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Uma viagem pela literatura e por suas frases icônicas


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 16/02/2023
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Uma das alegrias que tenho ao ler os clássicos é encontrar as frases icônicas, ditas e proclamadas ao longo dos séculos. Quase sempre essas frases não são marcantes na obra, isto é, o autor não as diz repetidas vezes ou em momentos por demais expressivos, mas, sabe-se lá por qual razão, elas têm o poder de capturar o espírito da obra.

Ao ler “Hamlet”, por exemplo, o meu estado de espírito era um misto de nostalgia e curiosidade. Nostalgia porque no ensino médio li obras de Shakespeare adaptadas à juventude, e curiosidade porque é nesse texto clássico que aparecem frases como: “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a tua filosofia.” e “Ser ou não ser – eis a questão.”

Hamlet, em seus dilemas, olha para um crânio

Quando, de repente, chego a momentos que captam o espírito da obra, como assim considerei, eu paro e penso: “Por que esse momento ficou marcado para os leitores?” Eu admito que a minha resposta é sempre insuficiente, pois mesmo nessas obras há momentos tão belos quanto, ou até mais. A questão é que alguém leu a obra e replicou o dito “momento-chave”, e que dele saem ideias fortes por meio de poucas palavras: um misto de público e de poder argumentativo.

É de Guimarães Rosa a frase: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.” Para mim, professor, que já a ouvi diversas vezes, soa como um mantra. Ideias-chave são espécies de mantra, que dizem muito, que dizem tudo o que o leitor espera. Encontrar essa frase em “Grande sertão: veredas” foi maravilhoso, eu diria que glorioso, pois senti a virtude do escritor se estender até mim, um leitor atento, e isso produziu frutos, a ponto de que estou a falar dessa passagem.

Clássicos, ou frases poderosas, têm o poder de gerar frutos. São árvores da vida, que ajudam a distinguir o bem do mal, a boa da má escrita.

Como desfecho a esse texto, transcrevo as três frases icônicas citadas dentro de seus respectivos contextos:

1ª Hamlet está em conversa com Horácio, seu amigo, após receber a visita do Fantasma de seu pai:

“Horácio: Ó dia, ó noite! Isso é espantosamente estranho!

Hamlet: Portanto, como estranho, deve ser bem recebido. Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua filosofia.” (SHAKESPEARE, 2022, p. 40).

2ª Hamlet em um monólogo: “Ser ou não ser – eis a questão. Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou pegar em armas contra o mar de angústias – e, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir; só isso. E com o sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a carne que é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.” (SHAKESPEARE, 2022, p. 67).

3ª Riobaldo faz um balanço da própria vida, após assumir mais responsabilidades sobre o bando de jagunços: “Saí, vim, destes meus Gerais: voltei com Diadorim. Não voltei? Travessias... Diadorim, os rios verdes. A lua, o luar: vejo esses vaqueiros que viajam a boiada, mediante o madrugar, com lua no céu, dia depois de dia. Pergunto coisas ao burití; e o que ele responde é: a coragem minha. Burití quer todo azul, e não se aparta de sua água – carece de espelho. Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. Por que é que todos não se reúnem, para sofrer e vencer juntos, de uma vez? Eu queria formar uma cidade da religião.” (ROSA, 2020, p. 224).

João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

William Shakespeare. Hamlet. Trad. de Millôr Fernandes. Porto Alegre: L&PM, 2022.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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