Serenidade em tempos pandêmicos
Imagino que o título de mais esta exposição de ideias, possa repentinamente, causar espanto e levantar o seguinte questionamento, bastante pertinente por sinal: “Como ser sereno em um momento tão difícil como o que estamos experimentando?” Realmente, não se apresenta como uma condição fácil asserenar-se em tempos de pandemia. Segundo o filósofo brasileiro José Herculano Pires: “A vida serena não é, a serenidade plena, mas um constante equilíbrio entre serenidade e inquietude”. Para ele, a serenidade aproxima-se de uma forma de equilíbrio e não o equilíbrio em si. Este autor, postula que a potencialidade de se atingir a serenidade é inata ao ser do homem e por esta razão, não pode ser buscada ou atingida por meios inautênticos. A conscientização equilibrada pela busca da serenidade, se expressa como o seu primeiro passo fundamental. Em tempos de inquietação como os da pandemia, para os homens inquietos é bastante fecunda, pois os retira de modo ilusório do marasmo existencial no qual se encontram, acomodando-se no desejo desta inquietação estéril pela falsa serenidade. Existe um término para essa inquietude e como adverte Herculano: “A inquietação desencadeia no psiquismo em conflito a tempestade emocional que terá por seu fim a bonança” (PIRES, 2008, p. 31). Significa dizer, que apesar de nossas inquietações e aflições nestes tempos de Covid-19, necessitamos buscar a serenidade e quanto mais próximo da serenidade e do equilíbrio, o Ser do homem pode também asserenar-se espiritualmente, isto é, a elevação para a serenidade direciona o Ser do homem, a uma posição assumida diante do tumulto do mundo, sem nenhuma finalidade específica, a não ser a de manter-se senhor de si mesmo (PIRES, 2008, p.42). Mais do que nunca, penso que necessitamos nos assenhorar de nós mesmos, não por causas inautênticas ou por arrogância, mas para nos elevarmos acima
das circunstâncias, quando a serenidade captada e praticada pelo Ser do homem, durante e após uma experiência como a pandemia do Coronavírus, determine as condições para se levar uma vida menos perturbada, mais justa, mais solidária, menos material. Permitindo, se assim buscarmos, o caminho para uma existência espiritual com maior riqueza e intensidade. Sendo assim, a busca da serenidade não é uma evasão da realidade e muito menos um escapismo do homem, ante os grandes problemas existenciais. Ela representa uma atitude frente ao mundo.
PIRES, J. H. O SER e a Serenidade: Ensaio de ontologia interexistencial. São Paulo/SP: Ed. Paidéia, 2008.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com