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“Quanto vale um professor?”, de Celso Antunes


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 13/03/2025
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Quando iniciei à docência como professor efetivo, em janeiro de 2011, tendo de assumir a responsabilidade de conduzir a aprendizagem de diversos alunos, em diversas séries, a nova vida me assustou, deixando-me ansioso. Eu tinha 22 anos. Perdi cinco quilos em uma semana. Tudo o que eu havia aprendido até então não dava conta dos desafios da sala de aula - e desconfio que mesmo a formação acadêmica mais sólida ainda assim não dará conta. Porém, é certo que uma formação teórica sólida, com exemplos extraídos da vida real, ajuda a pessoa a lidar com o complexo ofício chamado magistério.

Tendo as ideias acima sempre em meu horizonte, hoje, tanto como professor do ensino médio, como formador de professores, eu busco unir a teoria com a prática, seja tornando minhas salas e meus alunos laboratórios, seja escrevendo textos que busquem respondem às demandas da minha profissão. Fruto dessas preocupações escrevi os livros “Diário de um Docente: 2019-2021”, “Por trás da banca: experiências de um elaborador de concursos” e “O plano de aula e a prova didática”. E, além desses livros, procuro colecionar em minha biblioteca obras que considero úteis para a prática profissional, e sempre as indico aos meus alunos. São elas:

1.    “Didática Magna”, Comenius;

2.    “Caro professor Germain”, Albert Camus.

3.    “Crônicas de Educação”, Cecília Meireles.

4.    “Pedagogia da autonomia”, Paulo Freire.

5.    “A cabeça bem-feita”, Edgar Morin.

6.    “Didática”, José Carlos Libâneo.

7.    “Avaliação da aprendizagem escolar”, Cipriano Carlos Luckesi.

8.    “Diário de Escola”, Pennac.

9.    “Em defesa da escola: uma questão pública”, Jan Masschelein e Maarten Simons.

10.                   “Conversas com um jovem professor”, Leandro Karnal.

Com a leitura dessas obras, que versam sobre didática, sobre avaliação e sobre o amor à educação, o professor terá mais ferramentas e fundamentos para enriquecer o seu trabalho. Eu diria que esses livros não pertencem a um único grupo de saberes, como as Ciências Humanas, mas são de domínio universal. Junto a essas obras, é possível recomendar o livro “Quando vale um professor?”, de Celso Antunes, que, por meio de 72 capítulos curtos e com linguagem acessível, fornece exemplos valiosos de profissionais da educação que ele, Antunes, experiente professor, conheceu ao longo de sua jornada. Eis alguns capítulos: “4. Professor Castor – A metáfora admirável de quem relacionava os conteúdos conceituais que mostrava ao entorno de seus alunos; (...) 10. Juliana & Rubens – Educação e Medicina temperadas pela paixão; (...) 22. Os alunos “burros” de Dona Nadir – Serve para a vida o que na escola se aprende?; (...) 52. Glória – Extraordinária professora, grande avaliadora do progresso de seus alunos”.

A sensação, ao ler o livro, é a de um romance, pois o autor estabelece diálogos com os personagens que envolvem o leitor. Entretanto, é como dizia Camus, “Se você quiser filosofar, escreva romances”, ou, no caso de Antunes, se você quiser educar que se atente à vida. Para quem está em início de carreira, ou mesmo para o professor experiente, “Quanto vale um professor?” ajuda-o em sua prática, para que ela não se torne repetitiva e carente de reflexão, mas, cheia de cores.

O livro traz não só exemplos tirados de professores, mas, vai além, pois agrega um oceano de personagens que, de alguma forma, ensinam – e ensinam muito. É o caso de inspetores, como Anninha (capítulo 19), diretores, como Alexandre (capítulo 13) e de seu cachorrinho de infância, Negus (capítulo 42 – que belo capítulo!). Ainda, é o caso de uma médica, chamada Doutora Magali, que vale trazer o seu modo de avaliar os pacientes:

“Em seu trabalho, Magali tem sempre (1) uma meta prioritária, um foco irrestrito, que é a permanente busca da saúde de seu paciente, mesmo que saiba que existem casos muito difíceis. Para que esse princípio se concretize, Magali sabe que necessita (2) acompanhar com apurado cuidado o progresso de cada paciente, em cada dia e, quando necessário, em cada minuto. Ao exercer esse acompanhamento, Magali (3) avalia muito, avalia sempre, avalia para perceber distância entre o estado do paciente e sua saúde completa. Em seu trabalho de avaliação serena, firme e persistente, Magali percebe se as ações e remédios que ministrou (4) estão surtindo efeito, não hesitando em mudar as ações e trocar o remédio em caso negativo. Para que sua avaliação e eventual mudança de rota sejam viáveis, a doutora (5) estuda muito, estuda sempre, jamais se deitando à noite sem, pelo menos, alguma coisa nova ter acrescentado aos seus já bons conhecimentos. Doutora Magali recebe a todos com sorriso e em todos acende a esperança da cura, mas sabe que jamais existem dois pacientes iguais e que, portanto, (6) todos podem melhorar, ainda que de maneira e em tempo diferentes. Médica simples, mas extraordinária, Doutora Magali percebe seu paciente com (7) visão holística e, por isso, ao lado de remédios, não se esquece de conselhos sobre higiene, alimentação e qualidade de vida. Magali, pediatra do único hospital de sua cidade, deveria por sua ação ser modelo e paradigma para todas as professoras municipais.” (ANTUNES, 2011, p. 22).

O que se encontra em “Quanto vale um professor?” é um panorama do que é e do que não é a educação. Do que é: Antunes traz educadores que podem servir de baliza para o magistério. Do que não é: também há profissionais que são um desfavor à educação, como é o caso da diretora Elvira (capítulo 63) e da professora Nadir (capítulo 26).

Por fim, é possível uma formação ou um livro que deem conta da vida como um todo? Por certo que não, porém, há formações e formações, livros e livros, que certamente contribuem para um magistério mais simples, amoroso e complexo. Complexo, aqui, no sentido de plural, de que não é possível enxergar o mundo sob um único viés.

Celso Antunes. Quanto vale um professor: reais ou imaginários, alguns imprescindíveis, outros nem tanto. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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