A condição do Evangelho

Romanos 1.16d: “[...] de todo aquele que crê”

No texto da semana passada, trabalhei o conceito bíblico-paulino de salvação, demonstrando a amplitude do termo sot?rian, que abrange os atos graciosos de Deus para com a alma humana. Hoje, quero analisar o que os teólogos têm chamado de “a condição do evangelho”, a partir da parte d do versículo 16.

Anteriormente, Paulo havia dito que o evangelho é o único poder de Deus, e esse poder tem como propósito a salvação da alma humana em sua totalidade existencial (passado, presente e futuro). Na continuação do texto, entretanto, Paulo estabelece uma condição para experimentar essa salvação: a fé. Ele escreve: “[...] de todo aquele que crê.” A salvação, em linhas gerais, é somente para quem crê.

Dito isso, a primeira coisa que precisamos estabelecer neste artigo é que o evangelho de Cristo tem uma condição. A segunda coisa é saber o que a Bíblia nos diz sobre a natureza dessa condição. Vejamos.

Sobre o evangelho ter uma condição: a necessidade de dar ênfase ao fato bíblico de que o evangelho da graça possui uma condição surge do pensamento popular de que, por ser uma graça, não há nenhuma exigência ao indivíduo. Esse é um pensamento comum, mas equivocado.

Certamente, a salvação — como venho demonstrando — é um ato gracioso da parte de Deus, mas que estabelece uma condição para recebê-la. Isso não contradiz a graça, nem torna a salvação meritória, apenas demonstra a responsabilidade humana perante a misericórdia de Deus. Aliás — como veremos mais adiante — a própria condição é uma graça concedida por Deus. Portanto, fixemos agora em nossa mente que o evangelho da graça exige uma ação responsável do ser humano, e que isso em nada contradiz a doutrina da graça.

Sobre a natureza da condição: já que o evangelho da graça exige uma ação do indivíduo — uma ação ativa perante a mensagem da cruz de Cristo — precisamos saber que ação é essa. Essa ação é chamada de fé: “[...] de todo aquele que crê”.

Por “todo”, Paulo está dizendo que não importa para Deus quem você seja, homem, mulher, escravo, livre, patrão, funcionário, criança, jovem ou adulto (veremos mais sobre a extensão do evangelho no próximo artigo). Não importa quem você é; o que importa é que você é chamado assim como estás a crer, e crer é a única condição verdadeira do evangelho da graça.

Mas, afinal, o que é crer? A palavra grega usada por Paulo é πιστε?οντι (pisteuonti), que possui o significado sagrado de “ser persuadido pelo Senhor”. Logo, crer em última análise, não é uma obra humana (daí a condição não corromper a graça).

Na verdade, crer é o resultado da ação interna do próprio Deus persuadindo o indivíduo a deixar suas antigas e incorretas convicções para abraçar a mensagem do evangelho de Cristo. Crer é ser persuadido pelo Senhor. Ponto. Essa é a condição do evangelho. Você precisa ser persuadido pelo Senhor para receber a salvação.

É claro que isso implica em uma resposta humana à mensagem de Deus, pois de maneira misteriosa para nós, o nosso crer e o ser persuadido pelo Senhor andam lado a lado. Você não pode se sentar diante da pregação do evangelho e simplesmente dizer: “Vou esperar Deus me persuadir”, como se você não tivesse parte nisso e responsabilidade.

Em suma, devemos deixar fixo em nossa mente que 1) a salvação possui uma condição e 2) a condição é crer, que consiste em duas etapas: deixar as antigas certezas e imediatamente abraçar a nova e transformadora certeza: o amor sacrificial e salvador de Jesus na cruz. E esse crer é, simultaneamente, uma responsabilidade humana e uma criação divina e soberana no coração do pecador.

Quando somos persuadidos pelo Senhor, cremos em sua mensagem, e quando cremos na sua mensagem, com uma fé inspirada e criada pelo próprio Deus em nós, somos verdadeiramente salvos; salvos pela graça, salvos pela obra consumada de Jesus Cristo. Por isso, neste momento, se você ainda não crê, creia no evangelho da graça e serás salvo.

Na semana que vem, se Deus permitir, veremos sobre a extensão do evangelho.

Até a próxima e que Deus te abençoe!