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Sétima Arte - Vidro


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/01/2019
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A Coluna Sétima Arte está de volta, após um curto período de férias ela chega com tudo, trazendo o controverso filme Vidro, do aclamado diretor M. Night Shyamalan e também as justiças e injustiças dos indicados ao Oscar, que foram anunciados essa semana.

Vamos começar falando sobre os indicados ao Oscar 2019. Como esperado os dois principais concorrentes são Roma e A Favorita. Roma, de Alfonso Cuarón, é um drama familiar inspirado em sua biografia, um filme bastante cult e que você pode conferir na sua própria casa por meio da Netflix. Já A Favorita é uma comédia dramática assinada pelo diretor Yórgos Lánthimos, um filme que é, no mínimo, fora dos padrões. Cada um deles recebeu dez indicações ao Oscar, mas o que ninguém esperava mesmo era que Pantera Negra, um filme de super-herói da Marvel recebesse a indicação de Melhor Filme. Se justiça foi feita em alguns aspectos, as indicações mostram algumas injustiças em outros e um deles é a não indicação de Melhor Diretor para Bradley Cooper, por seu Nasce Uma Estrela, tudo bem que ele não teria peso para concorrer com Spike Lee, ou Cuarón, mas seria, no mínimo, um reconhecimento pelo trabalho realizado por ele no filme em questão. Outra esnobada descarada por parte da Academia que tem incomodado muita gente foi a falta de indicação ao trabalho incrível realizado pela equipe de efeitos especiais de Aquamam. Por fim, eu diria, que uma grande injustiça foi ninguém lembrar da incrível atuação de Toni Collette no terror Hereditário, filme que já é considerado por muitos como um clássico moderno do gênero. 

Agora, vamos focar em Vidro. Comecei o texto falando que é controverso e na verdade isso foi bem literal, porque, ao mesmo tempo em que o filme carrega o peso de ser uma obra prima de um dos diretores mais influentes desse início de século, traz o rechaço da crítica especializada que detonou o filme em seus primeiro dias.

Isso faz ressurgir aquela velha indagação: quem define o valor de um filme, os críticos ou o público? Isso porque o público que não tem se deixado levar pela onda negativa de críticas tem dado um feedback muito positivo sobre a obra de Shyamalan. A meu ver o que mais importa é um espectador feliz, bem por isso, eu gostaria de dizer que mesmo sendo lento e trazendo tramas paralelas, algumas vezes não tão bem resolvidas, ele surpreende em seu intenso plot twist e deixa muita gente de boca aberta.

Trazer uma grande reviravolta no final de seus filmes é uma marca registrada desse diretor, que também assina o roteiro de Vidro. Desde seu notório Sexto Sentido, ele sempre traz em seus filmes um final surpreendente. Algo que agrada muita gente, mas que fragiliza o filme, pois um spoiler bem dado pode acabar com o interesse do expectador pela obra. Em tempos de spoilers involuntários por todos os lados (principalmente na internet), sem dúvida alguma, Shyamalan se tornou um diretor de risco, mas isso não ofusca o brilhantismo de Vidro.

O filme é grand finale para uma trilogia iniciada no ano 2000, com Corpo Fechado, que trazia a história de um homem comum que após um acidente de trem descobre ser indestrutível. Nessa época, Shyamalan tinha acabado de chocar o mundo com seu suspense Sexto Sentido e trazer de volta Bruce Willis como protagonista era uma boa jogada. Numa época em que filme de herói não era gênero, ele conseguiu levar toda a complexidade do mundo dos quadrinhos para o cinema, construindo uma obra que era tão pop quanto cult (se você já viu o filme vai se recordar dos ângulos variados de câmera e dos planos amplos, além de uma narrativa bastante intimista).

Em 2016, o diretor pegou todo mundo de surpresa com o excelente Fragmentado, que tinha ares de terror e que evidenciou o talento de James McAvoy, nesse filme ele interpreta um personagem com 24 personalidades diferentes. Fragmentado trazia a promessa de que o brilhante diretor estava se reencontrando, o que ascendeu uma luz de esperança entre os fãs. 

Agora, com Vidro, ele não apenas fecha sua trilogia, como conecta todas as histórias de maneira plausível e criativa, trazendo de volta às telas um filme que fala de heróis e vilões com uma naturalidade extremamente humana e sem uma narrativa fantástica, algo bem diferente do que nos acostumamos a ver com a Marvel e a DC.

Do ponto de vista técnico Vidro abusa dos ângulos de câmera, exibe um trabalho de fotografia difuso, com cores bastante variadas e um roteiro com ritmo inusitado, aparentando lentidão em alguns momentos e uma agilidade inesperada em outros. Importante frisar que nada disso é acaso e que tudo foi pensado para ser concebido assim, colaborando para a narrativa dos fatos.

O elenco conta com as estrelas Samuel L. Jackson, interpretando o personagem que dá título ao filme e que já conhecemos em Corpo fechado e também com Bruce Willis e James McAvoy, ambos já citados. Soma-se a eles Anya Taylor Joy, a sobrevivente de Fragmentado, e Spencer Treat Clark, o garotinho, agora adulto, de Corpo Fechado. Mas quem realmente rouba a cena é Sarah Paulson, no papel da doutra Ellie Staple. Ao questionar a veracidade dos poderes de cada um dos personagens centrais, ela cria uma ponte entre as possíveis indagações do público para com esses personagens.

Vamos a trama! Após a conclusão de Fragmentado, Kevin Crumb, o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn, o herói de Corpo Fechado. O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price, que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois. Falar mais é correr o risco de estragar a sua diversão no cinema.

Por que ver esse filme? Por que é envolvente, surpreendente e não é nada parecido com os filmes de heróis que nos acostumamos a assistir na última década. Um suspiro de criatividade em meio a um cenário de blockbusters. Veja sem medo e fuja dos spoilers. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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