Romanos 1.16e: “[...] primeiro do judeu e também do grego;”

No último texto, trabalhei a ideia de que a graça de Deus tem uma condição. Ela não é uma “graça barata” ao indivíduo, como dizia o pastor luterano Dietrich Bonhoeffer (1906-1945). Ela exige do homem a fé, o crer. Ela “custa” ao homem o ser persuadido radicalmente pelo Senhor. Hoje gostaria de analisar a extensão desse evangelho a partir da parte “e” de Romanos 1.16.

Comecemos pelo fato de que Paulo já havia dito anteriormente que a salvação é “[...] de todo aquele que crê”, e por “todo”, Paulo está dizendo que não importa para Deus quem seja a pessoa — se é homem, mulher, escravo, livre, patrão, funcionário, criança, jovem ou adulto — pois se ela crê, pode receber a salvação.

Além de independer dessas categorizações de sexo, idade e posição social, agora vemos na contiuação do verso 16 que o evangelho também é suprarracial e supracultural. Ele é: “[...] primeiro do judeu e também do grego;” (Rm 1.16e). O que isso significa? Ora, significa que o evangelho em sua essência, embora sendo originário dos judeus, alcança a todo o mundo não-judeu.

Note um fato interessante nesse trecho de hoje: apesar de ser abrangente, o evangelho não deixa de ser hierárquico. Ele é “[...] primeiro do judeu”. Ou seja, na dispensação da graça, Deus estabeleceu uma ordem de prioridade, pois é “primeiro” do povo judeu. Todavia, que fique claro desde já que essa hierarquia não é baseada em etnia ou cultura, mas em uma promessa divina.

Os judeus foram, de modo especial, os receptores principais do evangelho da graça em Cristo não por serem judeus, mas porque na História da Redenção, o povo judeu —  por decreto eletivo divino —  foi quem recebeu do Senhor a revelação da aliança, a firmação do pacto, as leis, as cerimônias, os juramentos envolvendo a promessa de que da descdencência deles viria o Messias, o Salvador.

Paulo mesmo retoma essa doutrina no capítulo 9 de Romanos: “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém!” (Romanos 9.4-5).

Por outro lado, apesar da semente do evangelho da graça ser lançada em solo judeu e crescer nela, por assim dizer, ela se expande gloriosamente para além das fronteiras etnicas e culturais do judaísmo, alcançando “[...] também [os] grego[s]”. O termo para “grego” usado por Paulo, em seu contexto histórico específico, se refere não somente aos habitantes da Península Balcânica, da Ilha de Creta, do sul da Pensílsula Itálica, envolta dos mares Jônico, Mediterrâneo e Egeu da época Antiga e Primitiva; na verdade o termo era usado para mencionar todo o mundo gentílico (todo o mundo não-judeu), inclusive os próprios romanos a quem Paulo destinava esta epístola.

Resumindo, a extensão do evangelho é mundial e independe de etnia ou cultura. A graça de Cristo tem como alvo inicial a casa de Israel, como Jesus mesmo atestou (Mateus 10.6); mas sua extensão vai além, pois existem outros apriscos do Senhor: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco [judeus]. É necessário que eu as conduza também. Elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor [gentios].” (João 10.16).

Essa é a extensão do evangelho, e qualquer um que tentar reduzir essa extensão ou limitá-la com barreiras preconceituosas, xenofóbicas, racistas, econométricas, classistas ou culturais, incorre em gravíssima heresia e afronta contra o Senhor.

Na semana que vem, se Deus permitir, avançaremos para o versículo 17.

Até a próxima.

Que Deus te abençoe!