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Sétima Arte - Yesterday


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 30/08/2019
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Num mundo onde a rentabilidade precede o sucesso, temos percebido cada vez mais que estamos bem no meio de um apagão artístico musical. Bem por isso, a indústria do cinema tem feito memória quase que constante de astros do passado, de uma época em que o talento falava muito mais alto que o apelo midiático e o lucro. Foi assim com os recentes Bohemian Rhapsody e Rocketman e agora, chegou a vez no cinema de uma das bandas mais icônicas de todos os tempos, Os Beatles. A Coluna Sétima Arte traz para você todos os detalhes sobre Yesterday, filme que estreou ontem.

Primeiro, é importante deixar claro que Yesterday não é uma cinebiografia, como os filmes que acabei de citar acima. Nesse caso, isso é realmente muito bom, afinal não seria nada interessante ver atores atuais incorporando mitos intocáveis da música como John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Bem por isso, o filme explora um outro viés, muito mais criativo e bem interessante. 

A história escrita por Richard Curtis, é ao mesmo tempo sensível e recheada de críticas ao atual mundo da música. Esse profissional, conhecido por grandes sucessos no campo da comédia romântica escreve sua história fascinante usando o romantismo como pano de fundo, o que torna o filme ainda mais agradável, mesmo que a trama tenha um ar de surreal.

A grande questão é: como apresentar para um mundo contemporâneo a obra da banda mais influente do século XX? Não há dúvidas que todos hoje em dia saibam quem são Os Beatles, mas quando você questiona as gerações mais jovens sobre sua produção musical a resposta é um tanto quanto vaga. Suas canções atemporais ganharam das gerações conectadas o título de “música velha” e até por isso, fora de moda. É esse o contexto que inspira Curtis a construir a sua história inserindo o protagonista num universo paralelo onde ninguém, além dele, conhece as canções dos 13 álbuns da banda de Liverpool.

Essa premissa vai gerar sequências memoráveis, como aquela em que o personagem interpretado por Himesh Patel toca para os amigos um pequeno trecho da música que dá título ao filme. Eles estão ao redor de uma mesa e o trabalho de câmera permite que o expectador contemple tanto a singeleza do momento, quanto a surpresa e emoção das pessoas que estão ao redor e que nunca ouviram a canção. Uma cena sublime, que torna o filme muito mais tocante.

O crédito de cenas como essa e de outras, que inserem as canções dos Beatles como pano de fundo da história corrente, pertence ao diretor Danny Boyle. Ele é bastante experiente na arte de encantar o público de uma forma ou de outra, que o diga o seu subversivo Trainspotting, ou o adorável Quem Quer Ser um Milionário? 

Boyle também é responsável pelo ritmo acelerado do filme, onde tudo parece que acontece muito rápido, mas o roteiro competente de Curtis mantém uma sensação constante de coesão e também de bom humor, no melhor estilo britânico. Sobre o aspecto técnico gostaria de fazer um último destaque para o trabalho conjunto de figurino e fotografia, pois as cenas são uma delícia de se ver. Tudo muito colorido e harmônico remetendo a uma tendência de cor muito típica dos anos 1970 e difícil de ser ver hoje em dia. 

Vamos à trama! Após sofrer um acidente, um cantor-compositor sem muito sucesso acorda numa estranha realidade, onde ele é a única pessoa que lembra dos Beatles. Com as músicas de seus ídolos, o protagonista se torna um sucesso gigante, mas a fama tem seu preço.

Por que ver esse filme? Por que além de ser uma bela homenagem aos Beatles e apresentá-los para a nova geração ele faz um crítica aberta ao atual mundo do entretenimento. Onde a inspiração e o talento são sufocados pela indústria, fazendo com que músicas e pessoas sejam descaracterizadas em nome do lucro. Não é uma obra prima, mas um filme extremamente agradável de se ver e que vale a pena ser conferido na tela grande. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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