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Sétima Arte - Roma


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 08/02/2019
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Hoje a Coluna Sétima Arte se dedica a um filme que você pode assistir em casa e não no cinema. Antenado ao futuro, o diretor Alfonso Cuarón levou sua obra prima diretamente para a casa de seu público por meio da plataforma de streaming Netflix e agora ganha o mundo com suas indicações ao Oscar 2019. Sobre Roma, você fica muito bem informado na edição dessa semana.

Não há dúvidas que a tela grande, o som ensurdecedor e a escuridão, características típicas do cinema criam um clima todo especial de magia que faz com que ir até uma sala de exibição se torne sempre um evento, mas em tempos de comodidade e de internet, tem-se percebido cada vez mais que uma grande parcela prefere assistir seus filmes e outras obras de entretenimento no conforto de seu lar. 

Atrevo-me a dizer que nos dias de hoje as plataformas de streaming concretizam o que as locadoras de vídeo não conseguiram fazer nos anos de 1990, ou seja, baterem de frente com a poderosa indústria do cinema. E para ilustrar essa informação utilizo o filme em destaque, Roma, do excelente diretor mexicano Alfonso Cuarón.

Não é de hoje que Cuarón é um dos queridinhos do mundo do cinema e, claro, um dos meus preferidos. Dono de uma filmografia bastante enxuta, ele está desde 2013 sem apresentar ao mundo sua obra, mas quando a trouxe para luz surpreendeu positivamente o público e a crítica e fez muito barulho. Isso porque seu filme foi cortado de um dos maiores festivais de cinema do mundo, o Festival de Cannes 2018. O Motivo? Cuarón lançou seu aclamado Roma na plataforma de streaming Netflix, para que qualquer um pudesse assisti-lo do sofá. 

Já faz um tempo que a polêmica sobre a aceitação ou não em festivais dos filmes que não estrearam diretamente no cinema vem causando desconforto ao redor do mundo. A meu ver, o novo sempre vem e precisa ser aceito de braços abertos, pois de reacionários a sociedade como um todo já está abarrotada. De qualquer forma, o veto em Cannes serviu apenas para a publicidade do filme, que seguiu ganhando prêmios e elogios ao longo do ano, dentre eles um Leão de Ouro de Melhor filme no Festival de Veneza. Agora, Roma está na corrida pelo Oscar e é um concorrente de peso.

Roma é uma obra completamente intimista, com ares de épico da vida privada e uma alta de dose arte. Ainda que extremamente popular, ele não é um filme para qualquer um. Mesmo assim é de encher os olhos e alma. Dizer que esse é o filme da vida de Cuarón não chega a ser um exagero, já que ele assina não apenas a direção, mas o roteiro, a produção e a fotografia do filme. Tudo com uma maestria que beira a excelência, as personagens centrais são muito bem construídas e exalam as características que o diretor deseja, sejam elas a experiência ou a inocência. Mas o mais interessante é que, mesmo assim, ambas sofrem do mesmo mal, do abandono, da crueza da vida e da necessidade de superação.

Engana-se quem pensa que o título do filme é uma referência à cidade italiana, na verdade esse é o nome de um bairro de classe média na Cidade do México. O título também pode ser entendido como uma homenagem do diretor ao filme Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rossellini, pois há muito do neorrealismo italiano na estética utilizada por Cuarón.  A trama narrada tem como base as memórias do próprio diretor e o apreço que ele ainda tem por sua babá da infância. Tanto é que isso se reflete no cuidado e na leveza do desenvolvimento do filme.

Em seu aspecto técnico o filme é um primor e destaque deve ser dado para as atuações de Marina de Tavira e da estreante Yalitza Aparicio, elas são a alma do filme e convencem tanto quanto encantam com suas atuações. Mas, de todos os aspectos técnicos, talvez o que mais salte aos olhos seja o trabalho de fotografia. Alfonso Cuaron transfere para a tela todo o amor que ele sente pelo seu país, por isso, cada cena é uma obra de arte. Além disso, o incomum movimento de câmera utilizado por ele dá uma extensão maior do que se pode imaginar a cada cena, não apenas alongando, mas ampliando o campo de visão para que detalhes possivelmente imperceptíveis se tornem importantes para o expectador.

Vamos à trama! Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

Por que ver esse filme? Porque ele é um filme construído para contrastar a beleza e a verdade, muitas vezes desvalorizadas do cotidiano e da vida das pessoas mais simples. Além disso, o filme é pura arte com seu alto padrão estético, técnico e cheio de referências. Por fim, porque ele está ao alcance de sua mão, basta um controle remoto para assisti-lo na poltrona de casa. Se você ainda não conhece a Netflix, caro leitor, é melhor se atualizar, pois o futuro do mundo do entretenimento, ao que tudo indica, está mais perto do que você imagina. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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