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A natureza do Evangelho


Por: Fernando Razente
Data: 12/12/2022
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Romanos 1.16b (ARA): “[...] porque é o poder de Deus”

Na semana passada analisamos a primeira parte do versículo dezesseis, onde Paulo declarou que não se envergonhava do evangelho (Rm 1.16a). Hoje, veremos a razão que Paulo apresenta para não se envergonhar, mas se sentir animado e encorajado para pregar a mensagem cristã na orgulhosa Roma.

Antes disso, quero dizer que não é minha intenção — nos artigos dessa exposição que escrevo — apresentar um estudo gramatical ou semântico da língua original em que Romanos foi escrito. Porém — como se verá neste texto — a busca pelo sentido original de um texto em contraposição com as concepções modernas pode ser libertador sobre algum ponto doutrinário. Dito isso, vamos ao texto.

O autor nos apresenta a razão, o porquê de não se envergonhar do evangelho: “[...] porque é o poder [δ?ναμις/dynamis] de Deus.” (Rm 1.16b). A primeira informação que precisamos destacar é que, conforme Paulo, o evangelho é um “poder” e, o termo para poder no grego é dynamis, de onde extraímos também a nossa palavra dinamite.

Logo, como muitos gostam de dizer quando expõem Romanos 1.16, Paulo está dizendo que o evangelho é uma dinamite divina. A ideia evoca a imaginação do leitor para algo que explode e arrasa as coisas, que fende rochas, abre buracos e destrói o que está ao seu redor. A pergunta é: será que Paulo pensou em dinamite quando colocou no papel essa palavra?

A resposta é não. Como podemos saber? O apóstolo Paulo, bem como seus leitores originais, viveram há séculos, numa época onde armas com pólvora, bombas e dinamites ainda não existiam. Portanto, seria impossível o autor estar se referindo a algo que nem ele e nem os leitores não tivessem o mínimo de conhecimento.

 Como argumenta D. A. Carson (Ph.D. em Novo Testamento pela Universidade de Cambridge), essa transposição histórica de sentidos trata-se de uma das muitas falácias vocabulares, chamada de anacronismo semântico, que “[...] ocorre quando um significado mais recente de certa palavra é transportado para a literatura antiga.” (2001, p. 31).

Como, então, devemos entender o sentido de dynamis? Pela chamada analogia da fé, uma regra hermenêutica que nos orienta a encontrar na própria Escritura Sagrada o equivalente do termo paulino. Descobrimos, por esse método, que o “poder de Deus” a que Paulo se refere é sempre identificado nas Escrituras Sagradas como o poder que ressuscitou a Jesus dos mortos.

Sendo assim, o evangelho é o “poder” porque ele é o meio pelo qual Deus opera seu milagre sobrenatural de ressuscitar os homens mortos em seus delitos e pecados para uma nova vida. Quando pregamos o genuíno evangelho da graça, Deus atua através da mensagem, concedendo ao eleito que ouve, aquela gloriosa fé salvadora, que confia na obra de redenção consumada de Cristo, e por meio dessa redenção tem sua alma regenerada. E essa ressurreição ou regeneração não implica destruição ou explosões, mas reconstrução e recriação do homem à imagem de Cristo.

Por fim, o ensino de que a natureza poderosa de recriar o homem que está no evangelho possui muitas implicações, mas quero enfatizar apenas uma: que nenhuma mensagem, nenhum ensino, nenhuma descoberta científica ou tecnológica pode conceder aquela genuína vida espiritual e nova no homem pecador senão o evangelho de Cristo. Somente o evangelho é identificado como o poder de Deus para a salvação dos pecadores.

Por isso, como cristãos não podemos abrir mão do simples evangelho de Jesus na busca por novos convertidos, substituindo-o por mensagens humanistas ou misturando-o com doutrinas e tradições humanas. Se fizermos isso, estaremos implicitamente dizendo que o evangelho não é o poder suficiente de Deus, mas que existem outros meios de levar o homem a novidade de vida. Todavia, na tentativa de levar ao homem àquele estado de regeneração, devemos nos lembrar que somente o evangelho de Jesus é o genuíno e eficaz poder de Deus para a salvação.

Até a próxima.

Que Deus te abençoe!

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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