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Romanos: contexto do prefácio


Por: Fernando Razente
Data: 18/04/2022
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Embora o propósito geral da epístola aos Romanos seja, como o exegeta João Calvino (1509-1564) enfatizou, ensinar que “(...) nós somos justificados pela fé”, o objetivo específico do prefácio gira em torno de outras questões. O prefácio que compõe a introdução de Paulo aos Romanos (Rm 1.1-7) é o maior, se comparado com os outros prefácios do autor (em 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom).

A pergunta que precisamos fazer é: qual seria a razão disso? Na interpretação bíblica, levar em consideração o amplo contexto de uma determinada porção das Escrituras é sempre progredir rumo ao entendimento correto de seu significado. Conforme apontou corretamente o estudioso do Novo Testamento M. C. Tenney, “Somente na medida em que o ensino de qualquer volume pode ser visto no contexto mais lato da situação que o produziu é que se pode obter uma verdadeira perspectiva de sua significação.” (1950. p. 116).

Em outras palavras, entender o que precedeu e condicionou a elaboração do prefácio incomum de Paulo nos dá uma perspectiva do próprio sentido do que Paulo escreveu nessa porção. Daí não ser de somenos analisar esse contexto antes do próprio texto em si. Comentaristas e historiadores da epístola paulina apontam para, pelo menos, quatro circunstâncias condicionantes:

1) Em primeiro lugar, Paulo nutria dentro de si o interesse de conhecer os irmãos de Roma para compartilhar com eles algum dom espiritual (Rm 1.11,15), mas foi impossibilitado de visitar Roma muitas vezes (Rm 1.13;15.22).

2) Em segundo lugar, Paulo também tinha planos de ir para a Espanha evangelizar (Rm 15.22-29). Naquela época, a Espanha era uma colônia romana no ocidente, e Paulo queria chegar até aquela colônia importante para pregar o evangelho de Jesus. O apóstolo acreditava que Roma seria uma ótima base de operações para esse projeto evangelístico e faria da capital do Império seu “quartel general”.

 3) Em terceiro lugar, Paulo estava em Corinto, prestes a ir para a Palestina, levando uma oferta das igrejas gentílicas para os pobres cristãos da igreja de Jerusalém, e precisava de orações para que este objetivo tivesse sucesso. Paulo desejava incluir os romanos na sua lista de apoio espiritual através de orações (Rm 15.25-33).

4) Em quarto lugar, comentaristas argumentam que na igreja de Roma havia uma série de boatos pejorativos tratando Paulo como um mercenário que plantava igrejas com interesses financeiros e que pregava abertamente contra Moisés e o Judaísmo.

O professor Augustus Nicodemus resume toda a situação: “Paulo estava planejando visitar a igreja de Roma. Ele queria passar um tempo de comunhão com aqueles cristãos e ser edificado, pois não conhecia pessoalmente. Sabia, contudo, que havia uma série de boatos a seu respeito que circulavam entre os irmãos romanos. Esses boatos caracterizavam [Paulo] como um mercenário que plantava igrejas por dinheiro e pregava contra Moisés e as gloriosas instituições da antiga aliança.” (2019. p. 26.).

Essas circunstâncias condicionantes explicam a extensão do prefácio de Paulo. Afinal, à luz dessas questões era imperativo que Paulo, já no início de sua epístola, apresentasse as suas verdadeiras credenciais a fim de calar os boatos e adquirir apoio espiritual dos irmãos de Roma para os seus projetos apostólicos.

É isso o que Paulo faz em seu prefácio, apresentando suas credenciais: 1) quem ele era (v.1 parte “a” e “b”); 2) sua vocação (v. 1, parte “c” a “d”); bem como 3) a natureza da mensagem que ele proclamava (v. 1, parte “f” a v. 4). Tudo isso, conforme defende Stott, visava o fim de que a igreja de Roma lhe conferisse crédito, comunhão, apoio e orações (2007. p. 32).

Paulo, como já dissemos no texto da semana passada, não fundou e nem conhecia os membros da igreja de Roma. Não havia prévia intimidade que tornasse desnecessária uma apresentação mais prolongada. Por isso, Paulo “(...) via [essa] necessidade de estabelecer as suas credenciais de apóstolo, apresentando um relato completo sobre o evangelho que ele pregava”.

Por isso, a carta [e seu prefácio especial] pode ser resumida como “(...) uma exposição clara e profunda da mensagem que Paulo pregava, a qual foi dirigida aos romanos, em preparação à sua visita e em busca de ganhar apoio deles para a missão.” (NICODEMUS, 2019. p. 23).

Dito isso, no texto da semana que vem, se Deus quiser, iremos começar a analisar o versículo 1 do capítulo 1 de Romanos, que trata das credenciais que Paulo apresenta ou como Calvino disse “as provas do apostolado” de Paulo.

?     Representação do século XVI do apóstolo Paulo escrevendo suas epístolas. Obra do caravagista Valentin de Boulogne (1618-1620). Conforme Romanos 16:22, Paulo não escreveu a epístola aos Romanos de próprio punho, mas Tércio atuou como seu copista.

 

Até a próxima!

Kyrios Iesous

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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