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Top Gun: Maverick


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 26/05/2022
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Já faz tempo que tenho comentado por aqui a respeito do grande e interminável sentimento de nostalgia que se alastrou por Hollywood como uma praga e que insiste em ressuscitar sucessos do passado. Da mesma forma e com a mesma intensidade, também já comentei como isso tem gerado a sensação de esgotamento nas gerações mais jovens, principalmente junto a geração Y, também conhecida como millennials. A questão é que os figurões de Hollywood não estão muito interessados em agradar a todos os grupos, mas a um grupo muito específico e que detém, na atualidade, um grande poder aquisitivo: as pessoas, sobretudo homens, na faixa dos 40 anos. Prova disso é a estreia dessa semana, o aguardo Top Gun: Maverick.

O filme já chegou aos cinemas como um sucesso total de crítica, alcançando uma grande aprovação no considerável site Rotten Tomatoes, aplaudido de pé no Festival de Cannes e tendo arrebatado a crítica especializada americana na última semana. Na mesma intensidade, tornou-se alvo de críticas aqui no Brasil, na plataforma mais famosa por expor os descontentamentos dos jovens em geral, o twitter. Nessa rede social Top Gun: Maverick foi massacrado por ser uma obra datada, que não é capaz de conversar com os temas da atualidade e que celebra, de maneira explícita, a masculinidade excessiva e a testosterona. Feminismo e Girl Power para quê?

Isso prova o que inferi na introdução do texto, ao planejar e executar seu reboot/sequência, os estúdios responsáveis por Top Gun: Maverick tinham claro em mente qual era o público que queriam agradar e, bem por isso, desconsideraram qualquer uma das discussões pertinentes na atualidade e que são tão caras para o público mais jovem. No caso, nem o diretor e nem o estúdio estavam interessados em apresentar personagens e trama para novas gerações, mas apenas dar uma boa continuidade para uma boa história de sucesso. O que não quer dizer que o filme seja ruim, pois, nesse caso, o termo datado pode ser compreendido como “à moda antiga”. Por isso, o clima do filme de quarenta anos atrás é mantido de forma incondicional e a maneira como o filme foi gravado, sem a utilização dos recursos digitais da atualidade faz dele uma obra de arte.

Olhando por esse ângulo, percebe-se que a falta de engajamento com as questões da atualidade não são um problema, mas uma forma que o diretor Joseph Kosinski encontrou para manter a coerência e a autencidade de sua obra. Ou seja, o tempo passou o mundo mudou, mas os personagens que retornam para esse novo filme, sobretudo o próprio Maverick, ainda são os mesmos e compreendem o mundo com seus olhos do passado. Algo que dialoga muito bem com a sociedade atual, pois grande parcela dela sabe como o mundo é, mas ainda sonha com o mundo que ficou lá atrás e muitas vezes se esforçam para forçar os anacronismos por meio de falas, ações e escolhas.

Essa característica talvez seja a mais marcante e a responsável por fazer do filme um sucesso em sua pré-estreia, já que tanto os críticos quanto o público que conferiu o filme em Cannes estão, em sua maioria, nessa faixa etária dos quarenta anos ou mais.

Sobre as questões técnicas, o filme tinha tudo para ser um grande cliché e dar muito errado, mas justamente o fato dele não fugir da fórmula original acaba sendo seu maior trunfo. Kosinski se inspira profundamente na obra de 1986, dirigida por Tony Scott — falecido em 2012 —, para fazer uma grande homenagem. Cenas icônicas, como o plano aberto focando o avião em meio a bolhas de calor ao sol são revividas. O clima de competividade ressurge por meio dos novos personagens e as cenas de pilotagem são extremamente emocionantes.

Num filme onde nada soa como falso e tudo parece o mais real possível, saber que nada é CG, mas sim aviões de verdade, voos de verdade e atores de verdade faz toda a diferença. O trabalho dos atores, principalmente de Tom Cruise, que costuma não utilizar dublês, concede essa veracidade que gera tensão em grau máximo e que é transmitida ao público de maneira intensa por meio do competente trabalho de mixagem de som.

Falando em atores, Tom Cruise reina soberano em Top Gun: Maverick. Dono de uma carreira sólida e invejável, ele faz parte de um seleto grupo de atores que envelheceu bem ao longo do tempo. Suas escolhas de trabalho demonstram que com o passar do tempo sua versatilidade e virilidade apenas aumentaram, por isso, seu retorno para esse filme — que exalta o patriotismo americano, o individualismo, a rebeldia e a ousadia —, é praticamente uma homenagem à sua própria trajetória. Junto a ele estão os atores da nova geração que encarnam personagens muito parecidos com o de Cruise e Vall Kilmer no filme de 1986. São eles Miles Teller (ostentando um bigodão) e Glen Powell, que impõem muita química na relação entre os dois, revivendo o clima de competividade e rivalidade (há quem encontre nessa relação, como no filme antigo, uma certa dose de tensão homoerótica, mas para mim, isso é pura especulação). Na falta da boa e velha Kelly McGillis, quem assume o papel de par romântico com o protagonista é Jennifer Connelly, que como sempre está muito bem em cena.

Para mais, o filme exibe na tela grande tudo o que o expectador gosta. Tem muita ação, aventura, drama, melodrama e até mesmo um pouco de romance num roteiro para lá de bem construído e que ficou a cargo de Ehren Kruger, Eric Warren Singer, Christopher McQuarrie, Peter Craig e Justin Marks. O roteiro trabalha o protagonista de forma cíclica, com uma história que evoca tanto a simplicidade quanto a profundidade. Vamos à trama, sem spoilers!

Depois de mais de 30 anos de serviço como um dos principais aviadores da Marinha, Pete "Maverick" Mitchell retorna às suas funções, rompendo os limites como um piloto de testes corajoso. No mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, Maverick enfrenta drones e computadores para provar que o fator humano ainda é essencial.

Por que ver esse filme? Porque Top Gun: Maverick, sem sombra de dúvidas, supera em muito o filme original. Porque Tom Cruise, em cena, comprova que envelhecer não é sinônimo de incapacidade, mas, pelo contrário, de maturidade, algo que eleva a um alto nível de excelência. Por fim, porque até agora, no corrente ano, nenhum outro filme de ação que chegou ao cinema foi tão bom quanto o novo Top Gun. Uma dica, esse é o tipo de filme que precisa impreterivelmente ser visto no cinema, onde o público pode contemplar plenamente seu incrível trabalho de som. Organize-se, aproveite e boa sessão!

Assista ao trailer:

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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