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Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 17/01/2025
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Essa semana, eu poderia comentar nesta coluna sobre um dos possíveis grandes concorrentes do Oscar e, quem sabe, competidor de peso nessa corrida ao lado do nosso querido Ainda Estou Aqui, que, convenhamos, segue fazendo história ao ser indicado para o BAFTA — o equivalente britânico do Oscar — na categoria de Melhor Filme Internacional. Porém, estamos vivenciando um tempo ímpar de renascimento do nosso cinema nacional, por isso, abri mão de exaltar um filme estrangeiro para comentar sobre um lançamento nacional que tem chamado muito a atenção do público. Além disso, ainda é tempo de férias, e o filme em questão é aquele tipo que agrada toda a família, principalmente as crianças, que precisam de entretenimento para esse período. Nesta edição, você saberá um pouco mais sobre Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa.

O cinema brasileiro tem uma tradição encantadora de presentear o público infantil com filmes que marcam gerações. Com o advento das grandes franquias internacionais, essa tradição parecia ter se tornado mais tímida, mas a Turma da Mônica, com suas adaptações recentes, vem resgatando esse espaço com louvor. Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é a mais nova joia desse ressurgimento, trazendo para a tela grande o universo rural de um dos personagens mais queridos de Mauricio de Sousa.

Desde o primeiro momento, o filme nos transporta para a simplicidade e a beleza da vida na roça, com uma abertura que estabelece o tom e o carisma do protagonista, interpretado por Isaac Amendoim. A escolha de Isaac para o papel de Chico Bento é um verdadeiro acerto; ele encarna o personagem com uma naturalidade que parece ter saído diretamente das páginas dos gibis. Sua performance é tão autêntica que rapidamente nos esquecemos de que estamos diante de uma adaptação, e nos deixamos envolver pela história contada com a vivacidade e sinceridade de uma criança.

A narrativa gira em torno da relação afetuosa de Chico com uma goiabeira, símbolo de sua infância e alegria, e o conflito que surge quando Dotô Agripino, vivido por Augusto Madeira, planeja construir uma estrada que ameaça a existência da árvore. O roteiro, obra de Elena Altheman, Raul Chequer e do próprio diretor Fernando Fraiha, é inteligente ao mesclar a ingenuidade das tramas infantis com questões ambientais relevantes, dialogando com o público jovem de maneira didática e afetuosa.

A Vila Abobrinha é retratada com uma estética que combina o lúdico com o realismo, graças à fotografia de Gustavo Hadba. As cores vibrantes e os enquadramentos bem-humorados, como o close em uma semente ou o olhar de um jumento, conferem ao filme uma identidade visual que dialoga perfeitamente com a essência do personagem e sua ligação com a natureza. A direção de Fraiha é segura e sensível, garantindo que o espectador seja envolvido por uma trama que, embora simples, é rica em emoções e valores.

O elenco mirim, liderado por Isaac Amendoim, é o coração pulsante do filme. Pedro Dantas como Zé Lelé e Anna Julia Dias como Rosinha trazem à vida as travessuras e a amizade que tanto amamos nos quadrinhos. A dinâmica entre eles é cativante, e a forma como a narrativa permite que eles interajam com o público, quebrando a quarta parede, é um recurso bem-vindo que aproxima ainda mais a audiência dessa turma tão especial.

Os adultos, embora tenham um papel secundário, são igualmente memoráveis. Luis Lobianco como Nhô Lau oferece momentos de pura diversão, enquanto Débora Falabella, no papel da Professora Marocas, adiciona uma camada de ternura à trama. Taís Araújo surge em uma participação especial que emociona, demonstrando a capacidade do filme de entrelaçar a simplicidade da vida rural com a complexidade dos sentimentos humanos.

A mensagem ambiental é tratada com delicadeza, sem jamais se sobrepor à essência da história. O filme consegue, de maneira sutil, educar e sensibilizar as crianças sobre a importância de preservar o meio ambiente, usando a ameaça à goiabeira como metáfora para os impactos do progresso desenfreado. Essa abordagem equilibrada é um dos pontos altos do roteiro, que não subestima a inteligência do público infantil.

Fernando Fraiha demonstra um domínio notável da linguagem cinematográfica, criando cenas que são ao mesmo tempo engraçadas e tocantes. A direção de arte e o figurino contribuem para essa sensação de estar imerso em um mundo onde a fantasia e a realidade se misturam harmoniosamente. A trilha sonora, repleta de melodias que evocam o interior e a simplicidade, é outro elemento que engrandece a experiência.

Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é, sem dúvida, um dos destaques do cinema nacional em 2025. É um filme que celebra a infância, a amizade e a conexão com a natureza, temas universais que encontram eco na alma brasileira. A participação especial de Mauricio de Sousa, um tributo ao criador dessa rica mitologia, é um momento de puro afeto que certamente aquecerá o coração dos fãs.

Por que ver esse filme? Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa é um convite para reviver a simplicidade e a pureza dos gibis de Mauricio de Sousa. Isaac Amendoim é a estrela que ilumina essa jornada, garantindo que o espírito de Chico Bento seja preservado e reinventado para uma nova geração. O filme é gostoso de ver porque aborda temas que são caros aos brasileiros, como a inocência e a natureza. Além disso, pode-se considerar que o filme também é um lembrete de que o cinema nacional pode, sim, competir de igual para igual com as grandes produções internacionais, como as da Disney, Pixar, Dreamworks e Illumination, mantendo sua identidade e seu calor humano. É uma obra para ser apreciada por toda a família, capaz de arrancar risadas, suspiros e, quem sabe, algumas lágrimas. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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