Um texto, seis mãos
Eu já escrevi algumas vezes sobre a minha mãe, Rosângela Luiza Silva Figueira, ressaltando, especialmente, o seu gosto pela fotografia. Neste mesmo Jornal, publiquei alguns textos em que ela aparece como personagem central, como o artigo que leva o seu nome. Há um ano, ela, que fotografa todos os dias, realizou uma exposição com as suas imagens da natureza na biblioteca do Instituto Federal do Paraná (IFPR) campus Paranavaí, e eu lhe tributei um texto que ocupou uma folha inteira neste periódico.
Sempre que a minha mãe fotografa eu gosto de compartilhar o seu talento artístico, pois isso serve de motivação e de reconhecimento pelo seu belo “trabalho”. “Trabalho” entre aspas apenas porque ela não é uma profissional de tal arte, ainda que o seu amor pelos “cliques” tenha produzido fotos dignas de um profissional.
Foi em razão desses compartilhamentos que um dia uma de suas fotos, de uma árvore seca em Paranavaí, rendeu o poema da professora e poeta Jacilene Cruz, minha ex-aluna do Mestrado em Educação do IFRR/UERR, e que se tornou companheira de diálogos. Na ocasião, essa dinâmica rendeu um texto na Coluna Travessias. Como a vida possui um caráter cíclico, o mesmo sucedeu por esses dias. A minha mãe fotografou uma bela árvore seca, no amanhecer de Paranavaí, eu compartilhei a sua foto nas redes sociais e a Jacilene escreveu um poema, “Por que dizer adeus?”, que tenho a satisfação de compartilhar, ao lado da referida fotografia.
Por que dizer adeus?
Foi sob esse branco pálido que eu finquei
os olhos no céu
as raízes na terra.
Fui árvore de vermelho reluzente
aconchego de pássaros mil
ouvinte de infinitas juras de amor
contrariada, me desfaço esguia.
O sol, amarelo pálido, inclemente me cega
meus vasos não conduzem mais seiva
as flores já não me habitam
eu, orgulhosa do que fui
me recuso a partir.
O vento já não me balança
molda meu corpo nu
seduzindo, me faz lembrar o que fui
se certifica que em breve serei: pó.
Desdenham de mim, as árvores ainda frondosas
a grama espalhada pela terra
o capim que se aproveita dos resquícios de minha sombra
a construção insípida que encerra a paisagem.
Meus galhos ainda estendidos pelo horizonte
ressequidos caem, um por um.
o fim é breve e inevitável
mas eu, bela que fui, recuso-me a partir.
Avermelhei os horizontes
inspirei juras de amor
ouvi canções a luz da lua
Eu, namorada do sol e amante do vento
não quero ser pó.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.