Paz, honra e glória
Romanos 2.10a (ARA): “(...) glória, porém, e honra, e paz a todo aquele que pratica o bem”
“Os que praticam o bem, o fazem em virtude da graça de Deus operando em seu coração”
— Rev. Hernandes Dias Lopes em Romanos: o evangelho segundo Paulo, p. 111.
Dando continuidade à série de exposições na carta de Paulo aos Romanos, no último texto escrevi sobre o efeito da condenação divina — ira e indignação, v. 8 — na consciência dos pecadores, isto é, a experiência da angústia e da tribulação (cf. v. 9).
Aqueles que se mantém rebeldes contra o Evangelho de Jesus Cristo e prosseguem em fazer o mal, recebem agora (e de modo pleno no futuro) a angústia e a tribulação na alma. Em outras palavras, tribulação e angústia são os efeitos necessários e inevitáveis da ira de Deus na alma do pecador impenitente.
Por outro lado, podemos perguntar: o que recebem agora (e de modo pleno no futuro) aqueles que creem no Evangelho da graça de Jesus Cristo e se arrependem de seus pecados? É com base no versículo 10 de Romanos 2 que obteremos a resposta bíblica para essa importante pergunta.
É necessário partirmos da observação de que os versículos 9-10 retratam duas categorias de pessoas que abarcam toda a raça humana: 1) aqueles que praticam o mal (v.9) e 2) os que praticam o bem (v.10).
Tal divisão — é relevante mencionar — não é encontrada somente em Paulo, pois vemos o próprio Senhor Jesus utilizando as mesmas categorias em João 5.29: “(...) os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.”
Nestas categorias, Paulo apresenta ao leitor não só a natureza dos indivíduos nelas inseridos, mas também elabora os dois destinos baseados em ações e não em mera confessionalidade: o inferno eterno para “qualquer homem que faz o mal” (v.9) e o Paraíso eternal para “todo aquele que pratica o bem” (v. 10).
Como dito no início, aquele que age impiamente, sem consideração pelo Evangelho de Cristo, recebe angústia e tribulação (agora) como destino de suas ações, mas um destino que se agravará com a morte do indivíduo ainda sem Cristo, quando padecerá no inferno pela eternidade.
No entanto, vemos no versículo 10 um enorme contraste entre o presente e o futuro daqueles que se arrependem crendo no Evangelho e buscam uma vida de santidade que glorifique ao Senhor. Os tais, que praticam o bem — e não meramente ensinam ou falam sobre o bem ou sobre Cristo e o Evangelho (Lc 6.46) — recebem agora do Senhor aquilo que João Calvino chamou de “(...) os frutos ou as partes constituintes da vida eterna”.
E o que são esses frutos? Paulo menciona três frutos benditos: glória, honra e paz. Estes três frutos concedidos por Deus estão de acordo com as santas aspirações dos eleitos descritas por Paulo no versículo 7. O pastor puritano Matthew Henry chamou a atenção que na base dessas santas aspirações está “uma ambição sagrada”.
Ou seja, os eleitos que se arrependem e creem no Senhor, ambicionam possuir em suas vidas não glórias humanas e ilusórias, não honras carnais e temporais e muito menos uma paz falsa baseada em prazeres e circunstâncias favoráveis. Os desejos dos eleitos não estão postos na vã glória humana, nas honras mesquinhas e frívolas dos pecadores, e na frágil e superficial paz que o mundo dá (João 14.27).
A ambição dos eleitos é pela “(...) glória e a honra que são [de] aceitação imortal com Deus aqui e para sempre”, como disse Henry; e, por isso, eles recebem do Senhor agora e para sempre a glória de serem considerados herdeiros do Paraíso com Cristo; a honra de serem chamados filhos de Deus e a verdadeira paz, que como disse John Stott, é uma “(...) palavra que abrange relacionamentos reconciliados com Deus e com os outros.” Estas são, em contraste com os ímpios, as maravilhosas recompensas daqueles que, em virtude da graça perseverante, fazem o bem e aspiram pela manifestação da majestade do Senhor.
Amém.
Fernando Razente
Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.