Os livros e o futuro (presente)
Costumo dizer que os melhores comentários sobre os meus livros, especialmente os de poesia, vêm da minha avó materna:
“- Eu gosto de ler os seus livros porque não têm letras pra lá e pra cá. Rapidinho eu consigo ler tudo. E as figuras ajudam também.”
Quando ouvi isso da minha vó pela primeira vez, eu apenas ri. Na verdade, dei uma gargalhada. Porém, depois comecei a refletir que a fala dela tinha sentido, apesar da poesia poder expressar pensamentos profundos assim como um teorema ou um sistema filosófico.
Ainda que a minha avó não seja uma mulher envolvida demais pela sociedade da informação, em sua face tecnológica – ela aprendeu a mexer no celular só em 2020 -, um livro deve estar além do texto pelo texto. Para deixar essa ideia clara: um livro não pode ser monocromático, ele deve estar além do monocromatismo, pois isso cansa.
Não são poucas as pessoas que olham para uma obra e ao verem as trezentas páginas sentem um enfado. Com isso estou a dizer que Kant não deve mais ser lido? Claro que não. Kant continuará lido daqui a quinhentos, a mil anos. Mas, o que custa escritores do século XXI terem um pouco de cuidado com a parte estética, trazerem uma ou outra pintura ou fotografia ao livro? E o que custa sintetizar um trabalho de trezentas páginas em cento e cinquenta? Às vezes isso é difícil – em alguns casos, impossível -, mas esse é um exercício importante, pois, além de formar uma escrita mais limpa, forma também uma leitura mais célere e suave. Mesmo a pessoa mais dada à leitura não consegue, por diversos fatores (trabalhos, em especial), se dedicar a longos períodos de leitura. Querendo ou não, o século XXI, no que tange a leituras, é diferente dos séculos XVIII e XIX.
O escritor precisa estar atento ao fato de que o século XXI é permeado por imagens e pela virtualidade, sendo que estas, complexamente, contam mais do que as palavras. É tudo muito visual e o virtual se torna cada vez mais real. Não há como contornar: um livro precisa cuidar da parte do prazer, pois ele concorre com inúmeros outros objetos, e se for intragável será deixado de lado. Um livro pode até cansar o leitor, mas nem por isso deve ser enfadonho.
Como tudo merece exemplificações, para que o que estou trazendo nesse artigo também é preciso. Em 2020, o professor Clademir Luis Araldi lançou o livro “Nietzsche, Foucault e a Arte de Viver”. Trata-se de um livro de 127 páginas, composto de oito capítulos, sendo estes curtos e com subtítulos a cada duas ou três páginas, o que facilita a leitura. Mas, e a aqui se encontra o aspecto que mais gostei na obra: ela é repleta de imagens, ora dos filósofos mencionados, ora de lugares marcantes nas vidas dos filósofos analisados. O capricho à parte do professor Araldi é que várias fotos são de sua autoria, o que traz um caráter intimista à obra.
O exercício feito pelo citado professor não é simples, sendo que um texto claro como o por ele criado é fruto de longos anos de prática. Assim, o resultado é um trabalho que foge aos padrões da academia, mas que em nada perde em conteúdo. É esse o espírito que busco incentivar neste texto. Tarefa difícil a que proponho? Sem dúvida, mas que merece ser instigada.
Clademir Luiz Araldi. Nietzsche, Foucault e a Arte de Viver. Pelotas: NEPFIL Online, 2020.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.