longânimo e profundamente paciente, especialmente quando usamos de Seu santo caráter como pretexto para vivermos em licenciosidades, hipocrisia e maldade. Reconhecemos que ignoramos o desígnio de Sua Santa paciência e por essa ignorância somos condenados! Por isso, nosso Senhor e Pai, perdoa-nos o insulto gravíssimo e levanta o Seu rosto sobre nós para que vejamos com clareza o alvo de sua tolerância. Pelo Teu Espírito Santo, faça-nos considerar Sua paciência corretamente e guia-nos pela mão ao arrependimento sincero, renovando nossa mente e nossa prática. Pedimos, mas não fiados em nossa inútil justiça e nome, mas fiados em Seu Filho, Jesus Cristo, Aquele que de Ti veio e que a nós nos revelou a Ti corretamente; Ele que viveu perfeitamente em nosso lugar, nunca pecando ou fazendo mal uso de seu Ser; Ele que morreu como um sacrifício expiatório por nossos pecados de desprezo e ignorância; fundados n’Ele pela fé é que rogamos a Ti, crentes de que por Cristo e em Cristo recebemos agora o Seu perdão paternal. Amém.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.