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Red: Crescer é uma Fera


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 17/03/2022
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Já faz tempo que animação deixou de ser coisa de criança. Um dos grandes responsáveis por isso, com certeza, são os estúdios da Pixar, em parceria com a todo-poderosa Disney. Desde os anos 1990 eles estão inovando por meio da arte de contar histórias utilizando figuras animadas, tanto que ditaram a estética das animações no novo milênio, impondo de maneira quase ditatorial a computação gráfica. Algo que praticamente enterrou o bom, velho e amado jeito de fazer desenhos em 2D. Na última semana a Pixar e a Disney entregaram ao público seu mais recente filme, disponibilizado diretamente na sala de casa por meio do streaming Disney Plus. A obra surpreendeu muita gente com uma história bem interessante e nostálgica. Red: Crescer é uma Fera é o tema da Coluna dessa semana.

Eu sempre fui fã de animações e, na mesma medida, sempre tive um certo apreço pelas obras da Pixar. Criatividade, inovação e qualidade somados a uma alta dose de emoção fizeram de seus filmes experiências memoráveis, que encantaram jovens e adultos. Com certeza o fato de muitos adultos de hoje terem crescido acompanhando a trama da franquia Toy Story contribuiu bastante para isso, mas não é só isso, as histórias, o roteiro e as poderosas metáforas apresentadas em seus filmes também colaboraram para que a experiência de cada faixa etária do público fosse única.

Os dois últimos filmes desse estúdio seguiram um padrão inusitado. Tanto Soul quanto Luca traziam como tema central a mudança corpórea em situações diferentes. Uma mais sobrenatural e outra mais mágica, elas colaboraram no desenvolvimento do status quo dos protagonistas de cada filme, mas isso não se dava de forma natural, biológica, humana. Agora, talvez para fechar a trilogia, a Pixar lança mão mais uma vez do recurso da transformação, mas faz isso como uma inusitada metáfora para a transformação mais radical, natural e comum que os seres humanos podem enfrentar, a adolescência.

A diretora Domee Shi, anteriormente premiada com o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação por Bao (caso não se recorde, Bao é aquela animação lançada juntamente com o filme Os Incríveis 2 e que trazia a história de uma mãe solitária que vê um bolinho de massa ganhar vida e o cria como se fosse seu filho), assumiu o comando dessa animação repleta de diversidade e referências.

Domee Shi, além de dirigir o filme, colaborou no roteiro que foi construído com a ajuda de Julia Cho e Sarah Streicher. Muito do que a história desse filme quer contar tem base na própria experiência de vida da diretora. Por isso, ambientar o filme em 2002 e em Toronto no Canadá é uma forma de escrever e contar algo que ela mesma viveu, pois no ano de 2002 Domee Shi tinha 13 anos, era de ascendência chinesa e morava em Toronto, no Canadá.

Suas experiências e preferências não permeiam apenas a trama, mas vão além e ditam muito do que é a estética apresentada no filme. Diferente de animações mais realistas da Disney, como, por exemplo, Raya e o Último Dragão, Red: Crescer é uma Fera vai buscar nos animes, tão populares e conhecidos como ícones da cultura oriental, a sua grande inspiração para o filme. Facilmente o espectador irá perceber os olhos grandes, as reações hilárias e exageradas, ou mesmo a presença de um Kaiju (palavra japonesa que quer dizer monstro e faz referência aos monstros gigantes, comuns nas animações e seriados desse país) ao longo do filme. Para mais, outro elemento que merece destaque é a boy band 4 Town, no melhor estilo Backstreet Boys, a presença deles favorece muito o andamento da trama e reconstrói muito bem o clima do início do segundo milênio, quando esse tipo de música fazia a cabeçada dos adolescente e jovens em geral.

Dito tudo isso, é hora de falar do ponto central do filme! Red: Crescer é uma Fera pode ser visto e agradar tranquilamente as crianças, mas, a meu ver, quem mais irá se conectar com a protagonista são os adolescentes, os jovens e os adultos. Isso ocorre porque as crianças ainda não serão capazes de compreender toda a situação de transformação que a protagonista está vivendo ao deixar a infância e entrar na puberdade. Por outro lado, quem já passou pela situação saberá muito bem o que é dormir e de repente acordar grande, peludo e fedido (palavras da própria protagonista risos). É claro que isso não é explícito, vem disfarçado pela grande metáfora do panda-vermelho ao qual Meilin se transforma.

Interessante que até mesmo a cor vermelha, red em inglês, que dá nome ao título, por si só já é uma grande metáfora para o ato de menstruar, que por meio de uma abordagem leve e divertida será a causa de grande vergonha para Meilin. Algo natural, comum para todas as mulheres em determinado momento da vida, mas ainda visto como tabu na sociedade e principalmente nas animações. Isso demonstra o quanto Red: Crescer é uma Fera é  um filme corajoso. A presença dos hormônios em fúria, típicos da adolescência, também está presente e pode ser percebida no momento em que Meilin, que até então não via nada demais no atendente do mercadinho, de repente se percebe incontrolavelmente atraída pelo garoto. Vamos à trama!

Meilin é uma garota oriental que vive em Toronto e trabalha junto com sua família num templo local. Quando começa a deixar a infância e se tornar pré-adolescente, descobre que as mulheres de sua família têm o estranho dom de se tornarem pandas-vermelhos gigantes quando mudam de humor. Agora, Meilin precisará conciliar a busca por se livrar de sua “maldição” juntamente com a necessidade de continuar atendendo as expectativas da mãe, levar uma vida normal com as amigas, enfrentar os desafios da escola e ainda participar da única apresentação de seus grandes ídolos na cidade.

Por que ver esse filme? Por mais que a trama pereça simples, ela é complexa na medida que toca questões muito humanas e difíceis para todos, como, por exemplo, o choque de gerações. Ao tratar a jornada de crescimento e amadurecimento humano de forma fantástica, a diretora permite a todos, homens e mulheres, revisitarem sua adolescência e perceberem o quanto os hormônios e a impulsividade foram capazes de quebrar laços ou gerar distanciamentos. Ao final, o filme destaca o que realmente importa na vida, a família e os amigos. Uma história muito agradável, regada com música pop de qualidade no melhor estilo anos 2000 e muita emoção. Divirta-se com Red: Crescer é uma Fera e boa sessão!

Assista ao trailer

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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