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Qual a Relação entre alteridade e Educação na atualidade?


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 13/03/2023
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O título desta nova exposição de ideias aparece formulado como uma questão, pois trago para a nossa discussão e reflexão, a ideia praticamente indubitável de que a educação já foi e de certo modo ainda é pensada e objetivada, enquanto a dimensão  mantenedora, criadora e principalmente reprodutora do Humanismo, além de promotora do desenvolvimento das habilidades intelectuais no campo das Ciências e da criatividade nas práticas das Artes. Ressalte-se  que a Educação também apresenta a função de construir as bases da sociabilidade das relações construídas no convívio social cotidiano. Em nossa atualidade, parece extremamente utópico e soa até ingênuo, resgatar o sentido de uma práxis de educação humanista, para além de formulações teóricas, visando fazer do humano, algo distinto de meras essências abstratas, livrá-lo dos conceitos fundados no anonimato do ser e formar indivíduos mais humanizados e menos coisificados.

Contudo, em nome de determinados humanismos, guerras e destruição de vidas foram perpetuadas e assim continuam, como no atual conflito Rússia x Ucrânia. Em nome de princípios e ideais humanistas, alicerçando a barbárie ideológica e política, promoveram-se massacres e genocídios. Neste ponto, penso que a Filosofia e a Educação, podem se aliar e assim atuarem como forma de desmistificar as formulações enganosas e completamente equivocadas dos humanismos que não conseguiram impedir e não impedem, e que inclusive motivaram e motivam, o extermínio de vidas e a perda do sentido do humano.

Para refletir rapidamente a respeito das considerações expostas acima, destaco os esforços presentes da filosofia de Emmanuel Levinas, propondo uma nova orientação para o fazer teórico, a ação moral e as práticas educacionais. Este pensador, foca primordialmente a relação de conhecimento-saber, enquanto uma forma de relação do “mesmo ou do eu com o outro”. O outro que é sempre reduzida ao mesmo, tolhido de sua condição de alteridade. Nesta situação, acontece necessariamente a objetivação do outro e sua redução ao mesmo, identificador e nivelador de toda diferença, onde na maior parte dos casos, promove-se e perpetua-se inclusive o ódio a outro.

O que Levinas nos indica é que o outro é radicalmente diferente em relação a mim e aos outros e, portanto, não pode ser objetificado, a não ser numa envergadura violenta, ou no estabelecimento de uma relação de poder, marcada pela dominação. Infelizmente, estas são situações muito comuns na relação docente/discente, onde de alguma forma o docente objetificado pela estrutura social, atua objetificando o discente, incapaz de reconhecer sua alteridade. Essa forma de relação não considera o existir humano e as relações inter-humanas, causando danos impactantes em termos práticos e éticos.

Levinas recusa que o outro/alteridade seja constituído pelo eu/mesmo. É, portanto, na possibilidade de uma relação com o outro, que o eu passa a se constituir como humano.  O outro se apresenta então, como alguém que tem a sua própria identidade, e não a identidade construída pelo eu cognitivo ou dominante. Agora ele aparece na condição de um convite ao estabelecimento de uma relação social e não como um objeto. Assim sendo, a alteridade possui o valor pedagógico de nos desafiar a rever, criticar e defender um outro modo de ensino, fundado no acolhimento ao estrangeiro e na abertura ao ensinamento proveniente da alteridade, como condição ético-crítica do saber e responsabilidade na construção de humanos mais responsáveis pelo respeito à diversidade e as diferentes formas de existência no mundo que só se abre como tema na medida em que reconhecemos que o Outro é sinônimo de Maestria. Neste aspecto, o princípio de toda orientação pedagógica-ética vem do outro. Citando Levinas: “Só o absolutamente estranho nos pode instruir” (2000, p. 60).

LEVINAS, E. Totalidade e infinito: ensaio sobre a exterioridade. Trad. José Pinto Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 2000.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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