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Tron: Ares


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 09/10/2025
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O ano era 1982 e durante o verão americano a indústria cinematográfica entregou vários dos melhores filmes de todos os tempos. Dentre esses filmes estavam várias ficções científicas, como, por exemplo, E. T. – O Extraterrestre, O Enigma de Outro Mundo, Blade Runner e, é claro, Tron. Todos esses, são inegavelmente clássicos do gênero, porém o último ganha um certo destaque, pois, dentre todos, é único que ressurge das cinzas periodicamente, tal qual a lenda da Fênix. A bola da vez é Tron: Ares, que acabou de chegar nos cinemas e que surfa na onda da Inteligência Artificial. Sobre este blockbuster de ficção científica repleto de fãs e com promessa de ser um dos filmes do ano, você vai ficar muito bem informado na Coluna desta semana.

O filme chega como mais um capítulo ambicioso na saga digital iniciada nos anos 80, revivida em Tron: O Legado, de 2010, e expandida pelas animações entre 2012 e 2013. Sob a direção de Joachim Rønning, Tron: Ares tenta equilibrar seu espetáculo visual com uma reflexão sobre tecnologia, poder e identidade. Algo que é, em muitos momentos, desafiador e assertivo, porém, em outros, deixa a desejar.

Entretanto, se há algo que está presente o tempo todo neste novo filme da saga Tron, é o espetáculo! O orçamento milionário pode ser percebido em cenas que brilham com neon, efeitos digitais e concepções de mundo que parecem saídas de uma tela futurista viva. A fotografia de Jeff Cronenweth contribui muito para isso. Em seu trabalho nesta obra é possível perceber textura, profundidade, e um contraste entre o real e o virtual que, por muitos momentos, impressiona.

A trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross também colabora para essa imersão. Embora não atinja o caráter icônico do Daft Punk em Tron: O Legado, ela funciona com honestidade, entregando momentos de tensão e surpresas sonoras que enchem as cenas de ação e ajudam a acompanhar o ritmo frenético do filme. Em outras palavras: o som sustenta o visual, e em muitos casos eleva-o.

No entanto, o brilho nem sempre vem acompanhado de substância. O grande problema de Tron: Ares é que ele tenta revisitar temas já muito explorados e em grande evidência no momento, tais como, a inteligência artificial, o risco da tecnologia desenfreada, a tensão entre tecnologia e humanidade. Se tratando de cinema, não haveria problema nenhum em fazer isso, porém a obra de Rønning faz isso de forma superficial. Há ideias válidas no roteiro, mas nenhuma delas é levada até o fim com a complexidade ou a coragem que poderiam ter.

O personagem Ares, interpretado por Jared Leto, é criado como uma inteligência artificial que se torna peça central de uma trama existencial, mas sua evolução emocional é pouco crível e pouco explorada. Já Eve Kim, papel de Greta Lee, idealista à frente da ENCOM, deveria ser o contraponto moral, mas sua presença raramente vai além da função de guia ou da relação de interesse pessoal com os demais personagens. O que se vê são arquétipos: o vilão ambicioso, a líder ética em conflito, a figura materna dividida, todos rodando em território familiar, sem novidade.

Julian Dillinger, vivido por Evan Peters, tenta trazer tensão como herdeiro de magnata com planos grandiosos. Mas novamente, arcos previsíveis o colocam no lugar de sempre, com as características que beiram o clichê, como, por exemplo, arrogância, egocentrismo, tudo sem nenhum traço realmente novo de personalidade. O que emociona pouco, porque sabemos para onde vai, pois todos esperam sua queda ou redenção, e ele quase nunca se surpreende.

Apesar dos tropeços, o filme tem instantes em que sua narrativa toca fundo. A relação entre mãe e filho apresentada no filme, por exemplo, concede momentos de fragilidade que funcionam, cheia de arrependimentos, tensões éticas e decisões que doem para quem vive fora do mundo digital. Há um desfecho que beira a tragédia, onde o filme, por breves instantes, encontra aquele pulso que parecia esquecido. Aquele misto de ação e melancolia que, no melhor momento, Tron sempre aspirou.

Destaque também deve ser dado à inovação visual, pois as sequências de perseguição nas light cycles mistura cenarios reais a efeitos visuais e uma ambientação digital tratada com certo cuidado, para além do simples espetáculo. Algo que fez muito sucesso, principalmente dentre os corintianos, porque um dos teasers mais recentes do filme mostrava uma light cycle passando por São Paulo, justamente em frente a Neo Química Arena. Voltando ao filme, é importante destacar essas sequências porque são nesses trechos que Tron: Ares deixa claro que pode corresponder às expectativas de quem fez da estética uma das partes mais amadas da franquia.

Porém um dos desafios mais duros do filme é justamente herdar uma mitologia que carrega expectativa alta. O original de 1982 criou algo único para a época, o universo do grid, os gráficos de neon, a geometria digital. Mais tarde,  Legacy” reviveu isso com tecnologia moderna, ainda que também com fragilidades dramáticas. Agora, cabe a “Ares” tentar resgatar esse DNA, tanto que a tentativa é constante, por meio de alusões visuais, ideias de criação de mundo, de um código universal ou “código de permanência”, e de conflito entre o uso ético da IA versus sua militarização.

Porém, é claro, para alguns fãs, essas alusões podem incomodar: há escolhas narrativas que parecem querer agradar ao legado, mas acabam canônicas demais ou pouco originais. E o equilíbrio entre homenagear e inovar é tênue.Ares” se inclina mais à homenagem, às vezes sem ousar profundamente.

Por que ver esse filme? Se você vai ao cinema para ser imerso em luz, ação, corridas futuristas, computação gráfica de ponta e trilha sonora pulsante, Tron: Ares pode te satisfazer bastante. Ele cumpre bem essa parte do contrato cinematográfico de espetáculo. Agora, se o que você espera é uma narrativa que surpreenda, personagens memoráveis, dilemas morais que façam você repensar, aí o filme pode deixar um gosto de “mais do mesmo”.  Tron: Ares não redefine a franquia, nem eleva dramaticamente o padrão do gênero. Mas, em sua maior parte, realiza aquilo que se propõe: entreter, maravilhar visualmente e evocar nostalgia, enquanto joga com ideias contemporâneas sobre IA e tecnologia. Para fãs de Tron, vale. Para quem adora ficção científica visualmente impactante, também. Um filme que pode não revolucionar, mas que com certeza encanta pelo brilho. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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