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Impiedade e perversão


Por: Fernando Razente
Data: 22/02/2023
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Romanos 1.18(b): “[...] contra toda impiedade e perversão dos homens”

Na semana passada, na exposição de Romanos 1.18 parte “a”, vimos sobre o atributo divino da ira. Chegamos à conclusão que este atributo de Deus não é manchado pelo pecado como a ira humana o é. Antes, a ira de Deus é Sua santa e perfeita repulsa contra o mal; é seu desprazer contra o pecado. Hoje pretendo aprofundar a reflexão na questão do objeto da ira de Deus a partir da parte “b” do texto supracitado.

Neste trecho, Paulo diz que a santa ira de Deus se revela contra um alvo claro; ela é “[...] contra toda impiedade e perversão dos homens”. A palavra “contra” é uma boa tradução para ?π?/epí, mas traz apenas a ideia de relação de oposição entre a ira divina e o pecado humano.

No entanto, talvez uma outra tradução possa abranger mais as razões dessa relação de oposição, como a que traduz a preposição epí como “contato adequado”. Nesta tradução, temos a visão de que a ira de Deus é revelada do céu não somente para fazer oposição ao pecado, mas para ser o contato de oposição mais adequado ou a resposta e a reação mais adequadas à impiedade e perversão dos homens.

Isso significa que os homens pecadores não podem reclamar que Deus esteja sendo injusto ou mesmo rígido demais ao se irar contra os seus pecados, pois a natureza da ira divina é perfeitamente compatível e adequada para tratar com o pecado humano. Como o exegeta Charles Hodge (1797-1878) — seguindo o mesmo raciocínio de João Calvino — comentou: “A ira de Deus [...] garante a conexão entre pecado e a miséria, com a mesma uniformidade geral que qualquer outra lei opera no governo físico e moral de Deus”.

Embora usando termos diferentes dos meus, Hodge estava dizendo que nada é tão conexo e relacionado de forma uniforme como o pecado humano e a ira de Deus. Em palavras mais simples, mas não menos verdadeiras: a ira de Deus e o pecado humano foram “feitos” um para o outro (Cf. Rm 9.22)

 Porém, por que o pecado humano é descrito por Paulo nestes termos de “impiedade” e “perversão”? Existe diferença? Essa sequência terminológica importa? O teólogo inglês Joseph Barber Lightfoot (1828-1889) defende que podemos observar nestas expressões significados diferentes e importantes.

Enquanto “impiedade” é a tradução do termo grego asebeia (?σ?βειαν) que significa um pecado “contra Deus”, “perversão” é a tradução do termo grego adikia (?δικ?αν), que significa um pecado “contra os homens”. Logo, argumenta J. B. Lightfoot, “[...] o primeiro precede e resulta no segundo”.

O teólogo John Murray (1898-1975) argumenta seguindo a mesma interpretação de Lightfoot, dizendo a sua maneira que a impiedade “[...] fala daquela perversão de natureza religiosa, ao passo que a ‘perversão’ se refere aquilo que tem caráter moral; a primeira pode ser ilustrada pela idolatria; a última pela imoralidade.” É importante enfatizar mais uma vez que essa ordem semântica de Paulo (primeiro “impiedade” e depois “perversão”) não foi um acidente de redação, mas se trata de algo intencional e significativo no texto, ensinando ao leitor que sempre “[...] a impiedade é precursora da imoralidade.”

Como vemos também nas notas da BEG, a “[...] ordem em que [impiedade e perversão] aparecerem pode ser uma advertência implícita de que a decadência moral se segue à rebelião contra Deus.” Isto significa que a falência dos relacionamentos éticos começa com a falência do relacionamento espiritual do homem com Deus, assim como uma falta de comunhão com Deus resulta nas piores formas de tratamento entre seres humanos.

No entanto, precisamos nos lembrar de que há esperança para lidar tanto com a ira de Deus como com os efeitos destrutivos de nossa rebelião em nossos relacionamentos humanos: a obra sacrificial de Jesus Cristo. Quando um homem pecador crê verdadeiramente em Cristo, naquele que como Cordeiro foi imolado pela ira de Deus naquela cruz sangrenta, ele recebe um novo coração e tem a paz com seu Criador.

Tendo a paz com Deus e um novo coração, o homem agora pode ter seus relacionamentos humanos renovados e sua perversão suprimida, pois um homem que ama e tem comunhão genuína com Deus  — também e por consequência  — amará e buscará a comunhão com aqueles que são imagens e semelhanças do Senhor (ainda que imagens manchadas pelo pecado).

 Na semana que vem, se Deus quiser, veremos mais sobre o que o versículo 18, na parte “c” fala sobre a depravação humana.

Até a próxima. Que Deus te abençoe!

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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