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Seja curioso, não julgador


Por: R. S. Borja
Data: 03/10/2024
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Frase dita pelo protagonista de uma série de streaming, atribuída a Walt Whitmann (segundo alguns erroneamente), mais do que um conselho, deveria ser adotada como um lema de vida nos dias atuais dominado pelo mundo virtual, com suas redes sociais e múltiplas informações em alta velocidade, rapidamente substituídas por outras, em um looping infinito.

Sendo usuários de rede sociais, querendo ou não, passamos a olhar para a vida dos outros e somos bombardeados por textos, fotos e vídeos. Ou melhor, vemos recortes do dia a dia do outro, a parte que ele quer mostrar, recebemos notícias e informações, conforme nosso interesse, selecionadas pelo algoritmo, passando a integrar uma bolha, na qual só participam aqueles que pensam e tem comportamento iguais ou parecidos com o nosso.

E, invariavelmente, no rolar dos dedos pelas telas, a primeira reação, quando não a única, que temos é julgar palavras, frases, comportamentos, roupas, cabelos, locais, paisagens e companhias que nos são mostrados naqueles recortes fotográficos, nos vídeos de um minuto, pouco menos ou mais. E tão rápido quanto o apontar o dedo vem o julgamento final: racista, homofóbico, misógino, extremista, conservador, ostentador, entre muitos outros.

Não somos curiosos para buscar saber os motivos de tal comportamento, o contexto das palavras, o que levou a pessoa a se vestir e a usar o cabelo de tal forma. E, na realidade, além de não querermos, não temos tempo para tal aprofundamento, pois já somos bombardeados por novas fotos, vídeos e textos e, consequentemente, temos que direcionar nosso talento de juiz para outras pessoas.

E vamos perdendo nossa capacidade de analisar os fatos com uma profundidade maior e tomar decisões e agir de acordo com um maior conhecimento passando a ter comportamento baseado em informações rasas, superficiais e incompletas, seja para uma simples escolha de local para se alimentar ou para escolher quem iria administrar o País, Estado ou o Município.

Estamos prestes a realizar a escolha, em todo o Brasil, dos novos administradores e legisladores municipais. Vimos, lemos e ouvimos que, pelo País afora, ocorreram agressões físicas e verbais, denúncias com e sem fundamento, sem contar muitas outras situações não noticiadas.

Diante dessas informações e da importância da escolha, quem sabe poderíamos usar esse evento para fazer aflorar nosso lado curioso e esquecer um pouco o julgador que há em nós. Se fossemos curiosos, será que não faríamos essas perguntas:

Por que as pessoas, independentemente de sua classe social ou grau de instrução, lutam tanto para ocupar um cargo de prefeito ou vereador?

Se os fins justificam os meios, e a finalidade da eleição é escolher o melhor administrador e os melhores legisladores, cujos os atos devem ser pautados pela lei, por que em todas as eleições há sempre comentários de que houve a prática de atos escusos e ilícitos?

O que faz pessoas, nesse período, terem comportamentos que nunca tem em sua privada, comportamentos estes que, inclusive, abominam, seja na condição de candidatos, de apoiadores ou eleitores?

O que faz pessoas com certa idade, estabilizadas financeiramente, com filhos e/ou netos, aceitarem saírem de seus lares, deixando de ter um tempo com seus familiares, para concorrerem a um cargo, o que importa em ter sua vida privada exposta, serem vítimas de ofensas, denúncias infundadas, piadas de mau gosto?

Ser de direita, centro ou esquerda torna a pessoa melhor ou pior administradora ou legisladora?

A cor da pele, grau de instrução opção sexual torna a pessoa melhor ou pior administradora ou legisladora?

Já ter exercido ou não o mandato anteriormente torna a pessoa melhor ou pior administrador (a) ou legislador (a)?

Ter prosperidade e sucesso na vida privada torna a pessoa melhor ou pior administrador (a) ou legislador (a)?

Por que a lei autoriza os candidatos a gastarem, durante a campanha, valores superiores ao que irão receber nos quatro anos de mandato

Se fossemos um pouco mais curiosos, milhares de indagações seriam feitas a nós mesmos e aos candidatos, apoiadores, nossos familiares e vizinhos.

Julgamos com base nas nossas percepções e limitações da vida, aliado ao que vemos do comportamento do outro. As nossas percepções e limitações de vida podem ser ampliadas com base no nosso interesse em saber sobre as coisas e pessoas.

Seja curioso e não julgador. Ou, na impossibilidade, seja um julgador curioso.

R. S. Borja


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