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A fé como meio de apropriação das bênçãos de Deus - Parte 1


Por: Fernando Razente
Data: 20/01/2025
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Romanos 3:3-4(a) [ARA]: 3 E daí? Se alguns não creram, a incredulidade deles virá desfazer a fidelidade de Deus? 4 (a) De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem…”

Na exposição dos primeiros versículos de Romanos, capítulo três, abordamos a possível objeção dos judeus em relação às declarações de Paulo no capítulo 2 sobre a verdadeira circuncisão. Lembremos que Paulo havia dito que verdadeiramente judeu é aquele que é inteiormente, e que a verdadeira ciruncisão é a que ocorre no coração do crente, através da operação do Espírito Santo (Cf. Rm 2.28-29). É ali, no coração, que Deus estabelece sua aliança. No capítulo 3.1-2, o judeu parece questionar qual seria a utilidade da circuncisão física e a vantagem em ser judeu exteriormente, ao que Paulo responde que há muitas vantens, sendo a principal o fato de Deus ter confiado à nação judaica os seus santos oráculos, isto é, Sua Palavra inspirada.

Agora, no verso 3, Paulo diz: “E daí? Se alguns (τινες) não creram (?π?στησ?ν), a incredulidade (?πιστ?α) deles virá desfazer (καταργ?σει) a fidelidade de Deus (π?στιν το? Θεο?)?” (Versão ARA).  Paulo está lidando com mais uma possível objeção dos judeus. Que objeção é essa? A pergunta do v. 3 apresenta um contraste entre a fidelidade de Deus (π?στιν το? Θεο?), e a infidelidade e/ou incredulidade[1] de alguns (τινες) – e não todos – judeus. Analisando o contexto, observamos que essa infidelidade se refere aos oráculos de Deus (Rm 3.2).  Ou seja, não obstante Deus ter se revelado de maneira especial e graciosa ao povo do pacto, feito registrado essa revelação para que tivessem fé e fossem salvos, esses alguns judeus mantiveram-se incrédulos quanto às promessas do Senhor.

Mas isso não anula as promessas de Deus? Em outras palavras, essa incredulidade e/ou infidelidade deste judeus não faz com que Deus seja tido como infiel ou que sua Palavra perca sua eficácia? Esse é o sentido da objeção. E o que Paulo responde? A resposta é enfática“De maneira nenhuma! (v. 4).

Os judeus poderiam pensar que, se há alguns dentre os judeus que não creram nos oráculos de Deus (v. 2), o pacto de Deus com seu povo teria sido ab-rogado, desfeito. Ao que Paulo responde, de forma enfática, que isso não pode acontecer de maneira nenhuma. Em outras palavras, o judeu não deveria pensar de forma alguma que devido a incredulidade de alguns de Israel na Palavra de Deus, a promessa e as bênçãos d’Ele para o seu povo do pacto teriam sido anuladas,[2] como se Deus pudesse ser infiel.

Na verdade, Deus permanece fiel às suas promessas, mesmo em meio a incredulidade de muitos. Segundo Calvino, Paulo argumenta que “(...) é impossível que a verdade de Deus perca sua substância mediante a fraqueza humana.”[3] E como atesta Paulo em sua segunda carta a Timóteo, se nós “(...) somos infiéis, ele [Deus] permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo.” (2 Tm 2.13 ARA, acréscimo didático meu em colchetes).

Paulo demonstra – na sequência do v.4, parte “a” – a base de sua declaração: “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo homem…” Dois axiomas fundamentais da fé bíblica são usados aqui pelo apóstolo em seu argumento: 1) Deus é verdadeiro e 2) Todo o homem é mentiroso.

Primeiro, Deus é verdadeiro. Nele não há falsidade ou infidelidade. Ele é verdadeiro, e isso significa – no contexto imediato dessa passagem – que ele está sempre pronto a permanecer fiel às suas promessas e cumprir efetivamente tudo quanto diz em sua Santa Palavra.

Segundo, a humanidade (π?ς/pas = todo e qualquer ser humano), por outro lado, é mentirosa e falsificadora da Palavra de Deus que é a verdade.[4] Essa humanidade falsificadora da verdade não pode, essencialmente, anular ou destruir a Palavra e as promessas de Deus, mas pode se privar das bênçãos salvadoras e santificadoras pela incredulidade. Esse era exatamente o caso daqueles alguns judeus!

Como disse Calvino, diferente do que os judeus poderiam esperar, a bênção da salvação divina prevalecia entre eles, e Deus não anularia suas promessas, conquanto tais promessas sejam recebidas com fé genuína, pois é somente através da fé que o pacto da graça é confirmado por ambas as partes.[5]

Aprendemos hoje algumas lições: 1) Que Deus é sempre fiel àquilo que prometeu em sua Palavra. 2) Que todo ser humano é naturalmente incrédulo e infiel. 3) Que aqueles que recebem de graça o dom da fé, e creem nas promessas do Senhor, veem em suas vidas a manifestação da fidelidade do Senhor. 4) Que aqueles que permanecem incrédulos, não desfrutam das promessas graciosas do Senhor, mas são condenados. 5) Que a fé pura e simples é, portanto, o meio que Deus estabeleceu para que seu povo se aproprie salvadoramente da obra consumada de Cristo. 6) Que sem uma vida de fé, ainda que estejamos na Igreja, ouçamos sua Palavra e participemos dos sacramentos, não desfrutaremos da graça do Senhor.

Amém.



[1]Perceba que, diante do exposto, a “fidelidade” (π?στιν) de Deus está sendo contrastada com a “infidelidade” (?πιστ?α) de alguns (τινες) dentre os judeus. In: HENDRIKSEN, William. Comentários do Novo Testamento - Romanos. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011. p. 142.

[2]Conforme Calvino, o significado mais adequado do verbo καταργ?σει no contexto dessa passagem é “tornar-se inútil” ou “ineficaz”, pois o verbo está aplicado ao termo fidelidade de Deus. In: CALVINO, João. Romanos. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 124.

[3]CALVINO, João. Romanos. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 124.

[4]Os ímpios, como Paulo já havia dito em Romanos 1. 25-31, buscam transformar a verdade de Deus em mentira, recebendo o justo castigo por isso.

[5]CALVINO, João. Romanos. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 124.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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