Com o passar dos anos, cada vez mais tenho a certeza de que a maior maravilha da vida são as pessoas. Poderia já encerrar o texto afirmando que são maravilhosas por serem criadas à imagem e semelhança do Criador e mesmo quem não acredita em Deus não se exime dessa origem divina, ainda que busque uma razão científica para nossa presença neste mundo.

Podemos indagar se as pessoas são tão maravilhosas quanto as florestas, montanhas, rios, mares e demais belezas naturais. Sem dúvida são, porque todas as pessoas são maravilhosas por si e o conceito de beleza natural encontra-se condicionado ao olhar de cada pessoa, não sendo, portanto, algo indiscutível.

E a maravilha das pessoas reside no fato de sermos o que queremos, quando queremos e como queremos. De sermos vários ao mesmo tempo e mutáveis durante os anos, meses e dia e a cada segundo.

Esta capacidade de sermos o que queremos não está atrelada a riqueza material, estabilidade financeira ou atributos físicos. Também não é consequência de educação, cultura, amizades ou ambientes.

Está na observação e no poder de escolher como se comportar e agir em cada momento e ocasião e com cada pessoa. E passamos a ser mutáveis como um camaleão a cada segundo, inclusive com ações que contradizem tudo o que falamos e apregoamos.

Quantas vezes fomos em eventos sociais e optamos por sermos simpáticos e sorridentes somente com os conhecidos e mal cumprimentamos os demais presentes, mesmo dizendo que tratamos todas as pessoas da mesma forma? Apregoamos que as aparências enganam, mas quantas vezes temos o impulso de concluir que quem anda com carro caro e bem vestido é pessoa próspera e o que anda de chinelo é pessoa pobre? Quantas vezes tratamos melhor a pessoa bem vestida do que aquela que está trajada de forma simples? E tem a clássica beleza não é tudo mas não deixamos aquela pessoa destituída de atributos físicos se aproximar?

A mutabilidade e a fragmentação instantânea das pessoas as tornam contraditórias para si e para os outros, tornando-as todas elas fascinantes para quem tem o cuidado, tempo e disposição para observar.

Ao mesmo tempo, as pessoas escolhem ser, para si, e para outros, progressistas/conservadoras; carismáticas/antipáticas, crédulas/céticas; preconceituosas/inclusivas, o topo e o fundo do poço.

E quando escolhem ser o Deus e o Diabo na própria vida e na dos outros é o momento de início do caminho que leva ao ponto da virada. Chamo de ponto de virada aquela situação, momento ou fato em que as certezas se tornam dúvidas, os planos e sonhos se desmancham como castelos de areia e somente resta o instinto de sobrevivência.

É aquele momento em que você escolhe permanecer subjugado aos vícios e hábitos que te fizeram chegar até ali ou busca meios de abandoná-los e recomeçar; em que decide se prefere permanecer derrotado pela dor do terminou da rejeição ou se usa disso como motivação para se reencontrar e levantar.

Acredito que todos nós já chegamos ou fomos levados por alguém a diversos pontos de virada na nossa vida como também levamos as pessoas próximas ao seu ponto de virada. Todos nós conhecemos alguém que escolheu permanecer derrotado após o ponto de virada e também muitos que escolheram recomeçar, lutaram e hoje são vitoriosos.

E quando vemos isso, podemos lembrar de que seremos conhecidos como aqueles que reparam qualquer coisa, reconstroem sobre as antigas ruínas da vida, usam os entulhos do passado para construir de novo, que conseguem gerar vida plena até no lugar vazio, conforme uma das interpretações de Isaias, capítulo 58.

Ou ainda, que todo santo tem seu passado e todo pecador tem seu futuro.

Se as pessoas são assim, se podem ser o que quiserem e escolherem ser, sim, as pessoas são a maravilha do mundo.