Sou retrógrado?
Uma questão que sempre me faço ao falar sobre educação é: será que eu sou retrógrado? Será que eu vivo fantasias? Por retrógrado é porque eu sempre destaco a importância da autoridade docente e da educação enquanto conservadora, e se vivo uma fantasia é porque às vezes parece que defender as ideias anteriores está cada vez mais em “desuso”. Todavia, como não gosto de pensar pedagogicamente em termos de “uso e desuso”, eu prefiro enxergar a educação sob o viés da conservação, e não de tendências que podem ir para o lado que o vento levar. E o sentido de conservação, gosto sempre de destacar, é o defendido por Hannah Arendt.
Eu não nego que existam diversas formas de ensinar, e não uma só onde o professor é o centro. Se eu defendesse o centralismo docente eu poderia ser um reacionário. Mas, o que também resisto a acreditar é que exista um tipo de escola em que todo o ensino possa ser aprendido por brincadeiras. Parece-me que há algum limite para as brincadeiras – que não sei precisar qual seria – e que o esforço também deve fazer parte da escola. Muitos que advogam uma nova escola ou que dizem ter encontrado um tipo ideal de fazer educação passam a criticar demais a escola que consideram ultrapassada. Nesse advogar não são poucos os que se consideram donos da verdade, tornando-se dogmáticos, e esse caminho me parece perigoso.
Acredito que seja uma boa leitura as cartas de Darwin à sua noiva Emma, durante os cinco anos de viagem do Beagle. Da mesma forma, acredito que seja divertido conhecer a vida íntima do pai da psicanálise por meio de suas cartas à Martha. Porém, chega um ponto em que a diversão dá lugar ao esforço de ler textos densos. Seria o objetivo das brincadeiras uma preparação para a densidade? Ou teria a densidade o dever de ser mais leve, divertida? Será que brincaríamos mais durante o ensino fundamental e depois brincaríamos menos? Ou seria tudo igual mesmo diante das diferenças? Ou brincaríamos mais conforme os anos se passassem? Como seriam as brincadeiras no ensino médio? E no ensino superior?
Nesse horizonte me surgem várias outras dúvidas: a escola é uma ponte para o mundo? E se a escola for muito diferente do que é o mundo? O que é mais forte: a escola ou o mundo? Se for o primeiro, a escola pode sofrer se for muito diferente do mundo? Mas, e se a escola começar a mudar o mundo? Não tenho muitas respostas para essas questões, e o pouco que tenho prefiro não dizer. Sobram-me dúvidas. Meu futuro está cheio de curiosidades, tal qual o do menino Kiriku do filme homônimo. Por fim, não posso me considerar um retrógrado se deixo a porta aberta à curiosidade.