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O apostolado


Por: Fernando Razente
Data: 24/05/2022
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Romanos 1. 1(e): “...para ser apóstolo…”

 

Na semana passada nós vimos a respeito do chamado particular que Paulo recebeu de maneira irresistível. Hoje, veremos o propósito deste chamado. O autor, nesta altura do versículo, nos esclarece que esse chamado eficaz teve um propósito bem delimitado, que é a outra credencial de seu ministério: “para ser apóstolo”. Se, por um lado, escravo era uma posição de todo o cristão, o apostolado não era. Isso deve ficar claro para nós, pois vivemos em tempos onde muitos utilizam o termo apóstolo sem nenhuma preocupação com a verdadeira natureza desse ofício. 

O termo apóstolo (?π?στολος) é um termo grego que naquela época significava “alguém que é enviado” ou simplesmente “enviado”, e era usado como um tipo de delegação, designando uma pessoa que recebia a autoridade de outra para representá-la nos negócios. Era um termo muito comum e usado no mundo greco-romano para designar os comandantes de navios mercadores que representavam aquele que os enviou. 

É importante lembrar que Cristo é chamado de “Apóstolo” em Hebreus 3.1, pois Ele é o enviado do Pai para falar ao mundo aquilo que recebeu (João 12.49) do Pai. Todavia, o Senhor Jesus também utilizou este termo para designar aqueles que deveriam representá-lo fielmente (Lc 6.12-13) e serem líderes espirituais, pregando o evangelho e lançando as bases e fundamentos da fé cristã (Atos 2.42; Ef 2.20). Deste modo, como disse Calvino, a “[...] função do apóstolo consiste na pregação do evangelho”. 

Isso significa que Paulo, ao se apresentar como apóstolo, está querendo mostrar aos romanos que ele é um escravo do Rei Jesus, foi chamado irresistivelmente e não por vontade própria para aquele ministério específico na igreja de Deus de ser um apóstolo com o fim de representar a Cristo, como um servo fiel, na proclamação de sua mensagem como um embaixador (2 Cor 5.20). 

Paulo, após sua conversão em Damasco, foi graciosamente chamado para representar o Senhor em seus negócios eternos; mas perceba novamente que não foi Paulo que se chamou; alias, Paulo nem mesmo se considerava digno deste ofício: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.” (1 Cor 15.9). 

Apesar disso, a graça de Deus foi de tal forma manifesta e poderosa na vida de Paulo, que transformou um perseguidor do evangelho num embaixador da Pessoa do evangelho que é Jesus. Portanto, devemos interpretar essa credencial de “apóstolo” não como um brado de orgulho, como faziam os falsos apóstolos que, dentre as muitas características, eram homens cheios de si que se promoviam com o título de apóstolo pregando uma mensagem própria (2 Cor 11.13). 

Antes, Paulo está querendo dizer que foi posto de forma graciosa e mediante Cristo neste ofício sagrado. Como brilhantemente observou Calvino: “Paulo é servo de Jesus Cristo, como a maioria, é apóstolo por vocação de Deus, e não por atrevida usurpação.” (CALVINO, João. Epístola a los Romanos, p. 25). Por fim, uma breve nota sobre a natureza e atualidade deste ministério. 

Não há fundamentação bíblica para que hoje ainda exista apóstolos e/muito menos apóstolas. Existem marcas sine qua non para essa função específica, como: 1) terem sido direta e pessoalmente chamados e delegados por Jesus; 2) terem sido testemunhas oculares do Jesus histórico (1 Cor 9.1) ou pelos menos de sua ressurreição; e 3) terem sido enviados por ele para pregar com a sua autoridade (STOTT, 2007. p. 46,47).

Visto que nenhum dos que atualmente se intitulam apóstolos possuem essas marcas, cremos que o apostolado cessou, pois era um ministério temporário. O último apóstolo foi o próprio Paulo,  como ele mesmo diz que Jesus “por derradeiro de todos apareceu também a mim” (1 Cor 15.8). A sucessão apostólica que nós cristãos devemos defender é a fidelidade à doutrina dos apóstolos, assim como faziam as igrejas primitivas. 

Afinal, uma vez que “[...]a função dos apóstolos é essencialmente impossível de ser repetida, a única sucessão apostólica conhecida no Novo Testamento é a fidelidade continuada ao depósito sagrado de verdade, que foi, de uma vez por todas, dado à igreja por eles.” (WILSON, Geoffrey B. Romanos, p. 2).

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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