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Infinito mesmo, só o tamanho das coisas


Por: Jacilene Cruz
Data: 05/08/2024
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Há algum tempo venho tentando escrever sobre o amor. Confesso que tenho me dedicado, mas o assunto sempre me escapa. Coincidências? Como já nos disse o grande Ariano Suassuna através do majestoso Chicó:

Não sei, só sei que foi assim.

Dentro da minha incapacidade temporária de falar sobre o amor, talvez pela sua grandeza, me perdi dentro de outra amplitude: a medição.

As medidas sempre me encantam. Por exemplo, em um quilômetro, há metros, nos metros, centímetros, nos centímetros... Os litros se “cubificam”, e eu, na minha discalculia[1] não dou conta de dizer o que “litros cúbicos” significam.

E quanto a medida de massa? Toneladas, arrobas, gramas, quilogramas, decigramas...

Nessa toada quase interminável, as coisas andam, e para chegar ao infinito delas, primeiro me envolvo num questionamento:

? Sempre dá pra mensurar o tamanho das coisas, as pedras, por exemplo?

Por falar em pedra, meu marido é quase um rochólogo, está no antepenúltimo semestre de geologia na Universidade Federal de Roraima – UFRR. As pedras, nada preciosas, lhe encantam. Foi em um dia de encantamento que me vi olhando para uma fotografia microscópica: a lâmina de uma pedra. Perdão, rocha.

 

Rocha vista a luz do microscópio petrográfico


Fonte: Leandro Scapin

 

Ele se delicia naquele instrumento que permite ver corpos extremamente pequenos.  E tenta me fazer entender as escalas de observação: há uma lente que amplia o tamanho em 10 vezes. Há outra que aumenta em até 63. Essa matemática é simples: 10 x 63 = 630.

No microscópio óptico, chega-se a esse número máximo.

? Já cresceu bastante, né? Agora se a gente levar para o eletrônico... Eu, com minha tosca matemática, não consigo mensurar e concluo de maneira simplória:

? Sempre tem algo menor dentro do extremamente pequeno.

Já que eu cheguei ao imensurável, trago uma reflexão do pastor Berlofa[2] que , ao se referir à multiplicação dos pães e peixes, afirma que o exato nem sempre foi exato:

Naquela época, os números eram símbolos e representavam um “período de tempo”. É só pensarmos na “quarentena”. Os cinco pães e dois peixes são sete elementos. Sete, o número perfeito, relacionado ao que é impossível de mensurar. [3]

Minha intenção não é escrever uma crônica religiosa, apenas dizer que os números, às vezes, não são suficientes para dimensionar o tamanho.

Meu colega e cumpadi Nunes, professor de matemática da escola em que trabalho, definindo para mim os números exatos, disse:

Entendo que um número é chamado de exato quando ele tem uma quantidade finita de dígitos.

Os alimentos “multiplicados” pelo nazareno, não podem ter no exato “sete” a sua finitude. Tampouco se deve contabilizar a quantidade de perdão dado a alguém.

Infinito mesmo, com ou sem fé, é o tamanho das coisas.

. 

Errata

Na crônica anterior a essa “Deixando a infância de lado”, equivocadamente coloquei Freud como tendo nacionalidade inglesa. Na verdade, ele nasceu em Morávia, República Tcheca, mudando posteriormente para a Áustria.

 



[1] Discalculia, ...trata-se de uma desordem neurológica que afeta as habilidades de compreender e manipular números. Disponível em: https://sites.usp.br/grepel/discalculia/ .

[2] João Paulo Berlofa é seu nome completo. É antifundamentalista, teólogo, filósofo, escritor, casado e pai. Autor do livro: O Negro Nazareno. Faz análises interessantes sobre as histórias e contextos bíblicos.

Jacilene Cruz


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