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Thunderbolts*


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 08/05/2025
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Mais uma vez a Marvel estreia um filme nos cinemas, convenhamos, com muito menos glamour e expectativa do que em outros tempos. Possivelmente essa seja uma fase que favoreça o futuro dos filmes de Hqs nos cinemas, sobretudos os filmes da Marvel, pois a baixa expectativa dos fãs tende a desafiar estúdio, produtores e diretores. Essa semana, vamos considerar alguns pontos importantes sobre a equipe de anti-heróis ou quase vilões da Marvel, os Thunderbolts*.

Há algo de fascinante em ver heróis de segunda linha ocupando o centro do palco, especialmente em um universo como o da Marvel, que sempre celebrou os medalhões. Thunderbolts*, mais do que um filme de ação, é uma espécie de experimento narrativo: o que acontece quando você reúne personagens problemáticos, com passados sombrios e personalidades difíceis, e os obriga a trabalhar juntos em nome de um bem maior que eles mesmos, ainda que esse “bem” seja, no fundo, uma missão duvidosa?

A trama gira em torno de Yelena Belova, John Walker, Fantasma, Guardião Vermelho e outros ex-(ou quase)-vilões, reunidos pela enigmática Valentina Allegra de Fontaine (vivida com deliciosa ironia por Julia Louis-Dreyfus). É a típica formação do “grupo que ninguém queria”, mas que, contra todas as probabilidades, pode funcionar. E é nesse tropel bem conhecido por quem é fã de filmes de quadrinhos que o filme se ancora, mas com um diferencial: a atmosfera mais sombria e introspectiva.

O diretor, Jake Schreier, desde os primeiros minutos, deixa claro que não quer ser só mais um produto da linha de montagem da Marvel. O tom do filme é mais contido, quase melancólico. A fotografia aposta em cores frias e ambientes urbanos decadentes, dando à obra um ar de thriller político com traços de espionagem. Não há tanta pirotecnia visual quanto em outras produções do estúdio e isso, curiosamente, joga a favor da proposta.

Yelena, interpretada por Florence Pugh, é, sem dúvida, a alma de Thunderbolts*. Sua performance equilibra dor, sarcasmo e leveza com maestria. É ela quem carrega o fio emocional da narrativa, servindo como uma ponte entre os conflitos internos dos personagens e o espectador. John Walker, papel de Wyatt Russell, por sua vez, aparece mais maduro, ainda assombrado por suas escolhas como Capitão América substituto. Sua trajetória aqui é de alguém tentando provar que pode ser mais do que um erro político.

O roteiro, que poderia facilmente escorregar para o moralismo barato, acerta ao não tentar redimir seus personagens de forma forçada. Em vez disso, oferece nuances. Os Thunderbolts* não são bonzinhos em busca de perdão. São sobreviventes tentando encontrar um lugar no mundo. Isso gera diálogos interessantes, tensões reais e momentos de introspecção raramente vistos em filmes do gênero.

Claro, nem tudo são acertos. O ritmo é irregular em alguns momentos, especialmente no segundo ato, que se alonga além do necessário em dilemas internos que, embora interessantes, poderiam ser resolvidos com mais concisão. As cenas de ação, embora competentes, não têm o impacto visual que o público da Marvel está acostumado e, talvez, essa seja uma escolha deliberada, mas que pode frustrar quem espera um espetáculo.

Ainda assim, o que Thunderbolts* oferece é algo mais raro: um mergulho na psicologia de personagens que, normalmente, seriam apenas peões na história dos Vingadores. O filme também funciona como uma crítica sutil à própria estrutura da Marvel. É quase como se dissesse: “Cansamos do heroísmo convencional. Vamos falar dos bastidores, das falhas, das cicatrizes.”

Nesse sentido, Thunderbolts* se alinha mais com produções como Logan ou até Watchmen, do que com o brilho colorido de Homem-Aranha ou Doutor Estranho. Não é um filme para crianças pequenas ou fãs de explosões ininterruptas. É uma história para quem cresceu com esses personagens e agora quer vê-los enfrentando dilemas reais, éticos, emocionais e existenciais.

O clímax, embora não seja espetacular em termos visuais, é emocionalmente potente. Ao final, o espectador não sai do cinema extasiado, mas pensativo. Há algo de amargo e, ao mesmo tempo, reconfortante na ideia de que até os quebrados podem ser úteis e mesmo quem já errou pode encontrar uma nova função. Não para apagar o passado, mas para dar um novo sentido a ele.

Por que ver esse filme? Thunderbolts* não revoluciona o gênero dos super-heróis, mas aponta uma direção possível e necessária. Em um mercado saturado de fórmulas repetidas, é um sopro de originalidade — ainda que contido — às vezes vacilante, mas honesto. Para os fãs de quadrinhos, especialmente aqueles que sempre tiveram um carinho pelos anti-heróis esquecidos, o filme é uma carta de amor, estranha, porém sincera. Para o público geral, é uma oportunidade de ver que o mundo dos superpoderes também tem espaço para a dúvida, a culpa e a tentativa de recomeço. Aproveite para ver sem culpa e sem expectativa e aproveite ao máximo. Fique atento, o filme contém duas cenas pós-créditos para a alegria de muitos. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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