A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Tribulação, angústia e Páscoa


Por: Fernando Razente
Data: 02/04/2024
  • Compartilhar:

Romanos 2.9 (ARA): “Tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, ao judeu primeiro e também ao grego;”

 

“O inferno é eterna tribulação e angústia, produto da ira e da indignação.”

— Matthew Henry (1662-1714), pastor presbiteriano e comentarista bíblico inglês.

 

Caro leitor, no último texto desta coluna, analisamos o v. 8 de Romanos 2, onde Paulo trata da condenação dos facciosos. Paulo ensina que os facciosos receberão “(...) ira e indignação” da parte de Deus, como justa retribuição por desobedecerem a verdade e obedecerem à injustiça. 

Os significados dos termos gregos utilizados por Paulo são semelhantes. Enquanto ira (orge) se refere a uma violenta aversão punitiva ao pecador, a indignação (timos) fala de uma raiva profunda contra o pecado. Estes termos expressam a forma e o modo de ação retributiva da parte de Deus na condenação dos pecadores.

Agora, no versículo 9, Paulo avança em seu texto para mostrar a outra face da moeda, isto é, o efeito da condenação divina (ira e indignação) na consciência dos pecadores. A consciência humana possui jurisdição divina. É especialmente na consciência que o homem experimenta as aprovações ou condenações de Deus: a paz ou o tormento.

Portanto, Paulo apresentou a “ira” e “indignação” como modos de motivação da justiça divina em relação ao pecado não confessado e abandonado que possui um correspondente, um alvo do outro lado: a alma (psych?n) humana. É o “coração”, o “espírito”, a “pessoa” essencialmente falando, ou seja, a consciência mais íntima e profunda do ser humano que recebe a ira e a indignação justa de Deus.

Agora, podemos perguntar: o que a ira divina causa na consciência humana? Paulo nos diz que, sobre o homem que faz o mal deliberadamente, há (e haverá em maior grau no inferno e em tempo ininterrupto), as experiências internas de tribulação (thlipsis) e angústia (stenoch?ria). Logo, o pecado, como diz Henry, é o que “qualifica a alma para a ira”.

Os termos usados para expressar a reação à ira de Deus na consciência humana também são semelhantes. A “tribulação” designa uma experiência parecida a de estar confinado a um lugar estreito que aprisiona e pressiona alguém. Assim como um soldado inglês preso em um túnel subterrâneo durante a 1ª Guerra Mundial, sem conseguir sair, confinado, aprisionado e pressionado, perdendo pouco a pouco o oxigênio, a alma humana será submetida aos mais agonizantes suplícios da tribulação por não ter se arrependido. A “angústia” traz uma noção de uma estreiteza de espaço, aquela experiência de não encontrar saída, de não ter liberdade, conforto, gozo ou prazer. É como estar numa camisa de forças ao mesmo tempo que anseia em seu interior esticar os braços, experimentar os movimentos, poder abraçar.

Tanto a tribulação como a angústia referem-se ao efeito na alma humana da justa ação divina de ira e indignação. As almas empedernidas são os vasos da ira.  A tribulação e angústia são os efeitos necessários e inevitáveis da ira de Deus na alma do pecador impenitente.

Por fim, Paulo reforça a equidade e a perfeição da justiça divina falando sobre a extensão e a ordem do castigo do Senhor. Primeiro, Paulo mostra que para Deus não importa quem seja o homem, rico ou pobre, jovem ou velho, homem ou mulher, judeu ou gentio; se tal alma “faz o mal” experimentará certamente “tribulação e angústia” pela eternidade afora!

Segundo, Paulo diz que a ordem da punição é de acordo com os benefícios. Como as Escrituras possuem preeminência em relação a Criação, e estas foram dadas aos judeus, que receberam a revelação especial (as promessas ou as ameaças da lei contidas nas Escrituras) os mesmos terão precedência no juízo divino e serão os primeiros a experimentarem tribulação e angústia, caso não se arrependam e creiam em Cristo como o Messias de Israel.

Os gentios (o mundo não-judeu) em seguida — que receberam a revelação natural — também serão julgados. Como escreveu João Calvino: “Esta é a regra universal do julgamento divino; começará com os judeus e incluirá o mundo inteiro”.

A única maneira pela qual a humanidade — judeus ou gentios — foi (e agora pode ser) capaz de escapar da eterna ira e indignação divina e da consequente tribulação e angústia de alma no inferno de fogo é refugiando-se, pela fé somente, no sangue do Cordeiro imolado na cruz: Jesus Cristo. É na compreensão do sentido da Páscoa que encontramos o caminho de Deus para a salvação de todo homem que faz o mal.

O Santo Evangelho nos ensina que a ira e a indignação de Deus, que deveria vir com justiça sobre nós, foram interpostas por Cristo. O profeta Isaías nos diz que “(...) ao Senhor agradou o moê-lo, fazendo-o enfermar;” (Is 53.10). Isto é, por Cristo ter se oferecido como oferta expiatória pelo pecado, ele assumiu nosso lugar, nossos pecados e ofensas e todas as consequências deles, como tribulação e angústia: o moedor divino caiu sobre o Filho bendito!

Jesus Cristo, no caminho até aquela rude cruz, experimentou por nós a tribulação e a angústia mortal da alma. Ele foi, pelo Pai, moído por ter assumido nossa posição, ao ponto de declarar: “A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal.” (Mt 26.38). E, quando no madeiro maldito foi pendurado, vivenciou real e efetivamente em nosso lugar o abandono total do Senhor, bradando em alta voz: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mt 27.46).

Agora que Cristo — pelos seus eleitos — esgotou em seu peito toda a ira e indignação divina e em sua alma suportou até à morte a tribulação e a angústia advindas de nossos pecados, a mensagem do evangelho é: Creia em Jesus como o Cristo e o Cordeiro Santo de Deus! Arrependa-se de seus pecados e se reconcilie com o Senhor!

Abrace a Cristo como Salvador e Senhor de sua vida, para que, debaixo de seu Senhorio, não precise jamais experimentar ira e indignação, tribulação ou angústia; mas agora (em parte) e no futuro (integralmente), possas viver a paz, o amor e a alegria que fluem da comunhão verdadeira com Deus, conquistada para nós pelo sacrifício do Cordeiro pascal.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.