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Sétima Arte - Enola Holmes


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 02/10/2020
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Essa semana a Coluna Sétima Arte se dedica ao novo queridinho da Netflix, Enola Holmes. Lançado na semana passada, ele rapidamente conquistou muitos fãs e tem caído no gosto dos assinantes desse serviço de streaming. Claramente voltado para o público jovem, o filme tem uma campanha de marketing muito assertiva, que colaborou positivamente para que muita gente se interessasse por esse filme que varia entre aventura, fantasia e investigação. O que vale a pena saber sobre Enola Holmes eu conto pra você na coluna dessa edição.

Vamos começar falando sobre o imbróglio entre os herdeiros de Sir Arthur Conan Doyle e a Netflix. Mesmo antes da estreia, Enola Holmes já estava chamando atenção da mídia devido a essa situação inusitada. Como o sobrenome aponta, a protagonista do filme é a irmã caçula do famoso detetive Sherlock Holmes, obra literária criada por Arthur Conan Doyle e que caiu em domínio público em 2014. Então, porque os direitos do filme em questão estão sendo contestados na justiça? Por que os herdeiros de Conan Doyle dizem que apenas as histórias criadas antes da 1ª Guerra Mundial, quando Holmes era extremamente frio e quase calculista, estão no domínio público e que as mais recentes, quando ele passa a demonstrar emoção, que é o caso, do filme, ainda não. Qual vai ser o desfecho dessa situação ainda não sabemos, mas ao que tudo indica, a Netflix vai ter que liberar uma fatia de seus rendimentos com esse filme para a família Doyle. 

Deixando as questões judiciais de lado, vamos falar sobre o filme. Ele teria tudo para dar errado, mas dá muito certo, e eu diria que a responsabilidade sobre isso está muito mais no elenco do que na direção ou roteiro. Como filme de origem, sua base está posta sobre o alicerce da já conhecida “jornada do herói”, nesse caso, da heroína. Mas seu trunfo, além da atuação, está também na perspicácia de incorporar ao longo da trama elementos extremamente pertinentes ao nosso tempo e que fazem com que o filme fique muito mais agradável.

Por isso o roteiro escrito por Jack Thorne, mesmo sendo longo e pisando na bola vez ou outra – por exemplo, sobre o arco da mãe da protagonista, que dá início a tudo, mas que acaba sendo praticamente abandonado depois –, consegue entregar uma obra coesa e agradável, ao mesmo tempo que imprime um tom profundamente plausível. Já o diretor Harry Bradbeer também tem seus trunfos, o fato dele conseguir impor frescor a uma obra ambientada em pleno período vitoriano é louvável. Além disso, constrói a personagem da protagonista de forma muito cuidadosa, deixando o público perceber sua solidão, seu desconforto, sua dificuldade com as convenções e utilizando o feminismo como pano de fundo para dar profundidade à jovem de 16 anos e sua jornada.

Aqui vale a pena ressaltar a forma como essa ação anacrônica (digo isso porque feminismo, nos moldes de hoje, era algo praticamente impensável no período em questão) apresenta um conflito de valores e desperta no expectador uma reflexão muito clara sobre como o posicionamento e as afirmações de alguns grupos sociais reacionários e conservadores, nos dias de hoje, soa fora de tempo e de contexto. Nesse ponto, o filme acerta em cheio, pois mesmo sendo uma obra de época, tem um discurso contemporâneo embasado na igualdade de gênero e capaz de cativar o público.

Sobre o elenco, eles dão um show à parte. É como se cada personagem fosse a analogia de um aspecto diferente da vida e os atores incorporam isso de maneira muito inteligente. A Enola Holmes de Millie Bobby Brown (que aqui se desvencilha completamente da aura soturna de seu papel em Stranger Things) é jovial, astuta, inteligente, carismática e representa claramente a busca por liberdade, tanto que isso fica evidente toda vez que ela quebra a quarta parede e se comunica diretamente com o público por meio da câmera. 

Já seus irmãos mais velhos, cada um aborda um aspecto não tão positivo da vida. Enquanto Mycroft – representado por Sam Cliffin, que é irritante, desprezível e arrogante – interpreta o papel do conservadorismo, Henry Cavill (que toda vez que aparece em cena nos faz lembrar de Superman), interpreta Sherlock Holmes personificando a apatia e a indiferença, mas, sobre ele, é interessante perceber que aos poucos ele amadurece emocionalmente, simbolizando a capacidade de transformação tão própria da vida. 

Por outro lado, a atriz Fiona Shaw como diretora da Escola para Damas, é a expressão de tudo o que é velho, retrógrado e que tenta se impor sobre o novo. Por fim, as aparições rápidas, mas intensas, de Helena Bonham-Carter denotam claramente o princípio da subversão. Um time de atores de primeira que impõe ritmo e precisão de atuação para um filme capaz de conquistar jovens e adultos na mesma medida. Vamos à trama!

Enola Holmes é uma menina adolescente cujo irmão, 20 anos mais velho, é o renomado detetive Sherlock Holmes. Quando sua mãe desaparece, fugindo do confinamento da sociedade vitoriana e deixando dinheiro para trás para que ela faça o mesmo, a menina inicia uma investigação para descobrir o paradeiro dela, ao mesmo tempo em que precisa ir contra os desejos de seu irmão, Mycroft, que quer mandá-la para um colégio interno só de meninas.

Por que ver esse filme? A melhor justificativa ainda é a da diversão. Um filme bem humorado, traz uma aventura para aqueles que querem assistir a uma boa história e relaxar. Ao mesmo tempo, prende a atenção do expectador, que permanece atento às pistas do mistério que vão sendo apresentadas ao longo da trama. A heroína representa muito bem os anseios do público jovem com sua liberdade de pensamento e de ação, sem falar em sua independência que ajuda a constituir sua identidade. O que torna o filme ainda mais leve e prazeroso. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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