Por que, onde e quando eu escrevo?
Questões do tipo “por que eu escrevo? Onde eu escrevo? Quando eu escrevo?” sempre passaram à mente do escritor e dos artistas em geral. Essas questões também foram feitas a si mesmo pelo professor Attico Chassot no livro “Memórias de um professor” e também são feitas constantemente por mim. Ainda são questões carentes de respostas definitivas, e estas talvez nunca venham, pois parece próprio do ato de criar a inconclusão.
Akira Kurosawa (1910-1998), célebre cineasta japonês, dizia que para alguém criar era preciso ter muita coisa ao seu lado e em seu interior, sendo que essa coisa era a cultura, que se manifesta da forma mais plural possível, através de viagens, conversas cotidianas, livros, filmes, músicas, exposições, etc. Não se cria sem ter uma espécie de lastro interior.
Sérgio Rubens Sossélla (1942-2003), poeta paranavaiense que dizia “eu nasci em curitiba/ eu não sou de curitiba”, foi um magistrado e escritor de altíssima erudição. Para a minha felicidade eu tenho contato direto com a família, em especial com a esposa e o filho (Rosa Maria e Sérgio Augusto), e de tempos em tempos vou à casa deles. Há algo riquíssimo na casa de Sossélla, todavia, só rico para quem aprecia cultura: uma biblioteca chamada “Vila Rosa Maria” com mais de 15 mil obras. O poeta se perdia e se encontrava horas e horas, dias e dias, anos e anos em meio aos livros, sendo que ele raramente saía de casa, uma vez que a atividade intelectual exigia de si dedicação integral. O poeta deixou um legado de mais de 400 obras entre poesia (gênero predominante), crítica literária e textos jurídicos.
Quando comecei a minha série de viagens, no ano de 2014, e não no ano de 2015 como eu já cheguei a pensar, a minha intenção principal era trazer o mundo para os meus alunos e, com base em minhas experiências, escrever e criar largamente. E assim se passou comigo: até 2020 conto com 25 países visitados e 15 estados brasileiros, uma boa biblioteca pessoal e uma criação intelectual razoável (digo aqui em matéria de quantidade).
Por que eu escrevo? Isso é algo quase (ou totalmente) que inato, parece que faz parte da minha natureza, sendo que de tanto a caneta ficar na minha mão às vezes penso que tenho seis dedos. Onde eu escrevo? Em absolutamente todos os lugares; não há espaço que não seja ambiente propício à criação. Quando eu escrevo? Na alegria, na tristeza, na saúde, na doença, pois a escrita, a criação, tem sido para mim inseparável há muitos anos, um verdadeiro casamento.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.