A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Cristo, o juiz dos segredos dos homens


Por: Fernando Razente
Data: 05/08/2024
  • Compartilhar:

Romanos 1.16: “(...) no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.”

 

No último texto — A norma da Lei no coração — expus o versículo 15 de Romanos 2, onde Paulo declara que o gentio tem na consciência uma norma, aquilo que deve ser feito de acordo com a lei de Deus revelada. O autor sagrado argumenta que esta “norma” — e não a própria lei — está “gravada” no “coração”, na sede do entendimento humano, nas consciências dos gentios.

Esta norma da lei é como uma testemunha em um tribunal. No foro íntimo dos gentios, essa “testemunha” acusa-os de ofensa quando suas ações são contrárias à própria norma, mas também os defende quando suas ações estão de acordo com a norma.

No versículo 16, Paulo refere-se a esse processo de auto-acusação e auto-defesa não somente no tempo presente — como fato em atual realização na consciência dos gentios —, mas também no tempo futuro. Paulo diz, no versículo 16, que esse processo também ocorrerá “(...) no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho”. O que isso quer dizer?

Paulo, em primeiro lugar, faz referência há um tempo futuro: “(...) no dia em que Deus…”. Existe, portanto, a expectativa da revelação final de uma ação já preordenada por Deus — o Senhor da história e do futuro humano — que foi exposta aos homens de antemão através das Escrituras Sagradas. Tal é o valor das Escrituras, que nos dá uma clara abertura ao futuro a respeito de como ele será administrado por Deus!

Em segundo lugar, vemos que essa ação futura é o juízo de Deus, por meio de Cristo Jesus: “(...) em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar…”. Deus é  justo juiz (Cf. Sl 7.11). É o Deus das justas vinganças, juiz da terra que dará o pagamento aos soberbos que desprezam sua lei (Cf. Sl 94.1-2). Diferentemente do que a teologia pós-moderna tenta ensinar, Deus não é conivente com os pecadores insubordinados ou indiferente à quebra da sua lei. Ele os julgará e, segundo Paulo, seu juízo será realizado através (“por meio de”) da pessoa de Jesus, o Cristo de Deus.

Sobre a interpretação desta parte do versículo, concordo com o exegeta João Calvino (1509-1564) que defende que as palavras “por meio de Jesus Cristo”, se aplicam ao dia do julgamento final, e que o significado dela é que Deus executará esse julgamento por intermédio do governo de Cristo, pois ele é apontado pelo Pai para ser o Juiz dos vivos e dos mortos (Cf. Atos 10.42).

Em terceiro lugar, o que Cristo, o Supremo Juiz, julgará em seu tribunal (Cf. 2 Cor 5.10)? Paulo diz: “(...) em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens…” A expressão segredo (κρυπτ?/krypta) aplicada ao substantivo no genitivo masculino plural “homens” aponta para as coisas (partes) ocultas (secretas) ou a  natureza interna dos seres humanos, isto é, o caráter do coração!

No juízo final, diz Calvino, “(...) os pensamentos mais secretos e aqueles agora completamente escondidos nas profundezas de seus corações serão então trazidos à luz.” Aquilo que os homens ocultam da sociedade e de seus próximos não pode agora e não poderá ser no futuro ocultado dos olhos do Senhor. Ele tudo vê e tudo sonda (Cf. Jr 17.10), até os mais recônditos intentos dos seres humanos, os seus mais profundos e inauditos segredos e desígnios. Paulo reitera tal doutrina na sua primeira carta aos Coríntios ao afirmar que o Senhor Jesus, em seu retorno, “(...) não somente trará à plena luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações.” (1 Cor 4.15).

Em quarto lugar, este ensino do juízo de Cristo sobre o segredo dos homens é um ensino genuinamente evangélico e está contido na mensagem de boas-novas. Cristo Jesus, diz Paulo, há de “(...) julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho.”  O evangelho de Paulo é o evangelho de Cristo. Paulo, na sua carta aos Gálatas, diz que o evangelho por ele anunciado “(...) não é segundo o homem, porque eu não recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante a revelação de Jesus Cristo.” (Gl 1.11-12). O chamado “evangelho paulino” nada mais é que o evangelho de Cristo revelado a Paulo.

Este evangelho é a referência do julgamento. Ele traz boas-novas aos que se arrependem e creem, mas também juízo e condenação aos impenitentes e rebeldes, diz o Rev. Hernandes  Dias Lopes. Afinal, todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, crentes e descrentes; e naquele dia, Cristo julgará segundo o evangelho – segundo sua proposta de perdão e graça aos homens.

Por um lado, segundo o próprio Jesus, ele julgará os crentes e os receberá em amor, pois creram, se refugiaram em Sua justiça pela fé e viveram piedosamente. Ele dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;” (Mt 25.34). O evangelho, portanto, nos livra da ira de Deus. Como observou o comentarista John Stott, nós “(...) barateamos o evangelho quando o retratamos apenas como algo que nos liberta da tristeza, do medo e da culpa e de outras necessidades pessoais, ao invés de apresentá-lo como uma força que nos liberta da ira vindoura.”

Porém, por outro lado, neste mesmo evangelho Jesus anuncia que ele julgará os descrentes que rejeitaram sua revelação — sejam aqueles que receberam a revelação especial (judeus e todos os que foram evangelizados), sejam os que receberam a revelação geral na natureza e na consciência —, viveram impiedosamente e com justiça dirá: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” (Mt 25.41)

Resumindo, Paulo ensina no v. 16 que o evangelho de Cristo, anunciado por ele, revela tanto a graça como a punição. Segundo esse evangelho que proclama a soberania e o reinado de Cristo, os segredos dos homens, de gentios e judeus, serão sondados, analisados e julgados com verdade naquele glorioso dia do retorno do Rei.

Vamos agora às aplicações. O que podemos aprender com esse versículo?

Aprendamos, em primeiro lugar, que  Deus é juiz, e julga ímpios e justos. Deus não é indiferente aos atos humanos, estejam eles de acordo ou não com a sua lei. Deus se faz presente, tudo vê e tudo sonda, e dará a recompensa a cada um “(...) segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal.” (2 Cor 5.10).

Em segundo lugar, aprendamos que Deus julga por meio do governo de Jesus Cristo. Aquele que foi traído, humilhado e morto no julgamento mais injusto da história diante de Pôncio Pilatos, é o mesmo que ressuscitou, se assentou a destra do Todo-poderoso e virá uma segunda vez, agora para ser o juiz e julgar o mundo (Cf. 2 Tim 4.1) mediante seu evangelho.

Em terceiro lugar, aprendamos que Deus é o Senhor da história e já fixou épocas, ações e consequências futuras em relação ao destino eterno dos homens. Ele não é pego de surpresa e as escolhas dos homens no presente não podem alterar a predestinação que Deus estabeleceu a cada um. No final, todos deverão comparecer naquele tribunal de Cristo. Nenhum ser humano pode alterar o curso da história utilizando seu arbítrio. Ele reina soberanamente, e sua soberania é atestada através de seu poder de estabelecer épocas e dias que ninguém pode alterar ou adiar.

Em quarto lugar, aprendamos que foi do seu santo querer revelar a realidade deste juízo final a nós e abrir — se assim posso me expressar — o véu que dá acesso para o corredor da história futura; e isso através das Santíssimas Escrituras! Portanto, querido leitor, valorize o Santo Livro, esse conjunto de gloriosos escritos inspirados por Deus pelo ministério do Espírito para que você tenha um pensar correto a respeito do fim das coisas e um rumo certo no presente momento, enquanto o resto do mundo se perde em incredulidade e ignorância.

Em quinto lugar, aprendamos que Deus conhece todos os nossos segredos e nossos desígnios mais íntimos. Ele conhece não apenas nossas ações externas, mas as nossas motivações internas e secretas. E que ao nos conscientizarmos disso, que possamos entender que, como disse Calvino, “(...) se desejamos ser realmente aprovados por nosso Juiz, devemos nos esforçar para ter sinceridade de coração.” Não bastará apenas uma aparência de piedade. Não bastará apenas uma casca de santidade. Não devemos ser como sepulcros caiados, limpos por fora, mas cheio de toda imundícia por dentro (Cf. Mt 23.27-28). Afinal, no juízo final Deus julgará essa imundícia oculta e dará a justa paga a todas as secretas imoralidades, ódios, mentiras e más intenções do coração humano.

Amém.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.