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O que é a vida senão o dia a dia


Por: R. S. Borja
Data: 27/06/2024
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Qual a sua opinião?

Inicio este texto transcrevendo algumas frases lidas e ouvidas, deixando claro que não há qualquer conotação política, ideológica, religiosa e nem mesmo adjetivos de cunho subjetivo com intenção de ferir suscetibilidades.

“Não devemos definir o que é mulher mas podemos dizer, com certeza, que mulher trans é mulher”

”Agir sem amor é perder a razão”

“A liberdade de expressão não pode atingir a democracia”

“A internet deu voz a qualquer idiota”

“Só vi verdades no que foi dito”

“Devemos normalizar tal pensamos ou conduta”

Lendo cada uma delas, chega-se a conclusão que não possuem relação uma com a outra, pois tratam de assuntos diferentes, de temas não coincidentes e que não se misturam. Porém, todas elas tem, em seu conteúdo, um mesmo ponto em comum, ponto este que cada vez mais usamos em nosso dia a dia.

Todas elas contém palavras indefinidas, conceitos abertos, vagos e, principalmente, subjetivos. Ora, se não é possível definir algo, como posso concluir que algo é aquilo? O que é agir com amor ou perder a razão?  Ser idiota é ser uma pessoa comum (significado original da palavra) ou ser uma pessoa incapaz de coordenar as ideias (significado atual)?  Quantas verdades existem? O que é normal?

Adotamos o costume de nas rodas de amigos, cada vez mais raras, e nas publicações em redes sociais, de não nos utilizarmos de expressões contundentes e conceitos definitivos. E tal prática se constitui de mecanismo de defesa contra ataques pessoais e, principalmente, do famigerado cancelamento, instrumento tecnológico de exclusão de alguém do meio social, evolução daquele comportamento infantil adolescente que sempre deixava alguém de fora das brincadeiras, festas, etc. (quem passou por essa experiência, sabe o que é exclusão)

Ocorre que esse mecanismo, aliado a expansão global da internet e redes sociais, criou um fenômeno que vem sendo chamado de geração dos especialistas em opiniões.

Ora, se ninguém diz o que é amor, normal, verdade, cada um pode definir cada uma dessas palavras da forma que achar conveniente para si, de acordo com seu grau de instrução, meio que vive, como foi educado, e assim por diante. Tudo é subjetivo.

E ao mesmo tempo todo mundo sabe um pouco sobre todos os assuntos. Conforme as páginas que seguimos, somos especialistas em medicina, culinária, leis, estética, perfumes, sem nunca ter cursado faculdades, escolas, etc. Podemos conhecer diversos países, seus lugares turísticos, sem sair de casa. Passamos a ser especialistas em psicologia, relacionamentos, em formas de como atrair outras pessoas.

Alguns se vangloriam de a cada semana ter se tornado especialista em um determinado assunto.

Certo é que obter conhecimento é algo salutar. A grande questão é que as redes sociais possuem inúmeras informações que podem ou não redundar em conhecimento. E mais, sabemos que usamos as redes sociais de conformidade com nossos interesses pessoais, ou seja, procuramos as páginas que consideramos relevantes para o nosso cotidiano (os algoritimos estão a nosso serviço exatamente para isso), o que nos leva a viver em bolhas temáticas ou comportamentais.

Unindo o excesso de informações obtidas nas páginas que escolhemos, acessadas por pessoas com pensamentos iguais aos nossos, que reforçam a ideia de que sabemos tudo sobre aqueles assuntos postados, nos levam a desconsiderar opiniões contrárias e a desmerecer as pessoas que as emitem, levando, como não poderia ser diferente, à radicalização.

E a radicalização conduz a insultos, agressões verbais que podem ou não evoluir para agressões físicas. Se comentamos uma foto, os que não gostam já respondem, a maioria das vezes de forma não educada. Se elogia determinada pessoa, os detratores dela já se manifestam. E isso serve para política, esportes, atores, jogadores de futebol, times, filmes, novelas.

E a consequência é que tudo foi reduzido a uma mera opinião, e opiniões podem e pior devem ser questionadas, refutadas até convencer que a nossa opinião é a certa, nem que se tenha que apelar para meios não muito corretos.

A terra gira em torno do sol. É só a minha opinião. Dois mais dois são igual a quatro. É só uma opinião não mais certeza matemática. E cada vez mais professores, mestres e doutores ouvem essa resposta ou afirmação em suas aulas, palestras e outros eventos.

Não sei se tudo isso é bom ou ruim. O futuro dirá.

Mas isso é só a minha opinião.

R. S. Borja


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