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O Som do Silêncio


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 18/02/2021
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O filme que escolhi para comentar essa semana não é uma estreia, pois já está disponível no serviço de streaming do Amazon Prime Video há algumas semanas, mas, a meu ver, é um filme que merece destaque e também ser visto. Não comentei sobre essa obra antes porque esse tipo de filme exige um certo tempo para digestão, ou seja, é preciso um distanciamento da experiência de vê-lo para que a catarse sobre ele possa ser realmente completa. Como ele não é aquele tipo de filme extremamente popular, precisa tanto de indicação como reflexão para que as pessoas o contemplem, por isso, essa semana, comentarei sobre O Som do Silêncio. Um drama moderno, pesado, mas extremamente necessário.

Em geral eu gosto de comentar sobre filmes mais leves e gêneros que agradem ao público, mas volta e meia é preciso comentar sobre obras mais densas, como a dessa semana. O Som do Silêncio chegou como ares de cult no Prime Video e logo no primeiro dia eu, ávido por novidades, assisti ao filme à queima roupa. Sem ler nada previamente a respeito, fui surpreendido com uma história muito mais complexa do que eu poderia imaginar. A sinopse faz esse filme parecer de uma simplicidade sem tamanho, mas conforme os minutos vão correndo o expectador vai, cada vez mais, adentrando na vida e no drama da personagem principal até que esteja completamente envolvido por tudo aquilo. É praticamente uma experiência de imersão.

Tanto que não tardou para O Som do Silêncio (não se iluda, esse filme não tem relação nenhuma com a famosa música da dupla Simon e Garfunkel, tanto que o título em inglês é Sound of Metal e não Sound of Silence) ser descoberto pelo circuito de premiações de Hollywood. Após várias indicações em prêmios menores, o longa ganhou destaque no Globo de Ouro 2021, recebendo uma indicação ao prêmio de Melhor Ator em filme de Drama.

Quando consideramos que esse é o filme de estreia do diretor Darius Marder, que também assina o roteiro, percebe-se que o frisson por esse filme entre os críticos e nos festivais é um bom sinal. Será que estamos diante de um novo grande nome da Sétima Arte? Isso só o tempo dirá, mas o que podemos ter certeza é que seu primeiro longa é um drama muito bem feito, capaz de tocar no emocional do público sem precisar de nenhum tipo de clichê. O fato dos personagens e da própria trama serem altamente comuns, faz com que a história não seja apenas plausível, mas passível de acontecer com qualquer pessoa e isso toca profundamente na psique do público.

Para além disso, o filme incorpora em seu enredo características de cult que ajudam a contar a trama, fazendo dele não apenas uma obra de arte, mas um filme altamente funcional. Para exemplificar isso, gostaria de comentar sobre alguns detalhes. Quando os fatos relevantes começam a acontecer, o foco no barulho de coisas simples, como a gota de café, ou a respiração do protagonista, aparentam ser algo muito banal, até que esses sons cotidianos desaparecem. Nessa hora, se você for um expectador atento já estará tão desesperado quanto o próprio protagonista.

Falando em protagonismo, a indicação de Riz Ahmed ao Globo de Ouro foi muito acertada. Eu duvido que ele venha a ganhar o prêmio, mas, com certeza, outras oportunidade não irão faltar, já que ele provou ser um excelente ator. Além dele, outra estrela brilha forte no elenco, Paul Raci. Esse experiente ator impõe presença e respeito todas as vezes que está em cena e apresenta uma personagem de tamanha profundidade que desperta a vontade de que ele ganhe um filme só para si. Além dos dois, quem também colabora muito para o desenvolvimento da personagem principal é a atriz Olivia Cooke. Interpretando a namorada do protagonista ela indica os rumos quando ele já não tem mais direção. Fora isso, ver atores que são, na vida real, surdos mudos já é um diferencial à parte nessa obra.

Antes de comentar sobre a trama, eu quero comentar sobre o andamento do filme, ele não é rápido e cheio de reviravoltas, mas nem por isso é um filme desinteressante. Tem um ritmo mais lento, que justamente contribui para que o expectador aprenda e cresça com o protagonista. Dessa forma, a pressa é inimiga de ambos (do protagonista e do expectador) e, no momento que o protagonista apressa as coisas, ele percebe que tinha mais a perder do que esperava ganhar em contrapartida. Grandes obras são assim, oferecem tempo para que sua digestão permita uma leitura de entrelinhas dos fatos e, dessa forma, aprenda-se algo com ela. Vamos à trama!

Em O Som do Silêncio, um jovem bateirista teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Duas paixões estão em jogo: a música e sua namorada, que é integrante da mesma banda de heavy metal que o rapaz. Essa mudança drástica acarreta em muita tensão e angústia na vida do bateirista, atormentado lentamente pelo silêncio.

Por que ver esse filme? Porque as pessoas de todas as idades têm muito a aprender com essa obra, mas os mais jovens irão se identificar muito mais e poderão pensar em alguns aspectos da vida que são, muitas vezes, ignorados por eles. O filme é um drama que aborda os problemas dos jovens de agora, principalmente em relação a sensação de invencibilidade. Quando essa sensação foge ao controle, é preciso paciência, pré-disposição e ajuda de quem é mais experiente para fazer com que isso não se torne um problema permanente. Além disso, o filme é um exemplo inspirador para todos aqueles que, infelizmente, são obrigados a lutar diariamente contra o vício da droga. Em meio às adversidades, manter-se limpo pode ser difícil, mas nunca impossível para quem tem força de vontade e foco na vida. Assista com calma e aproveite esse grande filme. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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