A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Piedade externa ou observância prática da lei de Deus?


Por: Fernando Razente
Data: 20/12/2024
  • Compartilhar:

Romanos 2.26 (ARA): “Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei, não será ela, porventura, considerada como circuncisão?” 

No texto anterior, vimos Paulo ensinando que o valor da circuncisão está naquilo que ela representa, ou seja, a consagração do circuncidado ao Deus da aliança. Paulo havia argumentado no verso 24 que, se a circuncisão – que era o selo e sinal dessa aliança de consagração – não é acompanhada de piedade, ela se torna, na prática, incircuncisão, que era o estado dos gentios apartados da aliança com o Senhor. Agora, no versículo 25, Paulo passa a tratar propriamente da situação dos gentios – os da incircuncisão – de uma forma inversa à ordem do verso 24.

Quem eram os incircuncisos? Aqueles que não estavam visivelmente incluídos na aliança de graça com Deus eram chamados de incircuncisos. Os judeus acreditavam que todos os gentios, por não terem o selo visível do pacto com Deus, estavam fora da aliança com o Senhor e seriam necessariamente condenados.

Porém, Paulo levanta uma situação possível e desconcertante para o judeu: “Se, pois, a incircuncisão observa os preceitos da lei…” Ou seja, e se um gentio, ainda que incircunciso, leva uma vida reta de consagração a Deus, crendo no Messias prometido  — este é sentido de “observar os preceitos da lei” — não será a sua situação visível de incircuncisão “considerada como circuncisão”?, questiona o apóstolo.

A imagem evocada por Paulo de um gentio incircunciso vivendo de forma piedosa conforme a lei do Senhor ilustra o ensino de que é “(...) uma coisa maior guardar a lei do que a circuncisão, que foi instituída por ela. Daí se segue que o incircunciso, desde que guarde a lei, supera em muito o judeu com sua circuncisão estéril e inútil, se ele for um transgressor da lei”, conforme observa Calvino.

Uma situação que nos ajudará a compreender ainda mais o argumento de Paulo aqui é o livro de Atos capítulo 10, 11 e 15.

No capítulo 10, temos o caso de um gentio incircunciso chamado Cornélio que demonstrava, na prática, viver uma vida piedosa que um judeu circunciso deveria viver. As orações perseverantes e as esmolas deste homem de Cesareia foram conhecidas por Deus, que enviou o apóstolo Pedro para pregar o evangelho a ele e aos seus.

No entanto, Pedro era judeu e tinha restrições escrupulosas para se relacionar com um incircunciso como Cronélio. Então Deus apareceu para o apóstolo Pedro em sonho e lhe encorajou para, sem medo, ir até a casa do centurião romano e ensiná-lo sobre Jesus Cristo, pois aquilo que o Senhor havia purificado não deveria ser considerado impuro.

Já no capítulo 11, após a conversão de Cornélio, Pedro retorna a Jerusalém, mas lá é repreendido por alguns judeus que haviam se convertido à fé cristã, mas eram legalistas e se apegavam a ritos externos. Estes judeus acusavam Pedro de entrar na casa de homens incircuncisos e comer com eles (Cf. Atos 11.3).

No capítulo 15, Lucas registra o clímax da controvérsia sobre a circuncisão dos gentios. Muitos judeus conversos ao cristianismo passaram a ensinar que se os gentios não fossem circuncidados não poderiam ser salvos (Cf. At 15.1).

Essa situação foi levada por Paulo e Barnabé para o conselho da igreja em Jerusalém. Após o parecer de Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, todos os presbíteros e apóstolos, sob orientação do Espírito Santo, decidiram não impor aos gentios a circuncisão, pois que pela fé Deus havia purificado o coração de muitos que se converteram a Cristo e obedeciam à Palavra.

Em suma, podemos observar na história da igreja exemplos de como gentios incircuncisos, pela graça de Deus, observavam a lei do Senhor, creram no Messias e, portanto, eram considerados por Deus como circuncisos de coração, puros e genuinamente consagrados.

Que possamos aprender que mais importante que os ritos externos é a realidade interna da consagração à Deus. Mais valor tem a purificação do coração do que a remoção da impureza externa. Melhor é a obediência à lei do Senhor que o cumprimento de ritos litúrgicos. Este versículo nos ensina duas coisas, conforme observa Geoffrey B. Wilson, que “(...) é possível ter a graça significada pelo sinal, independentemente do sinal propriamente dito” e “(...) inversamente, é evidente que também é possível possuir o sinal sem usufruir da justiça que se esperava que ele representasse.”

Amém.

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.