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Reflexão crítica e racionalidade do medo


Por: Assessoria de Imprensa
Data: 19/05/2020
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Todos nós, ditos seres humanos, pensamos. Mas somos mais do que essencialmente seres racionais. Há diferença? Sim! Pois muitas vezes quando pensamos, não exercitamos ou mesmo ousamos fazer uso da reflexão crítica quando agimos em diferentes e variados âmbitos de nossa existência. A reflexão crítica é um instrumento de análise crucial para julgarmos nossos atos e decisões. Pode auxiliar-nos a decidirmos de fato sobre o que pode ser o certo ou não, algo muitas vezes difícil de se discernir. Refletir criticamente é um examinar a nós mesmos e a nossa realidade, em como nos inserimos no mundo com outros. 

Contudo, somos também seres de paixões e desejos. Não somos máquinas meramente pensantes. Afetamo-nos por paixões e sentimentos que nos desviam exatamente da reflexão crítica e nos levam inclusive a repudiá-la, a odiá-la e preferir a opinião muitas vezes de fora, de um outro alguém que não eu, que diz o que se deve ou não fazer ou pensar, como agir desta ou daquela forma.

Não se trata aqui de recusar a troca de ideias e opiniões, extremamente saudáveis para a reflexão crítica e à construção de nossa autonomia, isto é, sermos livres no pensar e agir, mas mesmo a troca de ideias e o debate torna-se sufocada pelas paixões e a prevalência do pensamento único, embasado em obediência e simples opinião. E neste momento, desta grave pandemia, um dos principais sentimentos que nos afeta é o medo. Este terrível tirano que nos desvia da reflexão crítica, nos encaminhando para as amarras da obscuridade e da violência. O sentimento de medo que nos faz entregar a estruturas e indivíduos nos quais depositamos exatamente o que a reflexão crítica nos desafia a fazer: pensar e agir por nós mesmos. 

O medo nos cega para a diversidade. Nos leva a odiar o diferente. O medo nos atordoa e confunde. Nos leva à ignorância sobre o que devemos saber e conhecer, mas nos levando apenas a obedecer e acomodar. Emudece a crítica e o debate, abrindo espaço para a truculência e para um pensamento único que não quer reflexão crítica, mas simplesmente obediência e total entrega da autonomia. Por causa do medo, atrocidades foram e ainda são cometidas. Em suma, o medo sempre foi e ainda é utilizado como instrumento de captura de liberdades, além de ser racionalizado para exploração e objetivo de ambições políticas e econômicas que não prezam pelas vidas, mas que de vários modos produzem a morte.     

 

Autor: *Rogério Luis da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo. Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Bildung (IFPR)


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