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O Eldorado de Brisa


Por: Jacilene Cruz
Data: 20/01/2025
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Geralmente os bons escritores são também bons leitores, meu colega e amigo, Felipe Figueira, que assina a coluna Travessias aqui no Jornal Noroeste, é a prova viva disso. Em contrapartida, eu não sou uma leitora contumaz, mas dedico algumas horas da minha semana a esse hábito. Recomendo.

Foi lendo que iniciei 2025. Na primeira semana, devorei três livros e agora estou fazendo a digestão, uma espécie de ruminação. E foi no repensar sobre o lido que decidi sobre nosso prosear dessa quinzena.  

Um dos lidos foi o livro que usei como título desse texto, escrito pelo roraimense Aldenor Pimentel[1]. Como dito, um roraimense e não roraimado como eu. Essa informação faz toda a diferença e dá credibilidade a sua escrita.

O Eldorado de Brisa[2] é um daqueles romances que não apenas contam uma história, mas apresentam o panorama completo do espaço que serve como pano de fundo para o desenrolar da trama.

Creio que Aldenor tramou direitinho sua escrita, uma vez que traça fidedignamente o desenho geográfico e histórico desse estado brasileiro que tem o menor número de municípios – quinze.

A protagonista da narrativa é Brisa, como o título sugere. Uma menina-mulher que sonha com uma vida melhor ao mesmo tempo que conserva o desejo de conhecer seu pai, torcendo para que este possa lhe dar de presente o Eldorado.

O emaranhado criado por Pimentel dá conta de dizer que Roraima, apesar de ser amazônico, transita das altas florestas para um lavrado inspirador. Repleto de dulcíssimos igarapés. Neles, roraimenses e roraimados se banham, sem inveja alguma das águas salgadas da costa brasileira.

E por falar em águas, Pimentel faz referência ao isolamento geográfico que o majestoso Rio Branco impunha a catorze municípios. Existindo 15, apenas o que fica mais ao Sul, Rorainópolis, se ligava ao estado do Amazonas. Sair daqui por terra, até outubro de 2000, exigia transitar um pouquinho, cerca de 1km, de balsa pelas brancas águas.

Esse fato é muito importante para definir quando ocorreu a história. Para a precisão ser maior, vale pontuar que Brisa usa sempre um discman, invenção que foi febre nos anos de 1990. É nessa década então que a ficção acontece.

O livro funciona como uma pintura que mostra os povos que pelas bandas de cá viviam e ainda vivem. O autor expõe direitinho quem manda, quem obedece e quem é explorado e, em caso de insubordinação, morto. Especialmente gaúchos e maranhenses compunham os dois primeiros grupos. Restando aos povos originários, servidão e morte.

É com tristeza que afirmo que as coisas mudaram pouco por aqui. 

Ainda em O Eldorado de Brisa, a pobreza, o machismo, o abandono paterno e político e a prostituição são temáticas recorrentes. Revelando que, apesar de distante dos grandes centros urbanos, Roraima também é Brasil, igualando-se nesse quesito às demais unidades da federação. Infelizmente.

Tudo isso numa linguagem fácil. Se eu tivesse que classificar o primeiro romance de Aldenor em uma escola literária, seria uma obra transitória entre o romantismo e realismo. Brisa é salva da sua condição de se dar em troca de dinheiro por conta de sua determinação e pelo amor que a resgata e redime.

Para quem não é ou está extremista nortense, é a oportunidade de conhecer esse pedacinho pouco lembrado do Brasil. Aos que são ou estão, vale a pena rever a História do lugar em que vivem, pois o tempo pode nos roubar algumas lembranças.

Essa resenha-crônica é um convite à leitura, não precisa começar com três livros em apenas uma semana, mas a ler o outro e o lugar do outro pode ser muito, muito bom.

Quem sabe a próxima leitura os façam escritores!

O livro:

Fonte:  https://www.amazon.com.br/Eldorado-Brisa-Aldenor-Pimentel/dp/6555612614
 


[1] Aldenor Pimentel nasceu em Boa Vista, é escritor de romances, poemas, histórias infantis, contos e filmes e o que mais surgir.

[2] Disponível em diversas lojas virtuais.

Jacilene Cruz


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