Um presente do vô Adelino
No primeiro semestre de 2014, logo após a morte do meu pai, em 20 de novembro de 2013, meu avô Adelino descobriu que estava com câncer de próstata. Que tristeza perder o filho e depois descobrir que estava com uma grave doença. O sofrimento começou por meio das consultas e exames, que o levaram à cirurgia em 11 de setembro de 2014 e, na sequência, a mais de 30 sessões de radioterapia em Maringá.
Por alguns meses o vô ia de van de Paranavaí a Maringá de madrugada, e, ansioso por regressar à sua casa, voltava de circular tão logo o seu compromisso concluía. Ele não tinha paciência para retornar somente quando o tratamento de todos os demais terminava, por volta das 17 horas. Algo certo: meu avô amava o seu canto e a sua cidade.
No início de 2016, minha mãe e eu fomos acompanhar o vô na consulta com o oncologista, que comentou que dali para frente o tratamento seria semestral. Que felicidade saber que o vô, então com 75 anos, tinha respondido tão bem a tudo. Naquele dia festivo, eu disse à minha família:
- Vamos à Livraria do Chain, que fica perto da UEM (Universidade Estadual de Maringá)?
Eu havia iniciado o curso de Direito e estava atrás de um Vade Mecum. Mesmo com aquele livro enorme em mãos, pensei que não seria necessário para um calouro, já que tudo no início era somente introdução. Porém, o meu vô disse:
- Eu vou te dar esse livro. Pode passar no caixa.
Depois de dizer ao “Seu Adelino” que não era preciso, e de não ser ouvido, falei para ele escrever uma dedicatória, que poderia ser: “Para o meu neto Felipe”. Ainda na livraria, ele escreveu, com a sua letra grande, e só quando chegamos em casa eu li como ficou: “Para o meu Felipe”. Por fim que saiu mais bonito que o esperado. A vida é mais generosa que os nossos pensamentos.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.